domingo, 1 de março de 2015

No Olho do Furacão

Por mais que tentemos nos focar exclusivamente nos assuntos pertinentes ao BB, à CASSI e à PREVI, que é de onde o pessoal da ativa, os aposentados e as pensionistas  usufruem de  seus  rendimentos e tem sua assistência médica, não podemos deixar de nos centrar na situação caótica  da Petrobrás.
Tudo o que está acontecendo na Petrobrás atinge diretamente os fundos de investimento e os fundos de pensão – aí incluída a PREVI -  que estão expostos às empresas do setor de óleo e gás e de construção.
A Agência de Classificação de Riscos Moody’s, em 24.02.2015,  baixou a nota da Petrobrás de Baa3 ((grau de investimento) para Ba2 (grau especulativo).
Isso implica dizer que a Petrobrás não é mais considerada uma empresa segura para os investidores, e apresenta o risco de não pagar as dívidas, segundo a agência.
Esta revisão em baixa deverá causar a retirada de investimentos.
Para que se tenha uma ideia dos montantes avaliados pelas agências de classificação de riscos e do que representa para qualquer empresa o seu nível de avaliação , citamos que a faixa de grau de investimento abrange 15 trilhões de dólares e a especulativa cobre 1,5 trilhão de dólares.
Ademais, e como consequência de todo esse processo de desconstrução da Petrobrás, as empresas do setor de óleo e gás e de construção ligadas a projetos para a Petrobrás não estão conseguindo mais obter  empréstimos para capital de giro  junto aos bancos.
A nota da Petrobrás, face à situação caótica em que se encontra, já havia sido rebaixada anteriormente mas sempre no grau de investimento.
O maior risco que corremos agora é que o próprio país tenha a sua nota rebaixada. Ainda contamos com uma nota de classificação de investimento.
Apesar de toda essa perspectiva negativa, temos certeza de que o Brasil conseguirá vencer todos os problemas com os quais se defronta e sairá transformado após passar por essa barreira de choque.
Ontem (dia 28.02.2014) assistimos ao  Programa Painel, da Globo News dirigido pelo jornalista William Waack, que contou com os economistas Alexandre Schwartsman, Zaina Latif e o consultor e economista Raul Velloso. De todas as excelentes intervenções, destacamos a observação final do economista Raul Velloso,  que disse que, “após a catarse que o país passará com o processo do petrolão e que causará uma profunda reestruturação em nosso universo político e econômico”,  o povo brasileiro pode ter a certeza de que, após os impactos por que passaremos, a corrupção será extirpada e a condução dos negócios no país passará a seguir  rígidas  regras éticas e terá  o estrito acompanhamento da justiça.
Como leitor assíduo da coluna da  jornalista Miriam Leitão, no jornal O Globo, repasso aos leitores dois artigos que abordam de forma abrangente e objetiva a situação pela qual passa a Petrobrás e seus reflexos na economia do país.  

