“Deixem a
China dormir porque, quando ela acordar, o
mundo vai estremecer”
Napoleão Bonaparte
Uma das poucas vantagens que
ainda restam para quem é profissional na
área de turismo é que grandes operadoras às vezes oferecem viagens
internacionais a preços bem baixos para os
promotores que mais se destacam nas vendas. São as chamadas “fam-tours” ou “tours de familiarização”, que tem o objetivo
de melhor prepararem os profissionais da área de turismo para a venda de seus
produtos.
Foi assim que, há dois anos, fui à China acompanhando minha mulher que trabalha
em turismo.
Quando viajamos para o exterior, embora nosso objetivo seja desfrutar
ao máximo dos prazeres que uma
viagem nos proporciona , sempre fazemos
comparações entre o país que visitamos e
o nosso próprio país.
Ao fazermos esses cotejamentos na China, ficamos tão espantados com a abissal diferença entre
nossos países, nossos povos , nossos costumes, nossa cultura e nosso
comportamento, que chegamos à conclusão que é inútil e sem sentido classificar
qualquer aspecto como bom ou ruim, certo ou errado, justo ou injusto. A única
conclusão a que chegamos é simplesmente de que somos completamente diferentes.
Mas, de qualquer forma, sempre ficamos admirados com a China e com as
características de seu povo, que levaram aquele país à posição de segunda
potência no planeta.
E, nesses momentos, nos
perguntamos , com uma ponta de amargura,
porque as coisas não poderiam
ser melhores no Brasil.
Também nos indagamos, olhando para o interior de nós mesmos , em quais
aspectos precisamos mudar para
evoluirmos para uma sociedade melhor.
Por isso, peço desculpa aos leitores por, além dos comentários
específicos sobre a viagem, me ater a referências sobre a
cultura e os aspectos históricos, econômicos , sociais e políticos que
são fundamentais para entendermos a China moderna.
Também peço compreensão para o tamanho desta nota. Procurei intercalar
o texto com relatos pitorescos e até
cômicos da viagem para tornar a leitura mais interessante.
Embora tenha procurado sintetizar
os temas abordados, falar de forma mesmo que genérica sobre a China, nos obriga a estender nossas considerações
muito além do que desejaríamos.
A China tem uma cultura antiga e
complexa que remonta há mais de 5.000 anos. A base da cultura , dos valores sociais e dos hábitos estão
alicerçadas no confuncionismo, no budismo e no taoísmo.
A China é composta por uma mescla
diversificada de etnias com costumes , tradições, línguas e dialetos diferenciados,
muitos dos quais, ao longo do tempo, desapareceram ou foram assimilados
pela predominante etnia han, que compõe
98% da população chinesa.
A China, em sua história, passou
por muitas guerras, invasões, vício do ópio, fome, extermínios e sofrimentos de
toda ordem.
Lembro um trecho de um livro que dizia que
“a China foi o único país que foi ao inferno e voltou”.
Como exemplo, lembramos que no
período do Governo de Mao Tsé Tung, as
avaliações de mortos , somente com o “Grande Salto para a Frente”, de 1958 a
1960, e a “Revolução Cultural”, de 1966 a 1976, foram de 75 a 100 milhões de pessoas.
A propósito, lembramos uma citação de Stálin que se encaixa nessa perspectiva histórica: “Uma única morte
é uma tragédia; um milhão de mortos é
uma estatística.”
Hoje, Xi Jinping, o atual Presidente da China e Presidente do
PCC-Partido Comunista Chinês, procura levar o progresso para o interior da
China, onde habitam 1 bilhão de chineses na área rural.
Lembro-me do livro “A Rússia Soviética na China”, de Chiang-Kai-Shek. A leitura desse livro nos dá uma visão muito realista para que possamos analisar a atual aproximação entre a China e a Rússia.
Esse é um assunto para ser abordado em um artigo específico.
Também li sobre a
sanguinária dominação do Japão sobre a
China durante a Segunda Guerra Mundial, principalmente o Massacre de Nanquim,
também chamado de o Estupro de Nanquim.
Para muitos que hoje acusam a China de ambições territoriais, lembramos que foi devido à Primeira Guerra
Sino-Japonesa de 1894-1895 que os
chineses perderam Taiwan e foram obrigados a reconhecer a independência da Coréia.
Até hoje o Japão não reconheceu as atrocidades cometidas e nem se
desculpou perante a China. Esta é uma nódoa que persiste nas relações entre o Japão e a China.
Alertamos que qualquer informação para quem queira viajar à China deve
ser obtida com pessoas que tenham feito alguma viagem recente àquele país.
