quinta-feira, 18 de maio de 2017

VOLTA AO BRASIL

Caros Companheiros,

Acabei de voltar de viagem e, como qualquer pessoa que retorna ao país, fiquei espantado pelo avanço da Operação Lava-Jato no Brasil em tão curto espaço de tempo.
Nos Estados Unidos, as notícias sobre o México, a América Central e América do Sul, resumem-se à crise na Venezuela e ao muro entre os Estados Unidos e México.
Sobre o Brasil, li uma pequena nota de rodapé de jornal, noticiando a libertação do José Dirceu. Não sei porque deram notoriedade a esse fato. Afinal de contas, entre mil, talvez só um americano tenha ouvido falar de José Dirceu.
Os assuntos que realmente bombavam na mídia dos Estados Unidos, eram o campeonato de futebol americano e as investigações sobre a interferência russa na eleição do Trump.
Como sempre faço, entrei em um bar e puxei conversa com o cidadão ao meu lado para praticar meu inglês, enquanto saboreava um gostoso “draft” (caneca grande de chope).
Quando começamos a conversar e disse que era brasileiro, para minha surpresa, ele manifestou um grande conhecimento sobre a conjuntura internacional e sobre o Brasil.
Falou sobre o papel de liderança do Brasil na América do Sul, discorreu sobre a Operação “Car Wash” (Lava-Jato) mas, o que mais me impressionou, foi a comparação que ele fez entre os Estados Unidos e o Brasil.
Disse que muitos brasileiros consideram os Estados Unidos um modelo de civilização.
Mas afirmou que, embora os Estados Unidos tenham grandes qualidades, são um país que nunca teve uma geração sem guerras, é um país onde o porte de armas é um direito estabelecido pela constituição, e a discriminação racial ainda é uma chaga na vida americana. Acrescentou que o país tem cerca de 2,5 milhões de presidiários.
Já o Brasil, disse ele, como qualquer país, tem seus problemas, mas tem muitas virtudes, como uma integração racial sem paralelo no mundo, não tem guerras, e o povo prioriza a paz e a qualidade de vida e não a competição acirrada e um consumismo desenfreado como ocorre nos Estados Unidos.
Quando manifestei minha admiração sobre seu conhecimento sobre nosso país, ele disse que já havia visitado o Brasil no passado e, inclusive, tinha tido um longo caso amoroso com uma brasileira.
Essa é uma exceção entre os americanos.
Normalmente, o americano médio tem um desconhecimento grande no que tange à cultura de outros países.
Mas  aprecio o espírito descontraído, comunicativo e brincalhão dos americanos, muito embora não tenham a tradição de se abraçarem e se tocarem como é comum aos brasileiros.
A minha segunda visita foi ao Canadá, mais precisamente em Vancouver.
Diz-se que o Canadá tem o mesmo progresso dos Estados Unidos sem os problemas dos Estados Unidos.
O Canadá é considerado o país com o mais alto padrão de qualidade de vida do Mundo.
A educação básica é gratuita nos níveis básico e médio.
No que tange à saúde, pagam-se planos de assistência médica em que o cidadão é muito bem assistido. Não sei precisar como é a assistência a pessoas de baixa renda, mas ressalto que não vi mendigos nem mesmo pobreza aparente em nenhum lugar.  Penso que seja residual o percentual da população nessa faixa social, algo sem maior peso no serviço de assistência social.
Em relação à previdência social, existem planos    de aposentadoria privados muito bons. Mas muitos cidadãos optam por fazer planos pessoais geridos por eles mesmos.
No Canadá não existe a chamada carteira de trabalho, como existe no Brasil.
Lá, o sistema baseia-se em contratos de trabalho, que funciona muito bem. Os contratos de trabalho se tornam referências e curriculum, que acompanha e ajuda o cidadão por toda a sua vida laboral.
O chamado trabalho terceirizado que está sendo tão combatido aqui no Brasil, é uma prática generalizada, e as pessoas que trabalham dentro desse sistema são bem remuneradas.
Faço questão de frisar que não estou fazendo apologia do sistema de trabalho terceirizado. Apenas estou descrevendo como as coisas funcionam naquele país.
Pelo que verifiquei, o nível salarial nas empresas é elevado o suficiente para se levar uma vida tranquila, confortável, decente, e que satisfaz a todas as necessidades primordiais das pessoas, desde à completa manutenção pessoal, moradia de bom nível, saúde e educação.
O nível de criminalidade é baixíssimo, poderíamos dizer, quase nulo.
O Canadá alcançou sua independência plena há 150 anos.
Vancouver é uma cidade belíssima.
Visitei estações de esqui que contam com bondinhos para acesso às áreas mais altas. Pode-se apreciar cachoeiras e quedas d’água estonteantes, em meio a uma rica vegetação com árvores altíssimas.