Adaí  Rosembak
Associado da AAFBB, ANABB, AFABB-RS e ANAPLAB  

Zona de turbulência – 01.03.2015
A crise da Petrobras terá um impacto enorme na economia. Já está tendo. Que ninguém culpe a Operação Lava-Jato. Ela é a chance de o Brasil criar um outro ambiente de negócios no país. Os fundos de investimento e os fundos de pensão estão expostos às empresas do setor de óleo e gás e de construção. Bancos terão que fazer provisões, e empresas podem quebrar.
Conversei com empresários que estão avaliando as repercussões da trombada da Petrobras e do caso Lava-Jato na economia. Entrevistei na Globonews dois economistas sobre o assunto. Não há dúvidas de que as consequências serão fortes e já estão criando dilemas complexos. Bancos públicos, como o BNDES, estão fazendo mais exigências para emprestar.
Algumas das empresas citadas ou envolvidas na Lava-Jato já estavam com dificuldades antes, mas agora, sem fornecer para a Petrobras ou tendo dificuldade de empréstimos de capital de giro, podem quebrar.
— Se existe uma coisa que uma empresa de construção não aguenta é ficar sem capital de giro. Obra exige isso. Algumas estão vendendo ativos, mas nem o juiz do Paraná pode dizer hoje quanto tempo tudo isso vai durar. Algumas não vão sobreviver — lembra o economista Cláudio Frischtak, da Inter.B Consultoria.
Frischtak, no entanto, deixa claro que a operação é uma oportunidade:
— Está ocorrendo uma operação Mãos Limpas e ao mesmo tempo há uma nova legislação dura de combate à corrupção corporativa. Nós aprofundamos a investigação ou não? Não temos escolha. A indústria de construção aqui e em outros países é a que mais tem problemas de corrupção. Aqui, houve exacerbação. O momento cria uma oportunidade de haver um outro ambiente de negócios no Brasil com as empresas se comprometendo com um código de conduta duro. O governo, por seu lado, também tem que assumir esse padrão.
O economista Álvaro Bandeira, da Órama Investimentos, acha que o setor de óleo e gás sofrerá um forte baque e prevê demissões em massa, empresas em recuperação judicial e firmas indo embora do Brasil. Acha que, ao final, o país terá ganhos:
— A Petrobras sairá uma nova empresa. Será menor, porque terá que desinvestir para reduzir o endividamento. Agora, terá que ser uma empresa sem loteamento, com gestão e governança profissionais.
Frischtak, no entanto, diz que é preciso deixar algo muito claro:
— A Petrobras não vai quebrar. Se precisar, o Tesouro fará capitalização, mas é preciso que muita coisa boa aconteça dentro da companhia para ela voltar a ser uma opção de investimento. O governo não pode mais errar. Houve uma sequência de erros inacreditável na empresa, como investimentos errados. O governo disse para a companhia: invista nisso que eu quero, eu vou controlar seus preços arrebentando seu caixa e você se endivide. Não há santo que aguente.
A solução, segundo Frischtak, é o governo ficar minoritário no conselho, como acontece em muitas estatais do mundo do petróleo que têm administração profissional.
No mercado financeiro, segundo Álvaro, o impacto será nos fundos de derivativos de antecipação de receitas, ou de certificados de direitos imobiliários, nos fundos de ação da Petrobras, das empresas envolvidas e dos vários parceiros.
— Ativos serão depreciados e terão que fazer marcação a mercado e assumir perdas — prevê Bandeira.
Nada disso é provocado pela Operação Lava-Jato. No máximo se pode dizer que ela precipitou uma situação que veio sendo criada em duas frentes. Intervenções dos governos petistas na Petrobras que a levaram ao alto endividamento, com um caixa amarrado pelos preços defasados. E pela corrupção, em si, que se ramificou pelos negócios da empresa. O rebaixamento cria um problema a mais, que pode ser quantificado.
— No mercado de empresas de grau de investimento circulam US$ 15 trilhões, e no mercado de empresas de grau especulativo circulam de US$ 1,5 trilhão a US$ 2 trilhões. A Petrobras está saindo desse primeiro mercado de crédito para o segundo, muito mais restrito e mais caro — disse Álvaro Bandeira.
Há empresas líquidas e fortes, a Petrobras continua com todos os méritos e ativos que tem. Elas passarão pela turbulência, mas, como disse Frischtak, o governo não pode mais errar.

