sábado, 28 de janeiro de 2017

UM RETRATO DA CRISE ATUAL NA RÚSSIA - 29.01.2017

Muitos já me perguntaram porque abordo assuntos relativos a política e economia internacionais, já que este blog deveria se focar em assuntos relativos à interesses dos funcionários da ativa do BB e aposentados e pensionistas da PREVI.
Respondo que não deixo de atender a esse objetivo, pois a previdência social,  os planos de previdência complementar e os planos de saúde,  se inserem no contexto da situação  financeira do país, e esta, por sua vez, se coloca dentro do posicionamento do país no ambiente da globalização financeira e econômica .
As finanças do país estão começando a se estruturar como retratam as últimas notícias na mídia especializada, como, por exemplo, a queda da inflação e a baixa dos juros pelo BACEN.
Apesar da crise econômica em que o Brasil foi lançado por seguidos desgovernos, as indústrias e empresas brasileiras, inclusive as estatais, estão se modernizando para enfrentar a competição internacional, e medidas rígidas estão sendo tomadas em várias áreas para disciplinar os gastos governamentais.
O FMI já fez uma previsão positiva da economia do Brasil e vê o país próximo de sair da crise.
Idem as agências internacionais de classificação de risco que estão prestes a voltar a elevar o nível de classificação do Brasil.
Por outro lado, a Operação Lava-Jato e outras, estão disciplinando e moralizando as relações governamentais e de políticos com o mundo corporativo o que, na opinião de especialistas na área econômica, contribuirá para a entrada de novos investimentos no Brasil e para a melhora do índice de Percepção da Corrupção do país, aferido pela ONG Transparência Internacional.
Atualmente, entre 176 países, estamos na 79ª posição, com 90 pontos.
Na América Latina estamos à frente da Argentina (95ª posição - 36 pontos) e atrás do Chile (24ª posição – 66 pontos).
Adicionalmente, em razão dos resultados positivos de várias operações promovidas pelas autoridades, grandes montantes de capitais desviados estão retornando para os cofres do país.
Ou seja, medidas adequadas e corretivas estão sendo tomadas pelo Governo, pelo Poder Judiciário e por outros órgãos públicos  para recolocar o Brasil no caminho do progresso, do equilíbrio financeiro, e para que o país seja respeitado internacionalmente por uma atuação íntegra, isenta de desvios e corrupção, em seu relacionamento financeiro e comercial com outros países.
Estamos apenas no início dessa virtuosa jornada.
Uma das consequências mais positivas desse novo rumo, embora seja um dos últimos benefícios dessa mudança geral do país, é o aumento geral do nível de empregos.
A propósito desse assunto, recomendamos  o excelente site www.politize.com.br.
Confesso que tive uma grande surpresa ao me deparar com um instrumento dessa grandeza, muito bem estruturado e alicerçado nas mais confiáveis fontes dentro e fora do país, que aborda uma gama imensa de assuntos referentes a economia, finanças, área governamental, política nacional e internacional, e diversos outros temas. É uma fonte valiosíssima para consultas, estudos e pesquisas.  
Para satisfazer minha curiosidade em uma área  pela qual tenho um especial interesse, não pude deixar de observar a posição da atual Rússia capitalista nesse índice da “Transparency International”. Lá estava a Rússia na 131ª posição, com meros 29 pontos.
