quinta-feira, 19 de março de 2015

A Importância da Informação

Muitos companheiros nos perguntam porque, ao invés de nos debruçarmos somente sobre assuntos inerentes  aos nossos interesses,  nos aventuramos a tecer  discussões sobre economia e política nacionais e até internacionais.
É fundamental considerarmos que não somos uma ilha. Todos os nossos problemas e interesses estão intrinsicamente ligados aos rumos da política e da economia  do país e do mundo como um todo.
Os interesses dos aposentados e pensionistas da PREVI obedecem às mesmas diretivas que regem todos os demais fundos de pensão do país.
Mas os associados da PREVI, pelo fato de terem sido bancários estão mais preparados para lidar com problemas de ordem burocrática, fiscal, contábil, legal e outros,  que são matérias inerentes ao desempenho da função bancária.
A par disso, contamos com o apoio de  grandes associações como ANABB , AAFBB, AFABBs,  e outras, que contam com dezenas de milhares de associados e que defendem nossos interesses.
Essas associações possuem sites e jornais que mantém os associados sempre atualizados com os assuntos pertinentes à classe.
Lembro-me que, quando compareci  a uma assembleia extremamente tensa do AERUS que discutia os rumos da categoria com  o interventor nomeado pelo governo, um aeroviário fez um aparte muito objetivo sobre uma das razões que levaram os beneficiários e pensionistas do AERUS àquela trágica situação. Disse ele que, como comissário de bordo, vivia literalmente no ar em relação aos  assuntos burocráticos pertinentes à sua categoria. O tempo em terra era para fazer cursos de aperfeiçoamento em sua área e  descansar para voar novamente. Pagava religiosamente suas contribuições para o fundo de pensão mas não acompanhava os assuntos relativos à sua categoria. Em suma, era um desinformado.
O mesmo acontece com beneficiários de outros fundos de pensão que prefiro omitir.
Pelas razões acima expostas é que, nas minhas notas, sempre estendo minhas considerações além dos limites de nossos exclusivos interesses, para que tenhamos uma visão global do contexto em que estamos inseridos  o que, certamente,  evitará que incorramos em erros devido à ignorância de aspectos importantes que não sejam  abordados.
Adiante transcrevo o artigo “Algum erro é dose” da jornalista Miriam Leitão , publicado na edição de 18.03.2015, do jornal O Globo. Também publico texto de mensagem encaminhada àquela articulista em que teço algumas observações sobre seu tão bem elaborado texto.
Adaí  Rosembak
Associado da AAFBB, ANABB, AFABB-RS e ANAPLAB


Cara Miriam Leitão,

Sou um leitor assíduo de sua coluna no O GLOBO.
Tenho o blog ADAIROSEMBAK.BLOGSPOT.COM.BR e, frequentemente, reproduzo suas matérias sempre citando seu nome e  o veículo O GLOBO.
Gostei muito de seu artigo “Algum erro é dose”, na edição de 18.03.2015 do O GLOBO, em que você expõe detalhadamente todo o corolário de ações catastróficas  tomadas no primeiro Governo de Dilma Rousseff.
Mas  considero que não foram  erros mas sim medidas premeditadas e meticulosamente executadas. Sim, porque erro pode ser o resultado de um gesto involuntário, de uma falha eventual sem dolo e sem qualquer objetivo pré-determinado.
Não foi o que ocorreu no primeiro período de Dilma Rousseff. Foram medidas econômicas meticulosamente planejadas e ardilosamente implementadas   com o objetivo precípuo  de inviabilizar qualquer perspectiva de sucesso da oposição na eleição que se avizinhava.
Pouco importava se, dessa forma, se comprometesse a saúde econômico-financeira do país e se incrementasse o desemprego e a miséria de seu povo.
Esse era apenas um detalhe  irrelevante   frente ao objetivo maior que era a vitória da candidata nas eleições.
Logo não é adequado dizer que houveram erros.
Foram manobras intencionais e com objetivos definidos.
Houve dolo. Foram cometidos delitos, a presidente mentiu despudoradamente  e o povo foi enganado.
Causou-me estranheza que esse aspecto   não fosse ressaltado em sua magnífica nota bem como não fosse citado o papel crucial  de Guido Mantega que foi  o grande  desestruturador da economia brasileira.
Aliás, não é só sua coluna nem somente O Globo  que não noticiam essas mazelas.
É a imprensa de forma geral.
Todo o foco da mídia debruça-se basicamente na corrupção, principalmente na Petrobrás com a operação Lava-Jato ,  que foi outro aspecto deplorável do  péssimo primeiro Governo de Dilma Rousseff.
De resto só me resta lhe parabenizar pelo oportunismo, objetividade e seriedade de seu artigo.

