UM NOVO CAMINHO PARA A ESQUERDA NO BRASIL

As expressões faciais de Lula quando acompanhava Dilma Rousseff em sua saída do Planalto, me deixaram compadecido.

No meio daquele sol escaldante, ele estava cansado e constrangido, com a mente distante de todo aquele espetáculo deprimente, a acompanhar aquela mulher desvairada que não parava de discursar e gritar para aquele grupo de sectários desatinados, a repetir chavões, e sem a mínima noção do papel patético que estava representando.

Ele era o retrato de um líder arrependido com a escolha de sua substituta e desencantado com a falência de um sonho e um projeto pessoal para a construção de uma sociedade mais justa e um país mais progressista.

Ele parecia perguntar a si mesmo: “Como é que fui escolher uma pessoa como essa? ” Ou, no linguajar caboclo, “Onde amarrei minha cabrita? ”

A saída mais lúcida e sensata que encontrou para fugir daquele suplício, foi abrir caminho e andar rápido para seu carro, e dizer para os que o abordavam e se colocavam em seu caminho: “Quero ir para casa. Estou cansado !! ”

Agora pode estar se dizendo –  com certa razão – que se ele próprio fosse o presidente do Brasil a situação não teria chegado àquele ponto.

Sim, Lula.  É possível. Nunca fui petista e nunca votei em você.

Mas tenho empatia pela sua atuação como político.

Você sabe ouvir e gosta do contato humano. Você é um líder   político nato e um comunicador emérito.

Você tem a pureza e a autenticidade do caboclo nordestino.

Foi por essa razão que, durante dois períodos como presidente, mobilizou as massas.

Você veio de origem humilde, mas tem sensibilidade pessoal apurada e não teria permitido que os problemas tivessem se deteriorado de tal forma até chegar a um ponto sem retorno.

Você teria entrado em contato estreito com sua base aliada. Teria discutido ideias factíveis para contornar a situação aflitiva em que o Brasil se encontrava até chegar a soluções viáveis que resolvessem os problemas.

Mas a “presidenta” que você escolheu era uma pessoa avessa a contatos pessoais, e era uma pessoa autoritária, grosseira, mal-educada, desrespeitosa e sem traquejo com as pessoas. Não ouvia ninguém e destratava seus próprios auxiliares diretos e aliados políticos. Aliás, nunca gostou de política e muito menos de políticos.  

Muitos dizem que a razão principal da queda de Dilma Rousseff, deve-se ao fato dela não gostar de ninguém e ninguém gostar dela.

A imprensa já noticiou episódios em que ela agrediu uma empregada com cabides, humilhou um general quando o expulsou de seu elevador pessoal, e deu uma descompostura em José Sérgio Gabrielli, Presidente da Petrobrás, que o levou às lágrimas.  Em outro caso, insultou de forma tão estúpida uma ministra da área social, que a mesma não conteve a micção. Os casos são inúmeros.

Ser ex-guerrilheira e talvez ex-assassina também não credencia ninguém a ser um estadista.

O falecido Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, foi justamente acusado pela Comissão da Verdade de ter sido torturador durante a ditadura militar.  Mas o processo de acusação de que Dilma Rousseff assassinou barbaramente o soldado do Exército Mário Kozel Filho, nunca veio ao conhecimento público. Terezinha Kozel, mãe do Mário, nunca foi sequer entrevistada.

Realmente, companheiro Lula, não dá para entender como você escolheu uma pessoa como essa para o suceder.

Em uma metáfora bem franca, você colocou uma macaca em uma loja de cristais.

Quantas outras pessoas mais hábeis você poderia ter escolhido para lhe substituir? Essa pergunta deve estar atormentando sua consciência.

Agora é tarde. Não adianta chorar pelo leite derramado.

Aliás, essa não foi a única opção errada que você fez.

Você também deve estar com a cabeça inchada com essa investigação da Operação Lava-Jato pelo sítio em Atibaia e pelo tríplex de frente para o mar.

A esta altura dos acontecimentos, você também deve estar amaldiçoando esse sítio e esse apartamento. Coisas da vida!!

Mas você está vivo.

Renuncie de vez a esses bens. Olhe para o futuro.

Reconstrua o PT em novas bases.

E nunca se esqueça de que acima do PT está o Brasil e seu povo.

O país precisa de oposição. A democracia precisa do contraditório.

Você ainda está no comando do processo.

Como um comandante que luta para evitar o afundamento de seu navio avariado, seja rápido, audacioso, não tenha medo nem pejo, e jogue ao mar o lixo radical de seu partido.

E esse lixo não só seguidores extremistas que prometem uma luta ferrenha e sem tréguas ao novo governo, mas também ideais e dogmas superados pela história.

Refunde o PT dentro de um caminho socialista viável e de convivência democrática, sensata e civilizada dentro do Congresso.

O PT conta com quadros brilhantes que se sentem constrangidos com a situação em que o PT se colocou, e colocou o país.  

Outros companheiros valorosos já haviam abandonado o partido por essas razões.

Procure-os e refaça as alianças.

Afaste-se desses “ativistas fanáticos e alucinados” que prometem um ataque sem quartel ao “golpe reacionário”.

Entenda de uma vez por todas que, da mesma forma como aconteceu em 1964, novamente a esquerda caiu de podre, por absoluta incapacidade de convivência com valores democráticos, e por miopia em relação à situação econômica e social do país.

Caiu, desta vez, não por força das baionetas e nem por uma ditadura militar de 21 anos, mas por força da pressão popular, e pela atuação do Poder Judiciário e pelo Poder Legislativo, dentro de um ambiente de absoluta normalidade democrática e jurídica.

Estamos sendo visionários em nossas propostas e em nossa visão de Estado?

Não, absolutamente não!!

Essas não são propostas para destruir a esquerda.

São propostas para reconstruir a esquerda dentro do atual contexto histórico e de valores democráticos.

Para o progresso e o equilíbrio democrático do país a atuação da esquerda não só é possível como também é fundamental.

Esse conflito interno e essa depuração dentro da esquerda vai ser um processo inevitável e sem um prazo de término.

Mas após essa reciclagem e essa revitalização, a esquerda ressurgirá rejuvenescida, renovada e imprescindível para a democracia e o progresso do Brasil e de seu povo.

Adaí  Rosembak

Associado da AAFBB, ANABB, AFABB-RS e ANAPLAB