O progresso e o nível de mudanças na China é tão acelerado que confunde
até os próprios chineses que se deslocam dentro de seu vasto território.
Antes de viajar, conversei com um amigo que tinha ido à China 10 anos
antes, e as informações que ele me deu estavam tão defasadas em relação ao que vi que parecia
que ele tinha falado de outro país.
O progresso da China, na casa de dois dígitos por ano, durante 30 anos
seguidos (desde o início da abertura econômica iniciada por Deng Xiaoping a
partir de 1978 ) promoveu o maior avanço econômico, industrial,
educacional e científico em um único
país em tão curto espaço de tempo na história da humanidade. Esse avanço econômico
centrou-se basicamente na região leste da China que concentra cerca de 400
milhões de habitantes, mais do que a população dos Estados Unidos.
O PCC – Partido Comunista
Chinês, é o único partido político na China e tem um total de 82 milhões de membros.
Essa informação é importante, pois o conceito de democracia na China é
diferente de como a entendemos no
Ocidente.
Na China prevalece o interesse coletivo sobre o interesse individual.
Para tanto, a disciplina e a ordem
são fundamentais e são mantidos com mão de ferro.
Essa é a razão que, na visão dos chineses, justificou o Massacre da
Praça da Paz Celestial em 1989.
Não há como fazer comparações com o que ocorre no Brasil.
Por exemplo, é absolutamente inconcebível que na China ocorram, como aqui
no Brasil, bloqueios de estradas e vias públicas por protestos de
grupos minoritários chamados de movimentos sociais, invasão e depredação de
prédios públicos em protestos, destruição de plantações e centros de
pesquisas por movimentos como o MST, ocupação
de prédios por grupos como MTST, invasão do Parlamento por desordeiros e
por grupos indígenas, que também
interrompem a construção de hidroelétricas e são denominados de povos e suas
terras dentro do território brasileiro são chamadas de nações. Na China é
absolutamente impensável que grupos
radicais que, por terem formação superior,
se julguem acima das demais pessoas, se organizem e promovam quebra-quebra
e a destruição do patrimônio público. Ou
que bandos de marginais armados até os dentes dominem , na base da violência, populações humildes de
vastas áreas nas grandes cidades, que
são usadas como escudos e incitadas a desafiar as autoridades e a polícia. Ou
ainda que a corrupção atinja níveis tão alarmantes na área pública em conluio
com grandes grupos empresariais.
Na China, os assuntos são decididos pelo PCC em razão do interesse
público, visando o progresso do país e o bem estar do povo.
Muitos poderiam dizer que a China
evoluiu no campo econômico mas não tem abertura política.
Os líderes do PCC gozam de um
alto nível de respeito e apoio junto ao povo. Seus membros
tem uma formação baseada na meritocracia, no trabalho árduo e
na formação confunciana e taoísta.
O PCC não pode ser comparado, dentro da concepção ocidental, a um
“partido político” como os partidos Democrata e Republicano nos Estados Unidos
que representam grupos de interesse da sociedade e que competem entre si.
Em visita à China em fevereiro de
1989, o Presidente George Bush ouviu de
Deng Xiaoping, que o conceito
americano sobre democracia não
se aplicava à China, pois se o governo chinês
permitisse que o país mergulhasse
na desordem e no caos, o mundo seria arrastado junto.
Essa lógica também explica
porque a China é o país que mais executa pessoas.
Há cerca de 10 anos , o total de execuções era estimado em torno de
10.000 por ano.
Hoje esse número é avaliado em 1500; ainda assim, é mais do que as
execuções em todos os países do mundo somadas.
A China, como a Indonésia, aplica a pena de morte a traficantes de
entorpecentes e de pessoas.
A corrupção promovida por membros do Governo é punida com a pena de morte. A pena
capital pode ser revertida para prisão
perpétua se o corrupto fizer a devolução de tudo que foi extorquido do Estado.
Membros do PCC que cometem crimes sérios ou corrupção e que, por essa razão, traem e
desmoralizam os princípios do partido,
se tornam os alvos mais visados pela lei e são executados como exemplo para todo o povo
chinês.
Muitos brasileiros que se assustam com essa rigidez chinesa, no humor
mórbido, dizem que se fosse assim no
Brasil, faltariam cemitérios para enterrar tantos corruptos.
Penso que, justamente pela
constatação de diferenças tão díspares
entre nossos países, uma viagem à China se torna uma experiência fascinante
e enriquecedora.
Recomenda-se viajar no período de verão. O inverno na China é duro.
Recomendações básicas para quem pretende viajar para a China são levar
um único par de tênis, poucas peças de roupa,
um chapéu e protetor solar.