Adaí  Rosembak

Na economia, a presidente Dilma admitiu “algum erro de dosagem”, mas não disse de que medida falava. O descuido com a inflação levou o país ao estouro do teto da meta; os estímulos ao crescimento produziram rombo fiscal e o país parou de crescer; o populismo na energia acabou em tarifaço. Não foi “algum erro”. Foram vários. Não foi apenas a dose, o remédio estava errado.
Havia uma política econômica até a reeleição, e há outra, que começou a ser anunciada após as eleições. A segunda tem alguma chance de corrigir os efeitos deletérios da primeira. Mas o governo começa a dar sinais de que vai reduzir a dose das políticas de ajuste, admitindo, por exemplo, rever as correções da pensão por morte.
O ministro Nelson Barbosa falou, quando propôs a revisão desse item na nova política, que era necessário acabar com exageros no sistema brasileiro, já abolidos em muitos países do mundo. Mesmo assim, a viúva ou viúvo jovem não será desamparado. Se tiver 21 anos ou menos, terá três anos de pensão; se tiver de 22 a 32, terá seis anos. E assim progressivamente. A partir de 44 anos, a pensão é vitalícia. Agora, o governo está alterando essa proposta.
O governo começa a reduzir a dose das medidas que podem fazer o ajuste, mas não admite que fez uma overdose de subsídios e estímulos sem benefício algum para a economia. O Tesouro se endividou em quase R$ 500 bilhões para repassar ao BNDES, sem resultado na manutenção do crescimento. Os subsídios dados à indústria automobilística não tiveram efeito permanente. Das medidas de estímulo, a única com vantagens mais bem distribuídas pela economia foi a desoneração da folha salarial.
A equipe econômica anterior declarou ter desenvolvido uma nova atriz macroeconômica. Foi um equívoco redondo. Não era uma matriz, era a volta do mais velho dos defeitos, o governo gastar além da conta. Isso nos trouxe o resultado de sempre: a dívida bruta disparou, o déficit público ficou em nível insustentável e perigoso, o déficit em transações correntes cresceu muito. A inflação, ao ser reprimida através de populismo tarifário na eletricidade e na gasolina, desequilibrou as finanças das distribuidoras de energia e da Petrobras. Os preços ficaram irreais e, mesmo assim, a inflação permaneceu alta. Hoje, a nova equipe da mesma presidente fala em “realismo tarifário”.
O BNDES não vai mais receber aportes bilionários do Tesouro como antes, o Banco Central não tentará forçar uma taxa de câmbio com exposição excessiva no mercado futuro, não haverá mais reduções de IPI para carro, a gasolina não terá mais preço defasado. A nova equipe admite que a dívida aumentou, o déficit está alto e tudo isso precisa ser corrigido. Logo, não foi apenas um mudança de dose do remédio. Mudaram o diagnóstico e a receita.
A política econômica estava totalmente errada antes; a nova nega as premissas anteriores, ainda que não tenha proposto todas as medidas necessárias à correção. Mesmo assim, é a nova política que está sob ataque dos partidários da presidente, e ela é que está tendo sua dose reduzida nas negociações. A anterior não foi condenada. Pelo contrário, a presidente disse que os adversários da suas decisões econômicas queriam que as empresas quebrassem. Deveria ter revelado quem propôs a tal quebradeira.
E por falar em quebradeira, há muitas empresas hoje com sérios problemas financeiros, graves desequilíbrios entre passivos e ativos. Isso é, em parte, suspensão dos socorros do BNDES, dos quais haviam ficado dependentes e, em parte, derivado da avassaladora corrupção nos negócios entre empreiteiras, fornecedores e Petrobras. Sem os aditivos sequenciais nos contratos, para cobrir a incompetência gerencial de algumas e o custo das propinas, muitas empresas podem ter problemas.
A presidente Dilma Rousseff reafirmou seu compromisso com a estabilidade da moeda. É bom que o faça, ainda que entre a palavra e o gesto haja bastante distância. Gastos excessivos, escondidos através dos truques contábeis promovidos pela equipe anterior, minam a estabilidade. Tarifas reprimidas, também. Leniência com a inflação no teto da meta, também. A política econômica estava errada. Não foi apenas uma dose a mais. 
Miriam Leitão - Colunista de O Globo

quinta-feira, 12 de março de 2015

O IMPEACHMENT É A MELHOR OPÇÃO ?