Nos picos mais elevados, com temperatura muito baixa, me informaram que existem   ursos, castores, raposas, lobos, ratos do gelo, e outros animais típicos da região.
Essas estações contam com muitos hotéis, hospedarias, e restaurantes de alto nível, mas com preços honestíssimos.
Essa é a razão porque esses locais ficam lotados com milhares de visitantes para a prática de esqui e outros esportes de inverno.
Por falar de esportes, o hóquei no gelo é considerado o esporte nacional do Canadá.
Gostaria de ter assistido à uma partida de hóquei; me disseram que é emocionante.
A filosofia local é incrementar o turismo agradando o turista ao extremo.
Também visitei algumas ilhas que se constituem em reservas florestais e parques nacionais magníficos. Respeito absoluto pela flora e pela fauna locais, apesar do grande número de ciclistas,  trilhas e campings. Limpeza e segurança absolutas.
Fiquei em um excelente hotel em Richmond, um bairro de maioria chinesa em Vancouver, e que é um dos centros universitários mais importantes do Canadá e do Mundo.
A comunidade chinesa é muito seleta, reservada, elegante, rica e intelectualmente avançada. É um grupo composto de pessoas que preponderam na área universitária, tanto como cientistas, pesquisadores, pós-graduados e professores. 
Também têm atuação majoritária nos negócios, nas indústrias e nos setores financeiros locais.
Vancouver é uma cidade de tráfego muito organizado e de limpeza extrema.
Nas chamadas “downtowns” de Vancouver, predominam prédios residenciais inteligentes com 400 a 1000 apartamentos, em que tudo é controlado remotamente.
Não existem empregados fixos, somente um administrador para cada prédio. E, milagrosamente, tudo funciona de forma perfeita.
A limpeza, o silêncio, a organização, e a segurança nos edifícios são completos.
Os elevadores, que funcionam por controle remoto, só param no andar onde a pessoa reside. Você não tem acesso a outro andar, a não ser que o morador de outro andar o acompanhe e permita seu acesso pelo sensor de controle remoto.  
Se for receber algum visitante ou alguma encomenda, o morador tem de descer ao andar térreo e abrir    a porta de entrada do prédio por controle remoto para o visitante entrar ou para pegar qualquer compra.
No andar térreo dos prédios não existem portarias, nem ninguém para vigiar, ajudar, ou prestar informações. A área térrea é arquitetada e decorada com luxuosos espaços arborizados, com aquários, sofás e confortáveis poltronas.
É terminantemente proibido fumar nas áreas comuns e, inclusive, dentro dos apartamentos.
Existem detectores de fumaça no teto dos apartamentos, que registram se a fumaça é proveniente de cigarros. Nas áreas comuns, além dos detectores de fumaça, existem câmaras que registram tudo.
A multa é muito pesada para aqueles condôminos que transgredirem as normas condominiais e fumarem dentro dos prédios.
Se as pessoas quiserem fumar têm de ir para a rua; no inverno, penso que seja um  exercício de masoquismo sair de seus apartamentos aquecidos com calefação, para fumar na rua, em uma temperatura abaixo de zero, e no meio da neve pesada.
Por toda essa praticidade e economia de mão de obra, as taxas condominiais são baixíssimas.
No caso de carros alugados, quando da devolução dos veículos, se for verificado vestígio de nicotina, a multa pode chegar a C$ 400.00.
Os bairros residenciais são dentro do estilo dos luxuosos “suburbs” americanos. Casas de alto padrão com amplos jardins, sem cercas, e ruas arborizadas, silenciosas, largas e seguras.
A cidade não tem áreas degradadas.
Impera um respeito absoluto pelo cumprimento de horários, tanto pelos ônibus como pelo metrô.  
Os pontos de ônibus têm terminais eletrônicos que informam qual o horário exato em que o próximo veículo vai passar. Britanicamente, tudo exatamente dentro do horário marcado, nem um minuto aquém e nem um minuto além.
Ao ir pegar um ônibus, o terminal mostrou que o próximo veículo chegava em 15 minutos. Para testar o sistema, fui tomar um café em uma cafeteria próxima. Para meu espanto, faltando 1 minuto para o término do tempo, o ônibus chegou pontualmente. 
A mesma coisa com o metrô que, aliás, não tem condutores.
Em Richmond, os ônibus têm indicativos em inglês e chinês. E, como nos Estados Unidos, tem apoio para bicicletas na frente dos coletivos e elevadores para cadeirantes.
Fui a um banco, e havia água gelada, café e chá para os clientes, além de amplo espaço com sofás, poltronas e revistas. E era uma agência bancária popular.