Todo o resto deve ser comprado na própria China, a preços muito baixos.
Ao ir à China , é útil levar um dicionário inglês-português /
português-inglês.
Não levar dicionário chinês-português pois não serve para nada.
O governo central chinês usa e tenta implantar o mandarim como língua
oficial para o país inteiro , mas as
variações regionais no idioma chinês e o
número imenso de dialetos, torna muito difícil a integração das diferentes
partes do país.
Ademais, o aprendizado de chinês é muito difícil. Não existem letras nem palavras e sim
ideogramas. Como é possível traduzir um ideograma? Simplesmente não é possível.
Por isso calculo como seja difícil para os chineses aprenderem inglês ou
outras línguas ocidentais.
Primeiramente, é preciso reprogramar o cérebro para se expressar por meio de palavras usando um
alfabeto e não por ideogramas.
Em razão disso, fiquei pasmo com
o imenso
número de jovens que falam um
inglês fluente e absolutamente
compreensível. Muito melhor do que o inglês falado pelos americanos
que falam muito rápido, usam muitas expressões idiomáticas, se utilizam do
chamado “broken english” , abusam de gírias
e tem muita diferenciação entre sotaques regionais.
Os jovens chineses são
solícitos, educados, se aproximam dos turistas e oferecem ajuda.
Nos conquistam com sua simpatia.
Mesmo para mim, que atualmente tenho sérios problemas de audição, mas que tenho razoável desenvoltura em inglês, essa prestimosidade chinesa foi de grande valia.
Eles chegam ao extremo de nos acompanhar aos lugares que queremos ir,
mesmo que ao custo de se desviarem de seus próprios roteiros.
São polidos e estão sempre risonhos (fora do trabalho e dos estudos).
A segurança nas ruas é absoluta. Não se veem mendigos e nem menores
sozinhos, abandonados e perambulando pelas ruas , cometendo delitos , assassinatos
e sendo assassinados como, infelizmente, ocorre no Brasil.
As autoridades são respeitadas e se fazem respeitar.
É importante que se tenha seriedade, respeito e educação no trato com as autoridades locais. Na fila
da alfândega, um membro do grupo
começou a rir estrepitosamente. Subitamente, surgiram guardas que o
levaram pelos braços para uma sala
dentro da alfândega. Foi tudo muito rápido. Ficamos surpresos e
assustados. O guia que estava ajudando
outras pessoas correu para socorrer o
senhor na área para onde ele havia sido levado.
Quando o guia voltou, o senhor “alvo
do sequestro” , estava completamente transtornado.
O guia havia explicado aos
agentes alfandegários que éramos brasileiros, muito extrovertidos e alegres.
Ele nos esclareceu que as
autoridades desconfiam de qualquer tipo
de comportamento que fuja da normalidade, pois
pode ser uma forma de desviar a atenção das autoridades alfandegárias
com o intuito de encobrir algum delito (contrabando, tráfico de drogas, etc. ).
Vai a dica: Comportem-se e
tenham postura no trato com as
autoridades .
Esse primeiro contato com a cultura chinesa foi relevado em razão
dos aspectos positivos que iríamos conhecer ao longo da
viagem.
A primeira parada na China foi em Beijing.
Da janela avião dá para ter uma ideia do tamanho e da arquitetura da cidade.
São vastas áreas ocupadas por
condomínios imensos e conjuntos de prédios moderníssimos. Tudo muito arborizado
e com amplas avenidas, ruas e estradas.
Ao conversar com o guia local, ele me informou sobre um aspecto interessantíssimo
sobre a ocupação do solo na China.
Lá não existe a propriedade da terra como a conhecemos no Ocidente.
Existe o direito temporário de posse da terra.
Você compra um apartamento em um condomínio com direito de ocupação do terreno por um período específico de tempo que pode
variar de região para região.
Na maioria das cidades esse período
situa-se entre 40 a 60 anos.
Assim , a tendência é que o
imóvel vá se desvalorizando com o passar do tempo pois, ao chegar ao limite de
tempo estabelecido, 40 ou 60 anos, a
área com as construções retornam por
lei para o Estado, que se utilizará dessa área de acordo com os interesses e as
necessidades da comunidade e do governo local.
O outro detalhe em relação à ocupação da terra e que provoca muitos protestos isolados , é a política
forçada de desapropriação de áreas urbanas ou rurais, por interesse do Estado,
para a construção de rodovias, vias férreas, aeroportos, implantação de centros industriais ou outras
obras de interesse governamental. E isso é consumado em um processo sumário muito
rápido.
Essas são razões que explicam a
explosão imobiliária em toda a China.