Já abordei em vários artigos aspectos da implosão da ex-URSS e a mutação da Rússia do socialismo para o capitalismo, na década de 90.
No último artigo, “A Rússia Atual”, de 11.10.2016, foquei, principalmente, o caminho da militarização acelerada no presente período do Putinismo.
Arrisco-me neste artigo, mais uma vez, a ser futurólogo nesse assunto, para afirmar que, da mesma forma como subitamente aconteceu  na década de 90, teremos grandes surpresas em relação à Rússia muito em breve.
É preciso considerar nessa abordagem que, embora a Rússia seja um país disfuncional e desestruturado em vários aspectos, é a nação com o mais vasto território no planeta, conta com vastos recursos minerais e grandes depósitos de gás e petróleo. Cerca de 60% de sua renda de comércio externo, provém da exportação de gás e petróleo para abastecer a Europa Ocidental.
Como herança da ex-URSS e da atual corrida armamentista, suas forças armadas contam   com um grande número de ogivas nucleares (cerca de 8.500 em 2013), têm em torno de  12.000 toneladas de armas químicas, dispõem de armamento moderno  e   potentes forças  militares de ataque terrestre, marítimo e aéreo.
Mas a manutenção de seu   poderio militar tem um alto preço que afeta toda a sociedade e se reflete diretamente no empobrecimento da população.
Afora isso, a Rússia sofre com um alto nível de corrupção, ineficiência administrativa, fuga de capitais, tolhimento da liberdade de expressão e sua base econômica é dominada por um grupo de oligarcas submissos à figura de Vladimir Putin, entre outros fatores.
É sempre importante frisar que qualquer mudança na Rússia, pelo seu gigantismo, se refletirá em todo o planeta, inclusive no Brasil. Por essa razão, a mídia internacional deve estar atenta ao que ocorre na política e na economia daquele país.
Transcrevo adiante duas notas a respeito desse assunto.
Uma, é  a tradução do artigo “Unattainable Utopia: How Kudrin plans to Reform Russia’s Economy” (Utopia impossível de atingir: Como Kudrin planeja reformar a Economia Russa),   de autoria de Boris Grozovsky, jornalista especializado em economia, publicado em 23.01.2017, no insuspeito jornal “The Moscow Times”. Essa nota é extremamente interessante porque nos lembra, no Brasil, o trio de desatinados e incompetentes Dilma Rousseff, Guido Mantega e Arno Augustin que, mesmo contra todas as evidências, insistiram em implementar o mesmo receituário econômico falido, que acabou por afundar o país.
Outra nota, é a tradução da reportagem “Russia: Talking war in times of economic crisis” (Rússia: Falando de guerra em tempos de crise econômica), da jornalista Mariya Petkova, publicado no site www.aljazeera.com, em 01.01.2017.  
Ao final deste artigo, e ainda abordando a Rússia, faço um breve comentário sobre a obra “O fim do homem soviético”, de autoria da escritora Svetlana Aleksiévitch,  um calhamaço de 594 páginas que, finalmente, acabei de ler.
Confesso que poucas vezes em minha vida me deparei com um livro tão chocante.  Sua obra baseia-se em entrevistas com pessoas de diversas    áreas e níveis sociais, que passaram pelo período de transição dos anos 90.
Depois dessa leitura, minha visão sobre a Rússia mudou inteiramente, e hoje compreendo porque o povo russo encontrou no putinismo uma saída de sobrevivência.
ADAÍ  ROSEMBAK
Associado da ANABB, AAFBB e ANAPLAB