Estão marcadas passeatas  contra e a favor do impeachment.
Nas redes sociais pululam  textos  raivosos onde se  destacam os  intolerantes e radicais a se  xingarem mutuamente de petralhas e corruPTos de um lado e de reacionários e golpistas de outro.
Neste blog mesmo fui obrigado a eliminar vários comentários que continham palavras de baixo calão e agressões pessoais.
E agora surgem outros adjetivos desairosos como “brancos e ricos”. Infelizmente sou só branco.
Como exemplo desse radicalismo descabido  na mídia, seguem abaixo o artigo “O panelaço da barriga cheia e do ódio”, do blog de Juca Kfouri , o texto “Tendências/Debates” , de Ricardo Semler  e a nota no jornal O Globo de 08.03.2015 , “Olha o velhinho”, do escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo, que transcreve trecho de uma entrevista do economista Luiz Carlos Bresser Pereira, dada à “Folha de São Paulo”; esses artigos retratam a posição em defesa da Presidente Dilma Rousseff e contra o impeachment.
Em contraposição, também transcrevo a nota no O Globo de 11.03.2015, “Branco, rico e golpista”, do jornalista e blogueiro Ricardo Noblat.
São todas notas equilibradas e bem elaboradas, com exceção da nota de Juca Kfouri que considerei excessivamente radical e ofensiva. Esse tipo de extremismo cai muito bem em adolescentes em protestos universitários, mas não em um jornalista consagrado. O que melhor faria Juca Kfouri seria não fugir de sua especialidade que é a de comentarista esportivo.
Está havendo uma exacerbação de ânimos descabida em relação à hipótese de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.
Não é cabível chamar os partidários do impeachment de defensores de terceiro turno ou de golpismo como por várias vezes insinuou nossa presidente.
Até porque o instituto do impeachment está previsto na nossa Constituição pela Lei 1.079, de 10.04.1950.
Qualquer pessoa pode encaminhar ao Congresso Nacional uma denúncia de crime de responsabilidade, o que inclui políticos como parlamentares. No entanto, cabe ao presidente da Câmara dos Deputados julgá-la procedente e criar uma comissão especial para analisar o pedido.
Não temos nada de pessoal contra a Presidente Dilma Rousseff.
Muito menos  pelo fato de ser mulher,  haja visto a admiração que nutrimos pelas estadistas Angela Merkel ,  Indira Gandhi,  Margareth Thatcher, Michelle Bachelet  e tantas outras.
Só que não dá para esconder  que nossa presidente mentiu despudoradamente quando de sua eleição para o segundo período quando apresentou  uma situação absolutamente otimista do  Brasil que  não correspondia à realidade e da qual ela tinha pleno conhecimento.
E agora, depois que assumiu, nos presenteia com um ajuste fiscal brutal para cobrir os furos de toda a desorganização fiscal e administrativa além da corrupção de seu primeiro período de governo.
Dilma Rousseff é conhecida  como uma pessoa autoritária e  que trata de forma estúpida e grosseira seus subalternos.
São de conhecimento público vários episódios de pessoas às quais ela humilhou em público e que chegaram a chorar  de vergonha.
É uma pessoa que  tem ojeriza pela política.
Não gosta, não leva jeito, não entende e, o que é pior, não tem o mínimo interesse em mudar essa forma pessoal de ser e agir. Se é que  é possível mudar nessa altura da vida sem estar profundamente convicto e imbuído da necessidade dessa mudança.
Só que  relacionamento político é a essência do exercício da presidência da república.
Até o presente momento nossa presidente tem se comportado como um fantoche do ex-Presidente Lula. Mas  é inadmissível um país ter uma presidente da república que  ,  frente a qualquer problema de ordem política,   precise marcar um encontro  com seu antecessor para pedir conselhos ou socorro. Chega a ser patético.
Falta-lhe um mínimo de capacidade de articulação política.
Nem o apoio do Vice-Presidente da   República, Michel Temer – esse sim uma raposa política -  ela conseguiu  angariar. Em razão exclusivamente  de seu temperamento irascível, autoritário, dominador, impaciente,  grosseiro, teimoso e intolerante.
Por essa razão encontramo-nos neste atual estado deplorável de crise. E, se o personagem principal continuar sendo o mesmo, essa situação só tende a piorar.
O processo de impeachment é um trauma político que o país já atravessou com a renúncia  de   Fernando Collor de Mello em 29 de dezembro de 1992.
Mas perguntamos se o não-impeachment de Dilma Rousseff não é um trauma muito maior.
O que representará em termos de perdas de ordem econômica, crises políticas e financeiras  e descrédito para o país a permanência de uma pessoa completamente desestruturada   para o exercício da  presidência da república por mais quatro anos?
A deterioração do ambiente político piora dia a dia.
As recentes pesquisas de opinião pública já apontam um nível de aprovação  da Presidente Dilma Rousseff mais baixo do que o  nível de Fernando Collor de |Mello pouco antes de seu impeachment.
A outra alternativa, além da sua renúncia ou de um processo de impeachment, é tolerar a permanência da presidente em seu cargo até o fim de seu mandato.
Mas nesse caso teremos pela frente uma luta encarniçada com a oposição e a continuidade e até a piora de  todo esse somatório de problemas com os quais já nos defrontamos.
Ocorrerá o que disse o Senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) ao utilizar uma dura expressão extraída do linguajar político norte-americano:
“Não nos interessa o impeachment. Queremos que ela permaneça no cargo para sangrá-la até o fim de seu mandato”.
Só nos resta esperar pelo desfecho dessa situação.
Torcemos pela melhor saída para o Brasil.
Adaí  Rosembak
Associado da AAFBB, ANABB, AFABB-RS e ANAPLAB