Lenta desconstrução – 26.02.2015
Não foi um evento isolado, nem um engano. A Petrobras começou há muito tempo a caminhada para a perda do grau de investimento. Foi o resultado de vários erros cometidos pelo governo. Investimentos impostos pelo Planalto, nomeações políticas, preços populistas, propinas, descuidos. O PT achou que a empresa era dele. Ainda acha. A empresa é do Brasil.
O governo agora pode culpar o mensageiro. É bem do seu feitio. As agências erram muito, já erraram no passado, e, se forem criticadas, há razões. Mas uma análise sincera encontrará o quanto o governo foi insensato na condução da empresa.
Abriu inúmeras frentes de trabalho pelas exigências mais disparatadas. Uma refinaria no Maranhão, outra no Ceará. Mais uma no Rio. E a de Pernambuco? Melhor ainda, porque seria para que o “companheiro” Hugo Chávez tivesse alternativa para vender seu petróleo.
O fluxo de caixa não é problema. A Petrobras pode comprar gasolina e diesel a um preço e vender mais baixo. Quantas vezes ouvimos José Sérgio Gabrielli dizer que não repassaria a “volatilidade”. Lorota. Era uma forma de manipular o preço, evitar que a inflação, sempre no teto, estourasse a meta. Era a certeza de que o caixa da empresa era elástico. Quando Graça Foster assumiu, ela deixou claro inúmeras vezes que o preço estava errado, mas foi obrigada a engolir a sandice de subsidiar combustível fóssil. Se tivesse tido uma política realista de preços, a empresa teria o indicador melhor na comparação entre endividamento e geração de caixa. Se tivesse sido realista nos vários anos em que ficou artificialmente baixo, agora os preços poderiam cair. Isso daria um alívio à inflação, ao país, aos caminhoneiros que estão parando a estrada.
Os funcionários alertaram que acima de um determinado custo a refinaria Abreu e Lima seria inviável, jamais se pagaria. Fizeram relatórios internos. Nada foi olhado. E os custos dispararam de US$ 2,5 para US$ 18 bilhões. Os companheiros venezuelanos roeram a corda e deixaram o mico com o Brasil. A obra continuou.
Rodadas de licitação de petróleo foram suspensas porque tinham que mudar o modelo de exploração para que a Petrobras fosse dona de 30% de cada campo de petróleo. E para tudo isso a empresa foi se endividando. Houve alertas. Mas eram coisa de pessimistas, disseram. Chegou ao ponto em que a ANP terá que adiar a próxima rodada, porque a Petrobras não cumpre a exigência do balanço auditado.
E, além de tudo, houve o roubo. Em larga escala, disseminado pelos vários negócios. E isso colocou a empresa na pior era de incerteza da sua vida. A Petrobras ficou endividada, sem balanço, com projetos excessivos e de rentabilidade duvidosa. Perdeu valor de mercado. A dívida cresceu exponencialmente e passou a frequentar as páginas dos escândalos político-policiais.
O rebaixamento tem efeito concreto. A empresa sai do portfólio dos melhores investidores, os fundos de pensão do mundo inteiro. Os reguladores dos países impedem que os fundos invistam em empresas de grau especulativo. O crédito será mais caro, se for captado. A empresa terá que cortar mais investimento porque precisará financiá-los com seu caixa.
E inúmeros efeitos começam a se espalhar pela economia. Falando só de um: a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) ontem deu entrevista em que calculou que a paralisia da Petrobras pode levar a uma redução de investimentos da ordem de R$ 80 bilhões este ano. Há projetos cancelados, como as duas refinarias, e os efeitos da operação Lava-Jato, que têm travado contratos de empreiteiras não só com a Petrobras, mas também em empréstimos com o BNDES, afetando o fluxo de caixa das empresas e, consequentemente, as encomendas.
— Aí a empresa vai ao banco e encontra também uma conjuntura ruim. Com crédito mais restrito e juros mais altos. Quem tem grande participação do setor de óleo e gás na sua carteira pode acabar cancelando encomendas e projetos de outros setores, por ficar sem caixa. Há um efeito cascata — explicou o diretor de competitividade da Abimaq, Mário Bernardini.
A Abimaq projeta queda da taxa de investimento de 18% para 16% do PIB este ano, e uma retração da economia entre 1% e 2%.

Diante dessa coleção de incertezas e efeitos negativos de decisões insensatas do governo, o rebaixamento era esperado. Mas, quando chegou, doeu.

8 comentários:

  1. Sérgio Roberto Costa de Castro2 de março de 2015 às 09:19

    Caro colega. Não nos conhecemos mas a remessa não pedida de suas mensagens ao meu endereço eletrônico fazem com que eu me permita a dizer: para tanta partidarismo e suposições catastróficas nem precisamos de 'blogs'. Basta a dose diária instilada pela Rede Globo. abraços sergio castro

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    1. Caro Sérgio Roberto Costa de Castro,