UTOPIA IMPOSSÍVEL DE ATINGIR: COMO KUDRIN PLANEJA REFORMAR A ECONOMIA RUSSA, Boris Grozovsky, The Moscow Times.
“Putin e seus aliados nunca darão aos liberais o direito de mudar um país que eles consideram como sendo somente deles. ”
O ex-Ministro das Finanças Alexei Kudrin merece respeito por ser admirado como o maior otimista da Rússia: ele mais uma vez está criando uma estratégia para o desenvolvimento do país. Encabeçando um grupo de eeconomistas, criado a mando do presidente Vladimir Putin, Kudrin está formulando um programa para apoiar a reeleição de Vladimir Putin em 2018, que visa o desenvolvimento futuro da economia do país. Ele e seu grupo tem o prazo até abril para completar essa tarefa.
Nesse aspecto, Kudrin é igual a um velho professor que tenta, pela enésima vez, explicar uma lição básica para um aluno.  O rapaz é viciado em drogas há muito tempo, anda com uma gangue local, e tem uma longa ficha criminal por roubos. Entretanto, o professor não vê o estudante como um marginal incorrigível, mas somente como um jovem de bom comportamento que está tendo um pequeno problema em uma  lição.
Kudrin renunciou ao cargo no governo em 2011, após um desentendimento sobre gastos militares  com o então Presidente Dimitry Medvedev. Naquele período, isso parecia mais um pretexto do que uma razão real para sua saída. 
Mas o que de fato aconteceu, é que Kudrin enxergou, com muita antecipação, para onde as coisas estavam indo. Gastos com a defesa, segurança nacional, e outros gastos com segurança interna, em 2011, tinham atingido 2,78 trilhões de rublos (US$ 46.9 bilhões), ou 25,4% do total de 10,93 trilhões de rublos, que era o total de gastos governamentais. A militarização da Rússia estava em plena escalada.
Mas isso foi apenas o começo. Tal gasto atingiu em 2014-2016 um aumento insustentável. 
O Ministério das Finanças tem provavelmente tentado cortar custos em algumas áreas, mas os gastos para as áreas de segurança em 2016 foram projetados para atingir 5,7 trilhões de rublos – um aumento de 34,2%, extremamente alto para um orçamento totalizando 16,64 trilhões de rublos.
O pêndulo atingiu sua mais ampla abertura.
Ao demonstrar suas capacidades militares, a Rússia fez o mundo inteiro temer cada movimento seu.
Agora, o líder russo tem de demonstrar não sua força, mas seu preparo para atingir seus objetivos e sua determinação em se modernizar.
É por isso que eles chamaram Kudrin de volta.
Sua última tentativa de implementar um novo plano de desenvolvimento econômico foi há cinco anos atrás.
Aquele projeto foi chamado Estratégia 2020.
Entretanto, autoridades governamentais pinçaram somente as partes que eles gostaram do sólido trabalho e deram início a uma estratégia oposta - abocanhando a Crimeia e entrando na Região de Donbass, na Ucrânia, refreando liberdades políticas, e entrando em confronto com o Ocidente.
Kudrin e seus associados estão muito conscientes da situação econômica na Rússia.  Em um recente artigo, eles escreveram que um dos principais obstáculos para o desenvolvimento da Rússia, é que,  na falta de visão do futuro, os russos se focam somente no imediatismo da situação.
Isso provém da visão da era soviética, quando o planejamento de longo prazo era muito popular, mas no fim sempre era desacreditado. Até que o povo russo “olhe para o futuro” de novo, eles nunca tomarão ações concretas. 
A atual miopia da Rússia leva ela a entrar em aventuras impulsivas como a Crimeia e o Donbass, satisfazendo desejos imediatos, mas reduzindo o desenvolvimento a longo prazo.
Falando no Fórum de Gaidar em Moscou, em janeiro, Kudrin explicou que o atraso tecnológico e o desenvolvimento lento da Rússia são consequências desse raciocínio limitado, e que o governo é responsável nesse aspecto. 
Ele argumentou que ao subsidiar a inovação, o governo em lugar de acelerar, inibe o desenvolvimento.
Mas é impossível formular uma meta de longo prazo enquanto o governo divulga uma barragem de propaganda contrária infindável e silencia a oposição.
Que discussão viável pode ter andamento, se as autoridades intitulam de extremismo quando alguém expressa a opinião de que a anexação da Crimeia foi um desastre político?
A cela de uma prisão não é o melhor lugar de onde extrair as melhores ideias para o futuro.
Em um estado policial, as vidas dos cidadãos repousam não em suas próprias mãos ou mesmo nas mãos da lei, mas nas mãos da polícia e de seus comandantes. Afirma-se que eles representam a melhor visão de Moscou e devem saber o que é o  melhor para a sociedade.
Mas tal visão se adapta perfeitamente aos líderes autoritários: isso dá a eles carta branca e os libera de qualquer responsabilidade.
Como resultado, todos os planos liberais de Alexei Kudrin, mais uma vez, resultarão em nada mais do que uma inatingível utopia.
Os autores dessas mudanças   afirmam que isso melhorará a atuação do estado. Talvez – embora não para servir às necessidades do povo, mas em o controlar.
Eles proclamam que isso pede reformas do sistema judicial.  Claro, mas os políticos e os dirigentes de empresas estatais sabem perfeitamente bem que mesmo que eles violem a lei, as cortes judiciais irão certamente atender a qualquer decisão que eles solicitem.
Eles dizem que o plano implementará iniciativas individuais e reduzirá a regulação governamental da economia e da sociedade. Certamente, mas o estado reterá a maioria dos mais rentáveis negócios para si mesmo ao ocupar os altos comandos da economia – incluindo óleo, gás, e defesa – enquanto continuarão a reduzir seus compromissos em setores não rentáveis como saúde pública e educação.
Eles dizem que o plano mudará a autoridade da centralização federal para as diversas regiões e promoverão o desenvolvimento regional.
Sim, mas Moscou continuará a reter o controle financeiro e político enquanto as regiões terão de arcar com a manutenção da estabilidade social.
Assim é como a estratégia liberal de Kudrin para o desenvolvimento econômico realmente parece, porque ele encontrará implementação não no vácuo, mas no apoio que fica ao critério do poder central  da Rússia de Putin.
Putin e seus apoiadores nunca darão aos liberais o direito de mudar um país que eles julgam  pertencer somente a eles.  No máximo, eles cederão aos liberais o controle sobre a parte dos negócios não rentáveis enquanto reterão “o controle principal” das partes rentáveis. Quando se entra em acordo para contratar um trabalho, sempre é  importante esclarecer exatamente qual tarefa seus empregadores querem que você cumpra, e o quanto de autoridade eles lhe darão para cumprir a tarefa.