Blog do JUCA  KFOURI, texto de 09/03/2015
O PANELAÇO DA BARRIGA CHEIA E DO ÓDIO
Nós, brasileiros, somos capazes de sonegar meio trilhão de reais de imposto de renda só no ano passado.
Como somos capazes de vender e comprar DVDs piratas, cuspir no chão, desrespeitar o sinal vermelho, andar pelo acostamento e, ainda por cima, votar no Collor, no Maluf, no Newtão Cardoso, na Roseana, no Marconi Perillo ou no Palocci.
O panelaço nas varandas gourmet de ontem não foi contra a corrupção.
Foi contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade.
Elite branca não se assume como tal, embora seja elite e branca.
Como eu sou.
Elite branca, termo criado pelo conservador Cláudio Lembo, que dela faz parte, não nega, mas enxerga.
Como Luís Carlos Bresser Pereira, fundador do PSDB e ex-ministro de FHC, que disse:
“Um fenômeno novo na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra os pobres.
O pacto nacional popular articulado pelo PT desmoronou no Governo Dilma e a burguesia voltou a se unificar.
Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente.
Não é preocupação ou medo. É ódio.
Decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou.
Continuou defendendo os pobres contra os ricos.
O governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres.
Nos dois últimos anos de Dilma, a luta de classes voltou com força.
Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita.
Quando os liberais e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente, continuaram de armas em punho.
E de repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo.”
Nada diferente do que pensa o empresário também tucano Ricardo Semler, que ri quando lhe dizem que os escândalos do mensalão e da Petrobrás demonstram que jamais se roubou tanto no país.
“Santa hipocrisia”, disse ele.
“Já se roubou muito mais, apenas não era publicado, não ia parar nas redes sociais”.
Sejamos francos: tão legítimo como protestar contra o governo é a falta de senso do ridículo de quem bate panelas de barriga cheia, mesmo sob o risco de riscar as de teflon, como bem observou o jornalista Leonardo Sakamoto.
Ou a falta de educação, ao chamar uma mulher de “vaca” em quaisquer dias do ano ou no Dia Internacional da Mulher, repetindo a cafajestagem do jogo de abertura da Copa do Mundo.
Aliás, como bem lembrou o artista plástico Fábio Tremonte: “Nem todo mundo que mora em bairro rico participou do panelaço. Muitos não sabiam onde ficava a cozinha”.
Já na zona leste, em são Paulo, não houve panelaço, nem se ouviu o pronunciamento da presidenta, porque faltava luz na região, como tem faltado água, graças aos bons serviços da Eletropaulo e da Sabesp.
Dilma Rousseff, gostemos ou não, foi democraticamente eleita em outubro passado.
Que as vozes de Bresser Pereira e Semler prevaleçam sobre as dos Bolsonaros é o mínimo que se pode esperar de quem queira, verdadeiramente, um país mais justo e fraterno.
E sem corrupção, é claro !

