domingo, 3 de maio de 2015

Uma visita ao Império do Centro - II

Em complementação ao  artigo “Uma visita ao Império do Centro”, de 05.04.2015,neste blog,   reproduzo adiante a admirável nota “Fim de uma era”, de Paulo Nogueira Batista Júnior, publicada no O Globo, edição de 01.05.2015.
O articulista Paulo Nogueira Batista Jr. expõe, de forma resumida porém muito objetiva, a atual projeção  da China, da Índia e da Ásia de forma geral, no mundo contemporâneo.
É uma leitura que ,certamente , agradará  aos leitores  interessados no tema China bem como a estudiosos do papel daquele país no cenário  internacional.
Adaí  Rosembak
Associado da AAFBB, ANABB, AFABB-RS e ANAPLAB
Fim de uma era
Escrevo da China, onde estou para apresentar conferência no Instituto de Finanças de Xangai sobre os BRICS e a governança econômica global.  Xangai faz jus à fama que tem. É uma cidade realmente impressionante, leitor. Deixa Nova York para trás. Manhattan é século 20; Xangai, século 21. A imponência do centro financeiro de Xangai, no distrito de Pudong, é talvez o sinal mais marcante do poderio crescente da China.
Por suposto, a China é ainda um país em desenvolvimento – e isso se nota claramente mesmo naquela que é a sua maior e mais dinâmica cidade. Falta muito para que o país alcance o nível de desenvolvimento dos EUA ou da Europa.
E, no entanto, acumulam-se os sinais de que estamos chegando ao fim de uma era: o dinamismo econômico e o poder político se deslocam mais e mais para esta parte do mundo. O Ocidente resiste a reconhecê-lo, luta para manter a sua preeminência e lança mão dos seus inúmeros recursos políticos, econômicos e culturais para retardar o processo. Mas o eixo do poder global está mudando. Cresce o peso relativo dos países de economia emergente – e entre estes se destacam os asiáticos, notadamente a China e a Índia.
China e Índia são civilizações milenares, mais antigas e mais sofisticadas do que a civilização ocidental. Da China já se disse que ela é “uma civilização se fazendo passar por Estado-nação”. Essas duas civilizações milenares sofreram o impacto devastador do imperialismo ocidental – a Índia no século 18, a China, no século 19. Toda a sua sofisticação, sutileza e riqueza material e cultural não as prepararam para a investida dos “bárbaros europeus” – a Inglaterra à frente. Particularmente depois da Revolução Industrial, abriu-se uma vantagem tecnológica a militar que deu condições para que a Europa e, depois, os EUA passassem a dar as cartas em todos os cantos do planeta.
Da ótica de uma civilização milenar como a China, a era da hegemonia do Ocidente foi um intervalo relativamente curto – com apogeu entre meados do século 19 e o final do século 20.
Passou. Foi um verdadeiro pesadelo – para a China, assim como para boa parte do mundo. Na história chinesa, os cem anos entre a Guerra do Ópio e o fim da Segunda Guerra Mundial foram  uma longa e humilhante provação, cujas marcas persistem até hoje. Mas a China sobreviveu à intensa turbulência e a sua ascensão na segunda metade do século 20 e, sobretudo, nas décadas recentes pode ser vista como um processo pelo qual o país retomou, com sucesso, a posição que perdeu em meados do século 19: a de grande potência, capaz de atuar com orgulho e independência, sem se sujeitar a interferências e interesses estrangeiros.
Com uma diferença   importante, porém. A China imperial era introvertida e não atuava além das suas fronteiras e da sua periferia imediata no Leste da Ásia. A China de hoje, para desespero do Ocidente, em particular dos EUA, é um ator cada vez mais global  e se faz presente em todos os cantos do planeta.

Paulo Nogueira Batista Jr. É economista e diretor-executivo pelo Brasil e mais dez países no Fundo Monetário Internacional, mas expressa os seus pontos de vista em caráter pessoal.

2 comentários:

  1. Gostei muito do artigo de Paulo Nogueira Batista Jr. Estamos, realmente, no início de uma nova era.
    Obrigado.

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    1. Caro Arildo Pacello,
      O depoimento de Paulo Nogueira Batista Júnior é muito esclarecedor.
      A propósito leia meu artigo "Uma visita ao Império do Centro".
      Sem querer desmerecer o trabalho de Paulo Nogueira Batista Júnior procurei dar uma visão mais ampla sobre o assunto.
      Só que ficou quase um livro.
      Um abração
      Adaí Rosembak

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