domingo, 7 de janeiro de 2024

O FUTURO SOMBRIO DA HUMANIDADE DEVIDO À AUTOMAÇÃO (TEXTO DE ISA MUSA DE NORONHA)

Caros Companheiros,

Transcrevo adiante o realista texto elaborado pela Companheira ISA MUSA DE NORONHA, transcrito do blog de JOÃO CARLOS LAGO NETO.

Com o brilhantismo de sempre, ISA MUSA DE NORONHA apresenta a aflitiva realidade de nossos dias nas agências bancárias.

A última vez em que fui a uma agência bancária me deparei com a apavorante situação apresentada pela companheira ISA.

Havia um único funcionário para atender a uma fila de clientes e, para culminar, uma senhora nervosa, estava em prantos por não conseguir, apesar de diversas tentativas, processar uma operação um pouco mais complexa na máquina de autoatendimento.

As únicas pessoas que assistiam à tudo aquilo sem poderem ajudar por serem proibidos em razão de seu trabalho,    eram uns cinco seguranças que, apesar de não poderem colaborar  para a solução daquela situação aflitiva, por outro lado contribuam para a queda do nível de desemprego em nosso país.

Confesso que me senti muito incomodado por reviver um clima pelo qual passei há 30 anos atrás quando fui gerente de uma agência do BB no interior da Bahia. Em outro artigo descreverei aspectos tragicômicos dessa experiência.

Parabéns renovados à colega ISA MUSA DE NORONHA, pelo chocante, sensível e  humano relato.

Espero que todos apreciem e reflitam sobre os desafios dos novos tempos.

Abraços em todos.

ADAÍ ROSEMBAK

Associado da AAFBB e ANABB

 

O FUTURO SOMBRIO DA HUMANIDADE DEVIDO À AUTOMAÇÃO (TEXTO DE ISA MUSA DE NORONHA)

Rio de Janeiro RJ, 04 de janeiro de 2024

 

“Comerás o Pão Com o Suor do Teu Rosto”

Entrei hoje em uma agência bancária e procurei um funcionário para um atendimento que não foi possível obter por meio de internet, e tampouco, nas máquinas de autoatendimento.

Reparei a existência de seis mesas, duas ocupadas por funcionários e as outras quatro vazias.

Perguntei ao atendente sobre a ausência dos seus colegas naquelas mesas enquanto duas dezenas de pessoas aguardavam atendimento.

A resposta foi com um tom abatido e cabisbaixo: “estão na rua da amargura”.

Podemos constatar que isto está acontecendo em todas as agências de todos os bancos e empresas da área financeira.

Não mais interessam agências  com muitos funcionários, recintos lotados de pessoas que dependem de atendimento de caixas.

Isto não dá o lucro previamente estipulado, dá somente despesas indesejáveis.

Os serviços bancários lucrativos estão migrando para o mundo digital através de aplicativos criados para telefones celulares, conhecidos por smartphones.

Fornecimento de dados, informações e documentos serão feitos por essa via digital, sob senha.

Os débitos e créditos decorrentes de contratações de financiamentos entrarão na conta corrente do cliente por essa mesma via.

Não precisa comparecer à agência.

Aliás, as agências não mais existirão.

Somente gabinetes fechados com um ou dois funcionários contratados, amplamente preparados e especializados.

Eles aprovam e contratam uma operação, ou em outra hipótese, não sendo de sua alçada, submetem  a uma superintendência que não tarda em retornar o resultado da operação.

Aqueles “clientes” que lotavam o salão de espera das agências bancárias estão agora pagando tudo pelo celular.

O que chamamos de benefícios da evolução tecnológica tem o seu lado perverso e desumano.

A tendência de todas as áreas da atividade econômica, sem distinção, é progressivamente eliminar a dependência da participação da inteligência da “mão de obra” humana.  

Percebe-se isto até mesmo no serviço de “telemarketing”.

Quem não foi vítima daquela voz gravada dizendo: “obrigado por sua ligação; digite 1 para tal coisa, digite 2 para isso, digite 3 para aquilo, 4 para falar com um dos nossos atendentes ou 5 se desejar ouvir esta mensagem novamente”.

Na indústria automotiva, braços e mãos computadorizados fazem movimentos precisos na montagem completa de centenas de unidades em um só dia  que, lá na ponta, saem já pintados com as cores também programadas.

Requer uma mínima atuação humana neste processo.

Na indústria agropecuária ocorre o mesmo. Vemos com frequência enormes máquinas operadas por um único homem ou mulher, percorrendo áreas a perder de vista, recolhendo seletivamente espigas de milho, e num processo interno descasca a espiga e debulha o milho que sai jorrado por extensa tubulação enchendo containers que, por sua vez, vazam para dentro de sacos, que são automática e caprichosamente fechados.

A casca e o sabugo são automaticamente separados.

Este mesmo processo ocorre com a colheita da soja, do trigo, do arroz, do café e de outros produtos.

O desenvolvimento econômico que gera orgulhosos índices para o PIB, a balança comercial gerando ganhos com exportação sobre importação, não são indicativos de desenvolvimento humano.

Tampouco o desenvolvimento econômico nas condições de sofisticada automação já expostas pode ser indicativo de criação de empregos.

Indicam sim, lucros extraordinários aos produtores e distribuidores, sejam eles indivíduos ou empresas, enquanto as classes operárias amargam o desamparo de suas famílias em grau alarmante, diante a omissão do Estado e da indiferença pecaminosa daqueles que mais se beneficiam com esse desenvolvimento econômico obtendo lucros escorchantes sem proporcionar retribuição à altura para as camadas inferiores da escala social que constituem a maioria da população.

Neste ritmo inexorável de eliminação da necessidade da participação humana no sistema produtivo que afeta  não só nosso Brasil, mas quase a totalidade das nações ocidentais e algumas do extremo oriente, os governos e as grandes empresas que formam impérios econômicos, que por sua natureza são insensíveis aos dramas e sofrimentos humanos, deverão e precisarão constituir uma política social que proporcione um amparo digno à grande e crescente massa de desamparados à margem de qualquer possibilidade de trabalho e de consumo.  Isto sob pena de uma justificada e violenta revolta civil.

A História tem memória, é só recorrermos a ela para verificar esses acontecimentos no passado recente e distante.

Dia desses, passava eu diante de uma escola, e acompanhei passo a passo aquela multidão alegre e barulhenta de garotas e garotos saindo pelo portão, arcados com suas pesadas mochilas nas costas. Muitos rindo e alegres, outros caminhando com suas cabecinhas baixas, olhando para o chão.

Fiquei a pensar o que se passava nas suas mentes e nos coraçõezinhos daqueles jovenzinhos, o que os faziam rir uns, enquanto outros tristonhos.

Quais suas motivações e quais os seus dramas.

Como seriam seus caminhos a percorrer, e o que a vida reservava a eles, futuros cidadãos e cidadãs de um futuro incerto e cada vez mais preocupante.

Pedi imensamente a Deus, e com lágrimas nos olhos, que cuidasse deles e os protegesse sempre, no longo e incerto caminho que terão que percorrer.

Que nunca lhes falte o “pão de cada dia” e a alegria de viver.

ISA MUSA DE NORONHA

 

 

 

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