Texto de RICARDO SEMLER
 TENDÊNCIAS/DEBATES Nunca se roubou tão pouco Não sendo petista, e sim tucano, sinto-me à vontade para constatar que essa onda de prisões de executivos é um passo histórico para este país Nossa empresa deixou de vender equipamentos para a Petrobras nos anos 70. Era impossível vender diretamente sem propina. Tentamos de novo nos anos 80, 90 e até recentemente. Em 40 anos de persistentes tentativas, nada feito. Não há no mundo dos negócios quem não saiba disso. Nem qualquer um dos 86 mil honrados funcionários que nada ganham com a bandalheira da cúpula. Os porcentuais caíram, foi só isso que mudou. Até em Paris sabia-se dos "cochons des dix pour cent", os porquinhos que cobravam 10% por fora sobre a totalidade de importação de barris de petróleo em décadas passadas. Agora tem gente fazendo passeata pela volta dos militares ao poder e uma elite escandalizada com os desvios na Petrobras. Santa hipocrisia. Onde estavam os envergonhados do país nas décadas em que houve evasão de R$ 1 trilhão --cem vezes mais do que o caso Petrobras-- pelos empresários? Virou moda fugir disso tudo para Miami, mas é justamente a turma de Miami que compra lá com dinheiro sonegado daqui. Que fingimento é esse? Vejo as pessoas vociferarem contra os nordestinos que garantiram a vitória da presidente Dilma Rousseff. Garantir renda para quem sempre foi preterido no desenvolvimento deveria ser motivo de princípio e de orgulho para um bom brasileiro. Tanto faz o partido. Não sendo petista, e sim tucano, com ficha orgulhosamente assinada por Franco Montoro, Mário Covas, José Serra e FHC, sinto-me à vontade para constatar que essa onda de prisões de executivos é um passo histórico para este país. É ingênuo quem acha que poderia ter acontecido com qualquer presidente. Com bandalheiras vastamente maiores, nunca a Polícia Federal teria tido autonomia para prender corruptos cujos tentáculos levam ao próprio governo. Votei pelo fim de um longo ciclo do PT, porque Dilma e o partido dela enfiaram os pés pelas mãos em termos de postura, aceite do sistema corrupto e políticas econômicas. Mas Dilma agora lidera a todos nós, e preside o país num momento de muito orgulho e esperança. Deixemos de ser hipócritas e reconheçamos que estamos a andar à frente, e velozmente, neste quesito. A coisa não para na Petrobras. Há dezenas de outras estatais com esqueletos parecidos no armário. É raro ganhar uma concessão ou construir uma estrada sem os tentáculos sórdidos das empresas bandidas. O que muitos não sabem é que é igualmente difícil vender para muitas montadoras e incontáveis multinacionais sem antes dar propina para o diretor de compras. É lógico que a defesa desses executivos presos vão entrar novamente com habeas corpus, vários deles serão soltos, mas o susto e o passo à frente está dado. Daqui não se volta atrás como país. A turma global que monitora a corrupção estima que 0,8% do PIB brasileiro é roubado. Esse número já foi de 3,1%, e estimam ter sido na casa de 5% há poucas décadas. O roubo está caindo, mas como a represa da Cantareira, em São Paulo, está a desnudar o volume barrento. Boa parte sempre foi gasta com os partidos que se alugam por dinheiro vivo, e votos que são comprados no Congresso há décadas. E são os grandes partidos que os brasileiros reconduzem desde sempre. Cada um de nós tem um dedão na lama. Afinal, quem de nós não aceitou um pagamento sem recibo para médico, deu uma cervejinha para um guarda ou passou escritura de casa por um valor menor? Deixemos de cinismo. O antídoto contra esse veneno sistêmico é homeopático. Deixemos instalar o processo de cura, que é do país, e não de um partido. O lodo desse veneno pode ser diluído, sim, com muita determinação e serenidade, e sem arroubos de vergonha ou repugnância cínicas. Não sejamos o volume morto, não permitamos que o barro triunfe novamente. Ninguém precisa ser alertado, cada de nós sabe o que precisa fazer em vez de resmungar.
  RICARDO SEMLER, 55, empresário, é sócio da Semco Partners. Foi professor visitante da Harvard Law School e professor de MBA no MIT - Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA)

