Caros
Companheiros,
Transcrevo
adiante o realista texto elaborado pela Companheira ISA MUSA DE NORONHA,
transcrito do blog de JOÃO CARLOS LAGO NETO.
Com o
brilhantismo de sempre, ISA MUSA DE NORONHA apresenta a aflitiva realidade de
nossos dias nas agências bancárias.
A última vez
em que fui a uma agência bancária me deparei com a apavorante situação
apresentada pela companheira ISA.
Havia um
único funcionário para atender a uma fila de clientes e, para culminar, uma
senhora nervosa, estava em prantos por não conseguir, apesar de diversas
tentativas, processar uma operação um pouco mais complexa na máquina de autoatendimento.
As únicas
pessoas que assistiam à tudo aquilo sem poderem ajudar por serem proibidos em
razão de seu trabalho, eram
uns cinco seguranças que, apesar de não poderem colaborar para a solução daquela situação aflitiva, por
outro lado contribuam para a queda do nível de desemprego em nosso país.
Confesso que me
senti muito incomodado por reviver um clima pelo qual passei há 30 anos atrás
quando fui gerente de uma agência do BB no interior da Bahia. Em outro artigo
descreverei aspectos tragicômicos dessa experiência.
Parabéns
renovados à colega ISA MUSA DE NORONHA, pelo chocante, sensível e humano relato.
Espero que
todos apreciem e reflitam sobre os desafios dos novos tempos.
Abraços em
todos.
ADAÍ ROSEMBAK
Associado da
AAFBB e ANABB
O FUTURO
SOMBRIO DA HUMANIDADE DEVIDO À AUTOMAÇÃO (TEXTO DE ISA MUSA DE NORONHA)
Rio de
Janeiro RJ, 04 de janeiro de 2024
“Comerás o
Pão Com o Suor do Teu Rosto”
Entrei hoje
em uma agência bancária e procurei um funcionário para um atendimento que não
foi possível obter por meio de internet, e tampouco, nas máquinas de
autoatendimento.
Reparei a
existência de seis mesas, duas ocupadas por funcionários e as outras quatro
vazias.
Perguntei ao
atendente sobre a ausência dos seus colegas naquelas mesas enquanto duas dezenas
de pessoas aguardavam atendimento.
A resposta
foi com um tom abatido e cabisbaixo: “estão na rua
da amargura”.
Podemos
constatar que isto está acontecendo em todas as agências de todos os bancos e
empresas da área financeira.
Não mais interessam
agências com muitos funcionários,
recintos lotados de pessoas que dependem de atendimento de caixas.
Isto não dá o
lucro previamente estipulado, dá somente despesas indesejáveis.
Os serviços
bancários lucrativos estão migrando para o mundo digital através de aplicativos
criados para telefones celulares, conhecidos por smartphones.
Fornecimento
de dados, informações e documentos serão feitos por essa via digital, sob
senha.
Os débitos e
créditos decorrentes de contratações de financiamentos entrarão na conta
corrente do cliente por essa mesma via.
Não precisa
comparecer à agência.
Aliás, as
agências não mais existirão.
Somente
gabinetes fechados com um ou dois funcionários contratados, amplamente
preparados e especializados.
Eles aprovam
e contratam uma operação, ou em outra hipótese, não sendo de sua alçada,
submetem a uma superintendência que não
tarda em retornar o resultado da operação.
Aqueles “clientes”
que lotavam o salão de espera das agências bancárias estão agora pagando tudo
pelo celular.
O que
chamamos de benefícios da evolução tecnológica tem o seu lado perverso e
desumano.
A tendência
de todas as áreas da atividade econômica, sem distinção, é progressivamente
eliminar a dependência da participação da inteligência da “mão de obra” humana.
Percebe-se
isto até mesmo no serviço de “telemarketing”.
Quem não foi
vítima daquela voz gravada dizendo: “obrigado por sua ligação; digite 1 para
tal coisa, digite 2 para isso, digite 3 para aquilo, 4 para falar com um dos
nossos atendentes ou 5 se desejar ouvir esta mensagem novamente”.
Na indústria
automotiva, braços e mãos computadorizados fazem movimentos precisos na
montagem completa de centenas de unidades em um só dia que, lá na ponta, saem já pintados com as
cores também programadas.
Requer uma
mínima atuação humana neste processo.
Na indústria
agropecuária ocorre o mesmo. Vemos com frequência enormes máquinas operadas por
um único homem ou mulher, percorrendo áreas a perder de vista, recolhendo
seletivamente espigas de milho, e num processo interno descasca a espiga e
debulha o milho que sai jorrado por extensa tubulação enchendo containers que,
por sua vez, vazam para dentro de sacos, que são automática e caprichosamente fechados.
A casca e o
sabugo são automaticamente separados.
Este mesmo
processo ocorre com a colheita da soja, do trigo, do arroz, do café e de outros
produtos.
O
desenvolvimento econômico que gera orgulhosos índices para o PIB, a balança
comercial gerando ganhos com exportação sobre importação, não são indicativos
de desenvolvimento humano.
Tampouco o
desenvolvimento econômico nas condições de sofisticada automação já expostas
pode ser indicativo de criação de empregos.
Indicam sim, lucros
extraordinários aos produtores e distribuidores, sejam eles indivíduos ou
empresas, enquanto as classes operárias amargam o desamparo de suas famílias em
grau alarmante, diante a omissão do Estado e da indiferença pecaminosa daqueles
que mais se beneficiam com esse desenvolvimento econômico obtendo lucros
escorchantes sem proporcionar retribuição à altura para as camadas inferiores
da escala social que constituem a maioria da população.
Neste ritmo
inexorável de eliminação da necessidade da participação humana no sistema produtivo
que afeta não só nosso Brasil, mas quase
a totalidade das nações ocidentais e algumas do extremo oriente, os governos e
as grandes empresas que formam impérios econômicos, que por sua natureza são
insensíveis aos dramas e sofrimentos humanos, deverão e precisarão constituir uma
política social que proporcione um amparo digno à grande e crescente massa de
desamparados à margem de qualquer possibilidade de trabalho e de consumo. Isto sob pena de uma justificada e violenta
revolta civil.
A História
tem memória, é só recorrermos a ela para verificar esses acontecimentos no
passado recente e distante.
Dia desses, passava
eu diante de uma escola, e acompanhei passo a passo aquela multidão alegre e barulhenta
de garotas e garotos saindo pelo portão, arcados com suas pesadas mochilas nas
costas. Muitos rindo e alegres, outros caminhando com suas cabecinhas baixas,
olhando para o chão.
Fiquei a
pensar o que se passava nas suas mentes e nos coraçõezinhos daqueles jovenzinhos,
o que os faziam rir uns, enquanto outros tristonhos.
Quais suas
motivações e quais os seus dramas.
Como seriam seus
caminhos a percorrer, e o que a vida reservava a eles, futuros cidadãos e
cidadãs de um futuro incerto e cada vez mais preocupante.
Pedi
imensamente a Deus, e com lágrimas nos olhos, que cuidasse deles e os protegesse
sempre, no longo e incerto caminho que terão que percorrer.
Que nunca
lhes falte o “pão de cada dia” e a alegria de viver.
ISA MUSA DE
NORONHA