Muitos companheiros nos perguntam porque, ao invés de nos debruçarmos
somente sobre assuntos inerentes aos
nossos interesses, nos aventuramos a
tecer discussões sobre economia e
política nacionais e até internacionais.
É fundamental considerarmos que não somos uma ilha. Todos os nossos
problemas e interesses estão intrinsicamente ligados aos rumos da política e da
economia do país e do mundo como um
todo.
Os interesses dos aposentados e pensionistas da PREVI obedecem às mesmas
diretivas que regem todos os demais fundos de pensão do país.
Mas os associados da PREVI, pelo fato de terem sido bancários estão mais
preparados para lidar com problemas de ordem burocrática, fiscal, contábil,
legal e outros, que são matérias inerentes
ao desempenho da função bancária.
A par disso, contamos com o apoio de
grandes associações como ANABB , AAFBB, AFABBs, e outras, que contam com dezenas de milhares
de associados e que defendem nossos interesses.
Essas associações possuem sites e jornais que mantém os associados
sempre atualizados com os assuntos pertinentes à classe.
Lembro-me que, quando compareci a
uma assembleia extremamente tensa do AERUS que discutia os rumos da categoria
com o interventor nomeado pelo governo,
um aeroviário fez um aparte muito objetivo sobre uma das razões que levaram os
beneficiários e pensionistas do AERUS àquela trágica situação. Disse ele que,
como comissário de bordo, vivia literalmente no ar em relação aos assuntos burocráticos pertinentes à sua categoria.
O tempo em terra era para fazer cursos de aperfeiçoamento em sua área e descansar para voar novamente. Pagava
religiosamente suas contribuições para o fundo de pensão mas não acompanhava os
assuntos relativos à sua categoria. Em suma, era um desinformado.
O mesmo acontece com beneficiários de outros fundos de pensão que
prefiro omitir.
Pelas razões acima expostas é que, nas minhas notas, sempre estendo
minhas considerações além dos limites de nossos exclusivos interesses, para que
tenhamos uma visão global do contexto em que estamos inseridos o que, certamente, evitará que incorramos em erros devido à
ignorância de aspectos importantes que não sejam abordados.
Adiante transcrevo o artigo “Algum erro é dose” da jornalista Miriam Leitão , publicado
na edição de 18.03.2015, do jornal O Globo. Também publico texto de mensagem
encaminhada àquela articulista em que teço algumas observações sobre seu tão
bem elaborado texto.
Adaí Rosembak
Associado da AAFBB, ANABB, AFABB-RS e ANAPLAB
Cara Miriam Leitão,
Sou um leitor assíduo de sua coluna no O GLOBO.
Tenho o blog ADAIROSEMBAK.BLOGSPOT.COM.BR e, frequentemente, reproduzo
suas matérias sempre citando seu nome e
o veículo O GLOBO.
Gostei muito de seu artigo “Algum erro é dose”, na edição de 18.03.2015
do O GLOBO, em que você expõe detalhadamente todo o corolário de ações
catastróficas tomadas no primeiro
Governo de Dilma Rousseff.
Mas considero que não foram erros mas sim medidas premeditadas e
meticulosamente executadas. Sim, porque erro pode ser o resultado de um gesto
involuntário, de uma falha eventual sem dolo e sem qualquer objetivo
pré-determinado.
Não foi o que ocorreu no primeiro período de Dilma Rousseff. Foram
medidas econômicas meticulosamente planejadas e ardilosamente
implementadas com o objetivo
precípuo de inviabilizar qualquer
perspectiva de sucesso da oposição na eleição que se avizinhava.
Pouco importava se, dessa forma, se comprometesse a saúde econômico-financeira
do país e se incrementasse o desemprego e a miséria de seu povo.
Esse era apenas um detalhe
irrelevante frente ao objetivo
maior que era a vitória da candidata nas eleições.
Logo não é adequado dizer que houveram erros.
Foram manobras intencionais e com objetivos definidos.
Houve dolo. Foram cometidos delitos, a presidente mentiu
despudoradamente e o povo foi enganado.
Causou-me estranheza que esse aspecto
não fosse ressaltado em sua magnífica nota bem como não fosse citado o
papel crucial de Guido Mantega que
foi o grande desestruturador da economia brasileira.
Aliás, não é só sua coluna nem somente O Globo que não noticiam essas mazelas.
É a imprensa de forma geral.
Todo o foco da mídia debruça-se basicamente na corrupção, principalmente
na Petrobrás com a operação Lava-Jato ,
que foi outro aspecto deplorável do
péssimo primeiro Governo de Dilma Rousseff.