      Até concordo que muitos sejam partidários fanáticos de um lado ou do outro.
      Não é o meu caso.
      Não é preciso ser do PMDB, do PSDB ou do DEM ou, até mesmo do PT, para ver o estrago que foi feito no primeiro governo da Dilma.
      Já que a Dilma foi reeleita cabe a ela limpar a melança que fez.
      O problema é que quem vai pagar ( e pagar caro) por essa limpeza somos nós, o povão, sejamos partidários de qualquer partido.
      O PT pelo seu ministro Guido Mantega conseguiu deixar a Petrobrás do jeito que ela está hoje com a política de comprar o óleo caro no exterior para vender mais barato no mercado interno.
      Fora isso, os nomeados pelo PT roubaram até não mais poder.
      E cada afiliado político exigiu uma refinaria em seus estados que sempre iria dar prejuízo para a Petrobrás.
      E os contratos paralelos, refinaria sucateada nos USA, refinaria para o compadre Hugo Chavez, etc, etc.
      Nós merecemos.
      É a nossa sina por sermos tão burros e obedecermos fielmente à `' poderosa e infalível rainha Dilma".
      Mas agora teremos de pagar.
      Eu, você e todos os demais brasileiros sejam de que partido forem.
      E lhe digo mais: se o Levy sair estaremos fud...
      Isso tudo não é suposição catastrófica. São fatos.
      Um abraço

      Adaí Rosembak

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  2. Colega Adaí, acho que está muito otimista - isso é bom pra você - espero até que sua crença na mudança venha a acontecer, mas, sinceramente não acredito em qualquer mudança com esses políticos pilantras que aí estão e com um Judiciário submisso aos seus interesses. Essas entrevistas influenciam o povo a ficarem anestesiados e numa eterna ilusão.

    Pedrito - Campinas-sp

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    1. Pedrito Fabis,

      Eu sei que o buraco é muito mais embaixo.
      Se puder assista os programas da Miriam Leitão de 01.03.2015 e 26.02.2015.
      É de estarrecer.
      O couro vai comer.
      É um verdadeiro tsunami que vem por aí.
      Não me importo que me chamem de terrorista. Mas preferiria ser chamado de previdente.
      Nas reportagens no O Globo Miriam Leitão foi muito limitada.
      Vamos ver aonde isso tudo vai parar.

      Um abração

      Adaí Rosembak

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  3. Permita-me parabenizá-la pelo brilhante artigo "Lenta desconstrução."
    Foi uma das melhores notas de sua lavra que já li.
    Parabéns e bola prá frente.
    Tenho o blog ADAIROSEMBAK.BLOGSPOT.COM.BR em que defendo os fundos de pensão e, em consequência os seus participantes ( na minha opinião pejoramente chamados de beneficiários) e pensionistas.
    Pergunto se posso republicar em parte ou integralmente seus artigos. Óbvio citando a fonte e a autora.

    Um abração

    Adaí Rosembak

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    1. ---------- Mensagem encaminhada ----------
      De: Miriam Leitão
      Data: 2 de março de 2015 15:40
      Assunto: Re: Lenta Desconstrução.
      Para: Paneco - OGlobo


      Adaí

      Obrigada. Agradeço muito sua avaliação.
      Pode sim publicar, mas o Globo realmente exige que coloque “publicado originalmente no Globo”.
      Um abraço
      miriam

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  4. Sérgio Pires Ferreira5 de março de 2015 às 19:27

    Adai,
    NãO SEI SE VOCÊ VAI AO ENCONTRO DE REPRESENTANTES EM XERÉM, NOS DIAS 10, 11 E 12 DE MARÇO, DA AAFBB.
    O DIRETOR MARÇAL DA PREVI VAI E VOU PERGUNTAR-LHE SOBRE O IMPACTO DA QUEDA DAS AÇÕES DA PETROBRÁS NO PATRIMÔNIO DA PREVI.ABRS. SERGIO PIRES FERREIRA

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    1. Caro Sérgio Pires Ferreira,

      Não comparecerei por dois motivos: 1) não sou representante da AAFBB; sou apenas associado. 2) estou com alguns problemas de ordem pessoal e , mesmo que fosse representante, não poderia confirmar minha presença.
      Fico grato pelos seus comentários. São todos muito bem fundamentados e não são agressivos.
      Sempre procuro publicar todos os comentários mas tem alguns que citam palavras de baixo calão e ofensas pessoais. Não é por aí que se discutem os assuntos abordados neste blog.
      Por isso eu o parabenizo. São comentários de alto nível.

      Um abração

      Adaí Rosembak

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