RÚSSIA: FALANDO DE GUERRA EM TEMPOS DE CRISE ECONÔMICA, Mariya Petkova, www.aljazeera.com
“A retórica da guerra tem ajudado o Governo Russo a controlar a crise relacionada com o descontentamento, mas pode levar ao efeito oposto. ”
Quando as sanções atingiram a Rússia em 2014 e Moscou respondeu com um boicote comercial, Irina achou engraçado o povo começar a reclamar sobre o desaparecimento da variedade de queijos importados das lojas.
Irina, uma pesquisadora de educação de 32 anos, que pediu que somente seu primeiro nome fosse citado, diz que ela não sentiu o efeito das sanções em sua vida diária, nem nas suas escolhas de queijos.
No mesmo ano, quando os preços do petróleo tiveram uma queda dramática, o rublo entrou em colapso e a crise econômica atingiu a Rússia com força total.
Sendo uma integrante  privilegiada da classe média de Moscou, Irina não sentiu os fortes efeitos da crise, muito embora ela tenha limitado suas viagens ao exterior e tenha reduzido seus gastos com artigos de luxo.
Por mais que os prognósticos para a economia russa estejam sendo pessimistas, Irina diz que ela não está ansiosa sobre a segurança financeira de seu futuro. O que ela acha  ameaçador e perigoso  é a  crescente mudança agressiva da política governamental que tem acompanhado a crise.
“Eu fiquei chocada de ver as notícias sobre a extensão da militarização ... é como   eles estarem tentando preparar o país para a guerra. ” Ela diz. “Eu acho esse aspecto da crise o mais amedrontador. ”
A agressiva retórica do Governo e da mídia estatal intensificou-se com o Ocidente quando do choque da Ucrânia com a Rússia, enquanto ao mesmo tempo, a economia russa entrou em recessão.
Eliot Borenstein, Professor de Estudos Russos e Eslávicos da Universidade de New York, explicou o fenômeno. “Em muitos aspectos, as sanções americanas e europeias foram um presente para Vladimir Putin, a partir do momento em que elas permitiram o desvio do foco de críticas  na economia para  centrarem a atenção nos inimigos da Rússia,” ele disse à Al Jazeera, em uma entrevista telefônica.
“Entretanto, isso introduziu a percepção de que lidar adequadamente com dificuldades econômicas é um assunto relativo a patriotismo. ”
O apelo governamental aos sentimentos patrióticos dos russos parece ter sido efetivo para conter a insatisfação geral entre a população.
Muitos russos têm se preparado para uma longa recessão econômica. Apesar disso, existem alguns, como Irina, que não estão propensos a aceitar as consequências da política militarista do Kremlin.
Contornando uma crise econômica.
Quando o preço do petróleo entrou em queda no fim de 2014, o rublo russo perdeu 60% de seu valor frente ao dólar.  O valor da produção per capita caiu de US$ 15,000.00 para US$ 9,000.00 e a economia encolheu 4% ano a ano.
Cortes de gastos foram feitos e as taxas de pobreza aumentaram. Em 2015, a proporção de famílias pobres com uma renda suficiente somente para alimentação aumentou de 22 para 39%, de acordo com um estudo do Centro Russo de Pesquisas de  Opinião Pública, enquanto a classe média encolheu 16% de acordo com a área de Pesquisa do   Consumidor, do Sberbank.
O padrão de vida se deteriorou muito significativamente para os russos pobres ao redor dos grandes centros econômicos.
Em 19 de Dezembro de 2016, ocorreu um incidente em Irkutsk, uma cidade siberiana, em que mais de 70 pessoas morreram após beber uma loção de banho com 90% de etanol, o que demonstrou o desespero que grande parte do povo enfrenta. As vítimas – a maioria pobres e sem-teto  - beberam a substância porque uma garrafa custava somente 30 rublos (50 cents), seis vezes mais barata  do que uma garrafa de vodka.