A indústria da reciclagem é muito ativa. Quase tudo é reciclado, desde papel, madeira, vidros, plásticos e metais. Só não vi reciclagem de produtos orgânicos.
Existem postos para recebimento de material reciclável em várias partes da cidade. Fui a um desses postos e vi um chinês tirar de seu carro dois sacos grandes de garrafas de plástico. Apurou uns C$ 40.00.
Existem shoppings imensos, com uma grande variedade de produtos de todas as procedências, a preços bem baixos. Como nos Estados Unidos, existem muitas promoções, e o uso   dos bônus e cupons de ofertas é um recurso intensamente usado por toda a população.    
As áreas de alimentação contam com filiais internacionais de cadeias de fast-food, muitas ainda desconhecidas no Brasil.
Prepondera a cozinha chinesa com um toque japonês, o que torna a culinária muito variada e apetitosa.
Até agora sinto falta das saborosas sopas bem quentes de legumes com camarões, lagosta, peixe, lulas e polvo, servidas em largas tigelas, seguidas do prato principal que eram generosas porções de salmão fresco preparado com óleo e ervas finas, com arroz cremoso e legumes. Tudo regado com um bom vinho tinto/branco do Canadá. É para a gente se babar. Dá vontade de pegar um avião e voltar ao Canadá só para saborear novamente aquelas iguarias.
É importante frisar que o Canadá é a terra do salmão, que tem um sabor especial, pois é pescado nos rios e corredeiras, e não criado em fazendas de piscicultura.
Nos grandiosos shoppings, que também contam com áreas de supermercado, pode-se apreciar a venda de imensas lagostas, “crabs” (caranguejos gigantes pescados no fundo do mar), e peixes que vivem nas profundezas oceânicas. Todos vivos e expostos em grandes aquários para escolha dos clientes.
Os cinemas são luxuosíssimos e caros. Mas existem as promoções baratas no meio da semana.
Existem outras localidades de maioria indiana, judeus, ucraniana, etc. Todas também de alto padrão.
E todos se vestem da forma característica como em seus países de origem.
É admirável cruzarmos pelas ruas com aquela diversidade humana, cada um com trajes típicos e falando línguas diferentes.
O inglês prevalece como língua oficial.
Na área de Quebec, excepcionalmente, prepondera a língua francesa.
Como se pode ver, é uma vasta miscelânea de nacionalidades, culturas, hábitos e línguas. Mas o importante é que tudo funciona pacífica e perfeitamente.
Encontramos uma brasileira de Belo Horizonte, que estuda e trabalha em Vancouver. E aí tomamos conhecimento da existência de uma comunidade brasileira em Richmond.
O Canadá tem uma política inteligente de imigração.
Suas portas estão abertas para cidadãos de qualquer país.
Mas eles selecionam ao extremo as pessoas que desejam imigrar para o Canadá.
O controle é severo e abrange uma investigação completa da vida pregressa da pessoa, sua formação universitária e experiência profissional, a condição para seu sustento no país, vivência internacional, conhecimento de línguas, entre diversas outras exigências.
Ou seja, o Canadá prioriza a importação de cérebros.
Mas confesso que me senti um tanto incomodado pela falta   de entrosamento social. Os brasileiros que se mudam para o Canadá, no início, devem sofrer muito com o isolamento social.
Mas com o tempo, se adaptam e formam seu círculo de amigos.
Como uma pessoa disse, é fácil nos acostumarmos com o progresso, a segurança e a ordem. O caminho inverso é que é traumático.
Não consegui enxergar outros problemas além das adaptações iniciais e naturais em um novo país, e   fiz, a mim mesmo, a pergunta que muitos estrangeiros se fazem quando visitam o Canadá:
-O Canadá é o país perfeito para se viver?
Certamente o Canadá tem diversas outras virtudes, mas também deve ter seus próprios e peculiares problemas.
Por tudo que expus acima, recomendo a qualquer pessoa que não perca a oportunidade de visitar esse fantástico país que é o Canadá. É uma experiência inesquecível que nos deixa admirados e saudosos.
Agora que estou de volta ao Brasil, ainda afetado pelo desagradável “jet lag”, devido às muitas horas de voo, me deparo com toda essa ebulição que a Operação Lava-Jato está provocando no meio político, na economia, e no país como um todo.
Pode parecer paradoxal, mas esse verdadeiro furacão em que o país está mergulhado, me deixa satisfeito.
A nação está passando por uma barreira de choque e sairá transformado desse processo.
O povo também mudará e será o maior beneficiário dessa profunda revolução pela qual estamos passando.
Mas isso é matéria para outro artigo.
Se há alguma mensagem que gostaria passar para todos é que tenham fé no Brasil.
Este é o caminho.
Atenciosamente