Texto do jornalista  Ricardo Noblat, no O Globo, de 11.03.2015
“Branco, rico e golpista”
Rico não pode se manifestar. A não ser por escrito. Ou dentro de casa. Ou em pequenas reuniões com amigos. Sem fazer alarde. Caso resolva aderir a uma manifestação de massa, saiba que a desqualificará. Seu lugar não é na rua protestando.
Se for visto na rua protestando poderá ser acusado pelo PT de ser golpista. Certamente o será.
Não há nenhum dispositivo na Constituição que proíba o rico de pensar e de dizer o que pensa, mas ele que suporte as consequências. Da mesma forma o branco. Pior ainda se ele for branco e rico.
É fato que a elite branca e rica lucrou uma enormidade com os governos de Lula e de Dilma. E que os mais ricos e brancos da elite pressionaram Lula para que ele voltasse a ser candidato no ano passado. Não importa. A eles deve apenas ser assegurado o direito de apoiar o PT. De preferência sem condições. E de financiar o PT, tirando dinheiro do seu próprio bolso ou desviando recursos públicos.
Quantos negros e pobres você vê no comando das maiores empreiteiras envolvidas com a corrupção na Petrobrás?
Só vê ricos e brancos. E todos parceiros do PT. Deram mais dinheiro para o PT ganhar as eleições do ano passado do que para outros partidos.
Bem, se além de rico e de branco, o cidadão morar em São Paulo, aí qualquer margem de tolerância com ele deve ser abolida.
Dilma e o PT perderam feio em São Paulo. O candidato de Lula ao governo colheu ali uma votação humilhante. O que venha de lá, portanto, não deve ser levado em consideração.
Antigamente foi a saúva. Agora, o paulista rico e branco é a praga que mais infelicita o Brasil.
Quem sabe o Congresso não aprova alguma lei que desconsidere o voto de São Paulo na hora de se contar os votos para presidente da República? O radicalismo da proposta talvez possa ser suavizado com a restrição ao voto apenas nos bairros povoados por uma maioria branca, rica e golpista.
Burgueses !
Há quanto tempo eu não enchia a boca para chamar de “burgueses” os adversários das mudanças sociais, que só fazem enriquecer à custa dos miseráveis.
É verdade que a maioria dos miseráveis ascendeu socialmente e compra o que os brancos e ricos lhe oferecem. E que quanto mais ascenderem e comprarem, mais os brancos e ricos se tornarão mais ricos. Mas esse é um dilema que a esquerda corporativa, ávida por emprego público e órfã de ideologia, não sabe ainda resolver.

domingo, 1 de março de 2015

No Olho do Furacão

Por mais que tentemos nos focar exclusivamente nos assuntos pertinentes ao BB, à CASSI e à PREVI, que é de onde o pessoal da ativa, os aposentados e as pensionistas  usufruem de  seus  rendimentos e tem sua assistência médica, não podemos deixar de nos centrar na situação caótica  da Petrobrás.
Tudo o que está acontecendo na Petrobrás atinge diretamente os fundos de investimento e os fundos de pensão – aí incluída a PREVI -  que estão expostos às empresas do setor de óleo e gás e de construção.
A Agência de Classificação de Riscos Moody’s, em 24.02.2015,  baixou a nota da Petrobrás de Baa3 ((grau de investimento) para Ba2 (grau especulativo).
Isso implica dizer que a Petrobrás não é mais considerada uma empresa segura para os investidores, e apresenta o risco de não pagar as dívidas, segundo a agência.
Esta revisão em baixa deverá causar a retirada de investimentos.
Para que se tenha uma ideia dos montantes avaliados pelas agências de classificação de riscos e do que representa para qualquer empresa o seu nível de avaliação , citamos que a faixa de grau de investimento abrange 15 trilhões de dólares e a especulativa cobre 1,5 trilhão de dólares.
Ademais, e como consequência de todo esse processo de desconstrução da Petrobrás, as empresas do setor de óleo e gás e de construção ligadas a projetos para a Petrobrás não estão conseguindo mais obter  empréstimos para capital de giro  junto aos bancos.
A nota da Petrobrás, face à situação caótica em que se encontra, já havia sido rebaixada anteriormente mas sempre no grau de investimento.
O maior risco que corremos agora é que o próprio país tenha a sua nota rebaixada. Ainda contamos com uma nota de classificação de investimento.
Apesar de toda essa perspectiva negativa, temos certeza de que o Brasil conseguirá vencer todos os problemas com os quais se defronta e sairá transformado após passar por essa barreira de choque.
Ontem (dia 28.02.2014) assistimos ao  Programa Painel, da Globo News dirigido pelo jornalista William Waack, que contou com os economistas Alexandre Schwartsman, Zaina Latif e o consultor e economista Raul Velloso. De todas as excelentes intervenções, destacamos a observação final do economista Raul Velloso,  que disse que, “após a catarse que o país passará com o processo do petrolão e que causará uma profunda reestruturação em nosso universo político e econômico”,  o povo brasileiro pode ter a certeza de que, após os impactos por que passaremos, a corrupção será extirpada e a condução dos negócios no país passará a seguir  rígidas  regras éticas e terá  o estrito acompanhamento da justiça.
Como leitor assíduo da coluna da  jornalista Miriam Leitão, no jornal O Globo, repasso aos leitores dois artigos que abordam de forma abrangente e objetiva a situação pela qual passa a Petrobrás e seus reflexos na economia do país.  