A mídia local comentou que a crise econômica, juntamente com uma alta taxa de alcoolismo, induziu muitos russos a consumirem álcool produzido ilegalmente   e outros  produtos com álcool. Durante os dois últimos anos, o aumento da pobreza na Região de Irkutsk tem aumentado, atingindo mais que 21% da população, enquanto que o real valor dos salários tem caído mais que 10%.
Boris Grozovsky, um jornalista russo na área de finanças, disse à Al Jazeera que ele pensa que a crise econômica gradualmente também afetará a saúde pública e a educação.
Em 2015, a Rússia testemunhou o que a mídia local disse que foi a primeira greve de professores em 15 anos, após o pagamento dos salários terem atrasado na Região de  Zabaykalsky; médicos e professores de jardim de infância também se juntaram ao protesto.
Médicos tem reclamado que o real valor de seus salários tem caído, e que a falta de financiamento do serviço de saúde pode levar a um sério déficit de pessoal especializado na área.
Grozovsky diz que, apesar da Rússia estar em uma longa recessão, o padrão de vida não cairá aos níveis de 1990, quando o rendimento per capita foi de US$ 1,500.00 - US$ 3,000.00.
“O que está nos esperando é uma situação de estagnação. Enquanto outros países se desenvolvem, nós ficaremos para trás,” ele explicou.
O Primeiro Ministro da Rússia Dmitry Medvedev tem se dedicado a apresentações públicas para reassegurar ao público, com discursos, as formas de solucionar a crise.  Em setembro ele publicou um artigo mostrando a visão para reformar a economia russa “para fazer a Rússia atrativa para negócios”.
Após o orçamento do estado em 2017 ter sido votado, ele apareceu em canais da TV estatal, assegurando  que haveria dinheiro suficiente para cobrir benefícios sociais e que era esperado crescimento da economia para o próximo ano. Essas propagandas da mídia também incluíram reportagens com uma positiva visão da crise, focando, por exemplo, na baixa inflação e nos gastos   em consumo durante a temporada de férias.
Mas Marina Krasilnikova, uma socióloga do Centro de Pesquisa Levada em Moscou, diz que os russos têm aceitado a crise econômica e tem ajustado suas expectativas e seus hábitos de consumo.
De acordo com o Centro Nielsen de Confiança do Consumo Global, 73% dos russos que atenderam à sua pesquisa, disseram que eles tiveram de cortar suas despesas, e 82% declararam que este não é um período adequado para gastar dinheiro.
Retórica Agressiva
Enquanto o Governo tem procurado aliviar os temores da sociedade, por outro lado ele também tem deixado claro que a defesa é uma prioridade e que está reservando uma parcela considerável do orçamento para assegurar a modernização das forças armadas.
No orçamento de 2017, o Governo alocou US$ 43 bilhões, 4,7% do Produto Nacional Bruto da Rússia, ao setor de defesa – o que muitos analistas chamam de “gasto recorde” para um país que, até o momento, não está em guerra.
Vladimir Putin, pessoalmente, tem falado repetidamente sobre a importância das forças armadas.
No último dezembro, ele alertou que a Rússia é atualmente mais forte que qualquer “potencial agressor”, mas que isso é somente uma parte do esforço na “modernização das forças armadas e da frota ou na sua preparação para que isso ocorra”.
Este tipo de retórica alarmista não é somente efetivo para justificar o aumento do orçamento da defesa para o público, mas é também uma forma de desviar a atenção da crise econômica.
Krasilnikova diz que “a ideia de que a Rússia é um grande país que tem muitos inimigos é bastante popular” e isso tem mitigado a insatisfação o povo com o atual estado de problemas na economia.