De resto só me resta lhe parabenizar pelo oportunismo, objetividade e
seriedade de seu artigo.
Adaí Rosembak
Na economia, a
presidente Dilma admitiu “algum erro de dosagem”, mas não disse de que medida
falava. O descuido com a inflação levou o país ao estouro do teto da meta; os
estímulos ao crescimento produziram rombo fiscal e o país parou de crescer; o
populismo na energia acabou em tarifaço. Não foi “algum erro”. Foram vários.
Não foi apenas a dose, o remédio estava errado.
Havia uma política
econômica até a reeleição, e há outra, que começou a ser anunciada após as
eleições. A segunda tem alguma chance de corrigir os efeitos deletérios da
primeira. Mas o governo começa a dar sinais de que vai reduzir a dose das
políticas de ajuste, admitindo, por exemplo, rever as correções da pensão por
morte.
O ministro Nelson
Barbosa falou, quando propôs a revisão desse item na nova política, que era
necessário acabar com exageros no sistema brasileiro, já abolidos em muitos
países do mundo. Mesmo assim, a viúva ou viúvo jovem não será desamparado. Se
tiver 21 anos ou menos, terá três anos de pensão; se tiver de 22 a 32, terá
seis anos. E assim progressivamente. A partir de 44 anos, a pensão é vitalícia.
Agora, o governo está alterando essa proposta.
O governo começa a
reduzir a dose das medidas que podem fazer o ajuste, mas não admite que fez uma
overdose de subsídios e estímulos sem benefício algum para a economia. O
Tesouro se endividou em quase R$ 500 bilhões para repassar ao BNDES, sem
resultado na manutenção do crescimento. Os subsídios dados à indústria
automobilística não tiveram efeito permanente. Das medidas de estímulo, a única
com vantagens mais bem distribuídas pela economia foi a desoneração da folha
salarial.
A equipe econômica
anterior declarou ter desenvolvido uma nova atriz macroeconômica. Foi um
equívoco redondo. Não era uma matriz, era a volta do mais velho dos defeitos, o
governo gastar além da conta. Isso nos trouxe o resultado de sempre: a dívida
bruta disparou, o déficit público ficou em nível insustentável e perigoso, o
déficit em transações correntes cresceu muito. A inflação, ao ser reprimida
através de populismo tarifário na eletricidade e na gasolina, desequilibrou as
finanças das distribuidoras de energia e da Petrobras. Os preços ficaram
irreais e, mesmo assim, a inflação permaneceu alta. Hoje, a nova equipe da
mesma presidente fala em “realismo tarifário”.
O BNDES não vai mais
receber aportes bilionários do Tesouro como antes, o Banco Central não tentará
forçar uma taxa de câmbio com exposição excessiva no mercado futuro, não haverá
mais reduções de IPI para carro, a gasolina não terá mais preço defasado. A
nova equipe admite que a dívida aumentou, o déficit está alto e tudo isso
precisa ser corrigido. Logo, não foi apenas um mudança de dose do remédio.
Mudaram o diagnóstico e a receita.
A política econômica
estava totalmente errada antes; a nova nega as premissas anteriores, ainda que
não tenha proposto todas as medidas necessárias à correção. Mesmo assim, é a
nova política que está sob ataque dos partidários da presidente, e ela é que
está tendo sua dose reduzida nas negociações. A anterior não foi condenada.
Pelo contrário, a presidente disse que os adversários da suas decisões
econômicas queriam que as empresas quebrassem. Deveria ter revelado quem propôs
a tal quebradeira.
E por falar em
quebradeira, há muitas empresas hoje com sérios problemas financeiros, graves
desequilíbrios entre passivos e ativos. Isso é, em parte, suspensão dos
socorros do BNDES, dos quais haviam ficado dependentes e, em parte, derivado da
avassaladora corrupção nos negócios entre empreiteiras, fornecedores e
Petrobras. Sem os aditivos sequenciais nos contratos, para cobrir a
incompetência gerencial de algumas e o custo das propinas, muitas empresas
podem ter problemas.
A presidente Dilma
Rousseff reafirmou seu compromisso com a estabilidade da moeda. É bom que o
faça, ainda que entre a palavra e o gesto haja bastante distância. Gastos
excessivos, escondidos através dos truques contábeis promovidos pela equipe
anterior, minam a estabilidade. Tarifas reprimidas, também. Leniência com a
inflação no teto da meta, também. A política econômica estava errada. Não foi
apenas uma dose a mais.
Miriam Leitão - Colunista de O Globo