Adaí  Rosembak
Associado da AAFBB, ANABB, AFABB-RS e ANAPLAB  

Zona de turbulência – 01.03.2015
A crise da Petrobras terá um impacto enorme na economia. Já está tendo. Que ninguém culpe a Operação Lava-Jato. Ela é a chance de o Brasil criar um outro ambiente de negócios no país. Os fundos de investimento e os fundos de pensão estão expostos às empresas do setor de óleo e gás e de construção. Bancos terão que fazer provisões, e empresas podem quebrar.
Conversei com empresários que estão avaliando as repercussões da trombada da Petrobras e do caso Lava-Jato na economia. Entrevistei na Globonews dois economistas sobre o assunto. Não há dúvidas de que as consequências serão fortes e já estão criando dilemas complexos. Bancos públicos, como o BNDES, estão fazendo mais exigências para emprestar.
Algumas das empresas citadas ou envolvidas na Lava-Jato já estavam com dificuldades antes, mas agora, sem fornecer para a Petrobras ou tendo dificuldade de empréstimos de capital de giro, podem quebrar.
— Se existe uma coisa que uma empresa de construção não aguenta é ficar sem capital de giro. Obra exige isso. Algumas estão vendendo ativos, mas nem o juiz do Paraná pode dizer hoje quanto tempo tudo isso vai durar. Algumas não vão sobreviver — lembra o economista Cláudio Frischtak, da Inter.B Consultoria.
Frischtak, no entanto, deixa claro que a operação é uma oportunidade:
— Está ocorrendo uma operação Mãos Limpas e ao mesmo tempo há uma nova legislação dura de combate à corrupção corporativa. Nós aprofundamos a investigação ou não? Não temos escolha. A indústria de construção aqui e em outros países é a que mais tem problemas de corrupção. Aqui, houve exacerbação. O momento cria uma oportunidade de haver um outro ambiente de negócios no Brasil com as empresas se comprometendo com um código de conduta duro. O governo, por seu lado, também tem que assumir esse padrão.
O economista Álvaro Bandeira, da Órama Investimentos, acha que o setor de óleo e gás sofrerá um forte baque e prevê demissões em massa, empresas em recuperação judicial e firmas indo embora do Brasil. Acha que, ao final, o país terá ganhos:
— A Petrobras sairá uma nova empresa. Será menor, porque terá que desinvestir para reduzir o endividamento. Agora, terá que ser uma empresa sem loteamento, com gestão e governança profissionais.
Frischtak, no entanto, diz que é preciso deixar algo muito claro:
— A Petrobras não vai quebrar. Se precisar, o Tesouro fará capitalização, mas é preciso que muita coisa boa aconteça dentro da companhia para ela voltar a ser uma opção de investimento. O governo não pode mais errar. Houve uma sequência de erros inacreditável na empresa, como investimentos errados. O governo disse para a companhia: invista nisso que eu quero, eu vou controlar seus preços arrebentando seu caixa e você se endivide. Não há santo que aguente.
A solução, segundo Frischtak, é o governo ficar minoritário no conselho, como acontece em muitas estatais do mundo do petróleo que têm administração profissional.
No mercado financeiro, segundo Álvaro, o impacto será nos fundos de derivativos de antecipação de receitas, ou de certificados de direitos imobiliários, nos fundos de ação da Petrobras, das empresas envolvidas e dos vários parceiros.
— Ativos serão depreciados e terão que fazer marcação a mercado e assumir perdas — prevê Bandeira.
Nada disso é provocado pela Operação Lava-Jato. No máximo se pode dizer que ela precipitou uma situação que veio sendo criada em duas frentes. Intervenções dos governos petistas na Petrobras que a levaram ao alto endividamento, com um caixa amarrado pelos preços defasados. E pela corrupção, em si, que se ramificou pelos negócios da empresa. O rebaixamento cria um problema a mais, que pode ser quantificado.
— No mercado de empresas de grau de investimento circulam US$ 15 trilhões, e no mercado de empresas de grau especulativo circulam de US$ 1,5 trilhão a US$ 2 trilhões. A Petrobras está saindo desse primeiro mercado de crédito para o segundo, muito mais restrito e mais caro — disse Álvaro Bandeira.
Há empresas líquidas e fortes, a Petrobras continua com todos os méritos e ativos que tem. Elas passarão pela turbulência, mas, como disse Frischtak, o governo não pode mais errar.