Essa retórica tem sido constantemente usada nos canais da TV estatal, tal como a “Russia 1”.
“A Rússia possui um poder militar suficiente para destruir os Estados Unidos no mínimo 10 vezes. Nós somos o único país que representa um desafio existencial para eles,” afirmou o Membro do Parlamento Vyacheslav Nikonov, em um dos mais populares programas políticos  na Rússia 1,  “A Tarde com Vladimir Solovyov”.   O apresentador do programa é conhecido por sua linguagem beligerante e suas entrevistas pessoais com Vladimir Putin.
Alegando que os Estados Unidos financiam políticos liberais na Rússia, Nikonov também afirmou que após a introdução de uma lei para atingir diretamente a influência de “agentes estrangeiros”, o financiamento para esses agentes cresceu 10 vezes.
Novos programas também oferecem retórica similar. 
Russia 1 apresentou seguidas reportagens no meio de dezembro sobre a situação em Aleppo, cobrindo extensivamente as bem-sucedidas operações do exército russo naquela área, enfatizando a ausência do envolvimento militar do Ocidente  mesmo que fosse para oferecer socorro e, também, a indiferença da mídia ocidental ou a deliberada esquiva de noticiar o sucesso russo.
Ansiedade Crescente
De acordo com Vlad Strukov, Professor associado em Filmes e Cultura Digital na Leeds University, enquanto linguagem antagônica não é nada de novo na mídia russa, sua intensidade tem crescido significativamente nos últimos anos.
“Há cinco ou dez anos atrás, poderiam haver discussões sobre o desafio da NATO -  North Atlantic Treaty Organization (OTAN - Organização do Tratado do Atântico Norte), mas isso era considerado um tipo de desafio distante.
Agora  é como se a guerra estivesse prestes a acontecer. 
A propaganda oficial diz  que a OTAN está planejando ação militar, ” ele disse à Al Jazeera.
Esta intensa retórica de preparo militar para a guerra tem inevitavelmente afetado o espírito da população em geral.
Um recente estudo mostra que 48% dos russos pensam que a piora das relações com o Ocidente é devida à crise na Síria, e pode desencadear a Terceira Guerra Mundial.
O assassinato do embaixador russo em Ankara em 19 de dezembro, chocou a sociedade russa, e enquanto a mídia estatal cobria a “heroica” morte de Andrey Karlov, haviam outros que achavam isso revoltante e inaceitável.
“O surgimento de protestos anti-Rússia no Oriente Médio após a tomada de Aleppo, que foi o motivo que levou ao assassinato do Embaixador Andrei Karlov, mostra que, enquanto a Rússia estava retomando sua influência na região, isso também fez a Rússia tomar dos Estados Unidos o papel de principal inimigo imperialista”, escreveu Vladimir Frolov, um analista político russo.
Ele frisou que essa mudança nos acontecimentos  foi negativa  para a Rússia e que isso poderia desencadear mais ataques terroristas.  
Mesmo antes do assassinato, o entusiasmo geral da população russa pela intervenção militar no Oriente Médio tinha começado a esfriar. 
A operação militar na Síria tem custado quase US$ 1 bilhão por ano e comenta-se secretamente sobre um crescente aumento de mortos e feridos entre militares russos e mercenários.
Em outubro de 2015, uma pesquisa do Centro Levada, apontou que 72% dos entrevistados apoiavam bombardeios aéreos na Síria; em outubro de 2016, aquele nível de aprovação caiu para 52%.
Para Irina, a promoção da política de guerra do governo, é mais preocupante que a situação da economia.
“Eu gostaria de ver menos desse inflamado militarismo. Eu gostaria de ver um caminho de volta desse armamentismo a favor de um desenvolvimento pacífico, ” ela diz.
Fonte: Al Jazeera