Adaí  Rosembak
Associado da AAFBB, ANABB e ANAPLAB

6 comentários:

  1. Não estava entendendo sua ausência. Instrutiva e preciosa informação sobre o Canadá. Parece o lugar ideal onde residir. Isso, sim, é Ordem e Progresso. Não existiria, como base, uma ideal proporção entre PIB e população?
    Edgardo Amorim Rego

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    1. Caro Ed,

      Eu poderia falar muitas coisas mais sobre o Canadá, mas aí seria um tratado não um artigo.
      Em relação à sua pergunta, pelo que li e fui informado, o Canadá teve um crescimento em 2016 em torno de 3,7%, o que é um índice invejável.
      O Canadá é um grande parceiro dos Estados Unidos nas áreas sensíveis de TI aplicada à área militar e de segurança, informações, alta tecnologia e indústria de ponta. O Canadá e os Estados Unidos tem uma colaboração estreita nesses campos.
      E continua tendo apesar das recentes rusgas causadas pelo Trump.
      As universidades do Canadá estão entre as mais avançadas do Mundo e, como disse no artigo, eles tratam de atrair os melhores cérebros de todo o Mundo.
      Confesso que não analisei essa parte técnica de relação PIB/população.
      A população total do Canadá gira em torno de 33 milhões de pessoas, ou seja 1/10 da população americana, mas o Canadá não tem nichos de miséria que, por incrível que pareça, encontramos nos Estados Unidos.
      Já viajei um pouco e nunca vi um país com tanto progresso, civilidade e organização social.
      É de cair o queixo.

      Abração deste admirador de seu blog

      Adaí Rosembak

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  2. Caro Adaí,

    Admirável o seu relato, e compreendo bem o entusiasmo diante da organização, progresso e respeito mútuo dos países que você visitou.

    Mas prefiro nosso sistema ainda em formação a aqueles paraísos.

    Penso que, quando o regramento do comportamento da sociedade atinge um estágio como o descrito, ele impõe também a cada cidadão, em particular, uma disciplina maçante que acaba por tolher um bem maior, que é a liberdade de cada um.

    Claro que a liberdade individual deve estar sempre sujeita à coletiva, mas ainda assim o excesso de regras será sempre um ponto questionável.

    Mas, muito bom o artigo, valeu.
    Lydio

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    1. Caro Lydio,

      Concordo com algumas de suas afirmações e discordo de outras.
      Aprecio a nossa real mesclagem de raças; o Canadá não é assim.
      Somos muito extrovertidos e, apesar, da crise e das mudanças pelas quais estamos passando, o povo é alegre e sorridente e parece estar sempre de bem com a vida quando, na verdade, não é assim. Ou seja,essa forma de encarar a vida, é mais uma virtude nossa.
      O canadense não leva uma disciplina maçante. O que existe realmente é o respeito pelos seus semelhantes. E vigora o pensamento de que só com trabalho duro, estudo avançado e sério, espírito público. e honestidade, se consegue construir uma nação de alto nível.
      O canadense leva boa vida, mora muito bem, se alimenta, se veste e se educa muito bem.
      Pratica esportes mais do que aqui e também joga futebol como o brasileiro.
      Tem uma vida cultural intensa, tem muitos teatros, bibliotecas e cinemas.
      Existem muitos festivais de música e de filmes, cafés e choperias onde as pessoas se reúnem para jogar discutir qualquer assunto, sem qualquer censura,existem encontros culturais e políticos, enfim, tem de tudo.
      Há um clima de confiança e segurança, e não de desconfiança e medo como ocorre aqui.É duro dizer isso sendo brasileiro.
      Mas, infelizmente, é por tudo isso que não concordo com o que você diz.
      Mas, como bom brasileiro,tenho muita fé e esperança em meu país,e penso que estamos passando por tempos de ajuste e que sairemos dessa situação muito melhores.
      Em relação a regras e disciplina, cá para nós, aqui também existem regras mas elas não são seguidas. E muito menos a disciplina
      Vamos ver aonde iremos chegar depois desse furacão que estamos atravessando.
      Sonho em tempos melhores !!

      Abração

      Adaí Rosembak

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  3. Caro Colega,

    Gostei do seu comentário mas ele foi muito limitado.
    Você acha que em um mês em um país dá para conhecer tudo?
    Você teve uma ideia de turista e não de morador local.
    Pense nisso.

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    1. Caro Anônimo,
      Claro que em um mês só se pode ter uma visão de turista.
      Mas foi o que bastou para ter uma visão maravilhosa daquele país.
      Sendo sincero, você acha que um turista que vem ao Brasil precisa de muito tempo para perceber pela miséria, violência e corrupção que vivemos - infelizmente, friso - que este país está doente e em mutação?
      Desculpe-me, mas já trabalhei com apartamentos por temporada para estrangeiros e não há como negar a decepção da maioria deles.
      Lamentavelmente é isso.

      Adaí Rosembak

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