Lenta desconstrução – 26.02.2015
Não foi um evento isolado, nem um engano. A Petrobras começou há muito tempo a caminhada para a perda do grau de investimento. Foi o resultado de vários erros cometidos pelo governo. Investimentos impostos pelo Planalto, nomeações políticas, preços populistas, propinas, descuidos. O PT achou que a empresa era dele. Ainda acha. A empresa é do Brasil.
O governo agora pode culpar o mensageiro. É bem do seu feitio. As agências erram muito, já erraram no passado, e, se forem criticadas, há razões. Mas uma análise sincera encontrará o quanto o governo foi insensato na condução da empresa.
Abriu inúmeras frentes de trabalho pelas exigências mais disparatadas. Uma refinaria no Maranhão, outra no Ceará. Mais uma no Rio. E a de Pernambuco? Melhor ainda, porque seria para que o “companheiro” Hugo Chávez tivesse alternativa para vender seu petróleo.
O fluxo de caixa não é problema. A Petrobras pode comprar gasolina e diesel a um preço e vender mais baixo. Quantas vezes ouvimos José Sérgio Gabrielli dizer que não repassaria a “volatilidade”. Lorota. Era uma forma de manipular o preço, evitar que a inflação, sempre no teto, estourasse a meta. Era a certeza de que o caixa da empresa era elástico. Quando Graça Foster assumiu, ela deixou claro inúmeras vezes que o preço estava errado, mas foi obrigada a engolir a sandice de subsidiar combustível fóssil. Se tivesse tido uma política realista de preços, a empresa teria o indicador melhor na comparação entre endividamento e geração de caixa. Se tivesse sido realista nos vários anos em que ficou artificialmente baixo, agora os preços poderiam cair. Isso daria um alívio à inflação, ao país, aos caminhoneiros que estão parando a estrada.
Os funcionários alertaram que acima de um determinado custo a refinaria Abreu e Lima seria inviável, jamais se pagaria. Fizeram relatórios internos. Nada foi olhado. E os custos dispararam de US$ 2,5 para US$ 18 bilhões. Os companheiros venezuelanos roeram a corda e deixaram o mico com o Brasil. A obra continuou.
Rodadas de licitação de petróleo foram suspensas porque tinham que mudar o modelo de exploração para que a Petrobras fosse dona de 30% de cada campo de petróleo. E para tudo isso a empresa foi se endividando. Houve alertas. Mas eram coisa de pessimistas, disseram. Chegou ao ponto em que a ANP terá que adiar a próxima rodada, porque a Petrobras não cumpre a exigência do balanço auditado.
E, além de tudo, houve o roubo. Em larga escala, disseminado pelos vários negócios. E isso colocou a empresa na pior era de incerteza da sua vida. A Petrobras ficou endividada, sem balanço, com projetos excessivos e de rentabilidade duvidosa. Perdeu valor de mercado. A dívida cresceu exponencialmente e passou a frequentar as páginas dos escândalos político-policiais.
O rebaixamento tem efeito concreto. A empresa sai do portfólio dos melhores investidores, os fundos de pensão do mundo inteiro. Os reguladores dos países impedem que os fundos invistam em empresas de grau especulativo. O crédito será mais caro, se for captado. A empresa terá que cortar mais investimento porque precisará financiá-los com seu caixa.
E inúmeros efeitos começam a se espalhar pela economia. Falando só de um: a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) ontem deu entrevista em que calculou que a paralisia da Petrobras pode levar a uma redução de investimentos da ordem de R$ 80 bilhões este ano. Há projetos cancelados, como as duas refinarias, e os efeitos da operação Lava-Jato, que têm travado contratos de empreiteiras não só com a Petrobras, mas também em empréstimos com o BNDES, afetando o fluxo de caixa das empresas e, consequentemente, as encomendas.
— Aí a empresa vai ao banco e encontra também uma conjuntura ruim. Com crédito mais restrito e juros mais altos. Quem tem grande participação do setor de óleo e gás na sua carteira pode acabar cancelando encomendas e projetos de outros setores, por ficar sem caixa. Há um efeito cascata — explicou o diretor de competitividade da Abimaq, Mário Bernardini.
A Abimaq projeta queda da taxa de investimento de 18% para 16% do PIB este ano, e uma retração da economia entre 1% e 2%.

Diante dessa coleção de incertezas e efeitos negativos de decisões insensatas do governo, o rebaixamento era esperado. Mas, quando chegou, doeu.