COMENTÁRIOS SOBRE O LIVRO “O FIM DO HOMEM SOVIÉTICO”, DE SVETLANA ALEKSIÉVITCH.

Sobre a formação da URSS:
“Devemos arrastar conosco 90 milhões dos cem que povoam a Rússia Soviética. Com os demais é impossível falar: é preciso destruí-los.” (Zinóviev, 1918).

“Moscou está literalmente morrendo de fome.” (professor Kuznetsov a Trótski).
“Isso não é fome. Quando Tito tomou Jerusalém, as mães judias comeram seus próprios filhos. Quando eu fizer suas mães comerem os próprios filhos, aí você pode vir e dizer: “Estamos morrendo de fome.” (Trótski, 1919).

Sobre o fim da URSS e a ida da Rússia do socialismo para o capitalismo:
“A Rússia mudou, e odiou a si mesma por ter mudado.”

Comentários introdutórios sobre o livro “O Fim do Homem Soviético”, de Svetlana Aleksiévitch.
Acostumado a uma cultura de guerras, revoluções e grandes reviravoltas políticas, o povo russo assistiu com espanto ao imprevisto silêncio que acompanhou a queda do Império Soviético e a passagem ao capitalismo. A população se dividia entre os que apostavam em um horizonte de democracia e os que viam com desolação a derrocada da ideologia que por anos dirigira suas vidas.
Em O Fim do Homem Soviético, Svetlana Aleksiévitch olha para esse cenário interessada na vida das pessoas afetadas pela súbita imposição de um capitalismo selvagem e imaturo: “Não faço perguntas sobre o socialismo, mas sobre o amor, o ciúme, a infância, a velhice”.
Entre 1991 e 2012, a autora entrevistou centenas de pessoas. Mestre na arte da conversação, ela procurou, na intimidade das cozinhas russas, as vozes daqueles que acreditaram, dos que foram céticos, dos que insistiram em lutar por um ideal de democracia. Em cada uma das personagens está um pouco da história russa – a mãe cuja filha morreu em um atentado; a antiga funcionária do Partido Comunista que coleciona as carteiras abandonadas dos ex-filiados; o velho militante que passou dez anos em um campo; mãe e filha que acabaram nas ruas depois de perder o apartamento para golpistas; o caso de amor entre uma dona de casa que abandona a família para viver com um homem condenado à prisão perpétua.
Nesse caleidoscópio, há muito sobre o papel da ideologia soviética para a manutenção da URSS – ideologia que funcionou por décadas como a cola que fazia o império soviético permanecer em pé, derramada em cada mínimo detalhe da vida cotidiana.

Svetlana Aleksiévitch nasceu na Ucrânia, em 1948. Jornalista e escritora, refinou ao longo de sua obra uma escrita única, desenvolvida a partir da observação da realidade e ostentando as melhores qualidades narrativas da tradição da literatura em língua russa. Em 2015, recebeu o prêmio Nobel de Literatura. Dela, a Companhia das Letras publicou “Vozes de Tchernóbil” e “A guerra não tem rosto de mulher.”

3 comentários:

  1. Bela página. Muito informativa. Enriqueceu-me.
    Edgardo Amorim Rego

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    1. Caro amigo Edgardo Amorim,

      Grato pelos seus elogios.
      Acho que devemos lançar nossos olhares além muro.
      Queiramos ou não, estamos envolvidos em toda essa conjuntura internacional.
      Os acontecimentos tendem a se acelerar e a se radicalizarem e todos sentirão os efeitos.
      Essa é a razão maior de, às vezes, lançar esses artigos sobre política internacional.
      E, às vezes, sou muito criticado por isso, pois alegam que em lugar de estar lutando pelos nossos interesses, fico divagando pelo mundo.

      Abração

      Adaí Rosembak

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  2. Caro Adaí,

    É de cair o queixo o que você descreveu.
    Estamos prestes a entrar em grandes mudanças.
    Gosto de seus artigos nessa área. Continue.

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