É outro exemplo onde impera o princípio chinês do interesse coletivo se sobrepor ao interesse
individual.
A primeira visita em Beijing foi
à Cidade Proibida.
Para que tenhamos uma ideia do que se vai encontrar na Cidade Proibida, onde fica o Palácio
Imperial, e para que conheçamos um pouco da história da China Moderna, recomendamos assistir ao
filme “O Último Imperador”, de Bernardo Bertolucci.
É uma visita imperdível, ainda
mais quando confrontamos todos as obras
decorativas, monumentos e edificações com os locais apresentados na película que retrata a vida fantástica do último imperador da China ,
Aisin-Gioro Puyi, na magistral obra prima
de Bernardo Bertolucci.
A Cidade Proibida é tão grande que uma visita completa demanda várias
semanas. É uma cidade inteira toda murada.
Depois da Cidade Proibida fomos visitar a Praça Tiannamen, a famosa
Praça da Paz Celestial, que é a terceira maior praça do mundo.
Essa praça é considerada o centro administrativo e político do país. Lá
está o Mausoléu de Mao Tsé-Tung e é onde se concentram os maiores edifícios
públicos do país, como o Palácio do Povo, onde são promovidos os encontros do
PCC – Partido Comunista da China, ao qual comparecem milhares de representantes de todo o país. Na
Praça da Paz Celestial também são celebradas as
mais importantes comemorações
nacionais e é lá que se realizam as
grandes paradas militares, principalmente as de comemoração da criação da China
Moderna . O Governo considera o Massacre da Praça Celestial em 1989 um episódio
superado na história chinesa.
Mas o aparato de vigilância, escuta e filmagem é completo.
Toda a praça é cheia de postes e, em cada um, existem várias filmadoras
que registram tudo e todos.
Também existem policiais disfarçados
como turistas comuns, que estão sempre circulando e que sempre carregam uma bolsa a tiracolo, com
equipamentos para gravação de conversas,
fotos e filmagens.
A qualquer protesto (o que é
raro) surgem de imediato veículos e policiais que interrompem a manifestação e
prendem seus participantes.
Alguns protestos são de pessoas
que tiveram suas terras ou propriedades desapropriadas
por interesse do Governo.
Outros protestos são o de
minorias étnicas como os tibetanos e uighures que reivindicam a independência
de seus territórios.
É importante frisar esse aspecto de reivindicação de independência
territorial, pois comumente se pensa que essas prisões devem-se ao fato da China ser comandada por um partido
comunista e a religião ser proibida .
Nas reformas comunistas nos meados do Século 20, a prática religiosa
chegou a ser cerceada.
Mas atualmente não é. A China tem uma grande diversidade de religiões e
dezenas de milhares de templos.
A maioria da população é taoísta ou budista. Junto com o Confuncionismo,
formam as três principais linhas filosóficas e religiosas na China.
Ainda existem os cristãos, os protestantes e os mulçumanos.
Em seguida, visitamos a Grande Muralha, que vem sendo reconstituída desde 1980 durante o Governo de Deng Xiaoping
, para ser o símbolo da China.
Modernas pesquisas mostram que a muralha tem 20.000 quilômetros e não
8.000 quilômetros como se supunha até recentemente.
Começou a ser construída em 220 A.C durante a Dinastia Ming e continuou
a ser erguida durante várias dinastias ao longo de dois milênios. Foi erguida
para barrar a entrada de invasores.
E, paradoxalmente, hoje é a China que invade o mundo com a força de sua
pujante economia.
É um passeio um tanto cansativo mas que vale a pena pois a área é belíssima e o ar muito puro.
No outro dia, fomos visitar uma avenida em que haviam inúmeros quiosques que
vendiam todo tipo de comida. O lugar estava repleto de chineses de todas as
idades.
A culinária chinesa é a mais diversificada do mundo.
Existem restaurantes luxuosos com
cardápios requintadíssimos.
Mas existem também, como no Brasil, as chamadas comidas populares.
E é aí que está o perigo.
O próprio guia nos alertou que poderíamos ter problemas digestivos sérios ao provar
certos “quitutes” apreciados pelos chineses mas aos quais, nós ocidentais, não
estamos acostumados.
Mesmo que “as iguarias” sejam
cozidas, fritas, assadas ou tostadas, sentimos certo receio e asco de provar.
Mas, como estávamos visitando outro país, muitos decidiram “entrar no
clima” e provar o que era oferecido. Eu entrei nessa onda.
Para minha própria surpresa, gostei dos escorpiões grelhados.
Assemelham-se a camarões. Também provei espeto de grilo tostado com mel e
pimenta. Testículos fritos de vários animais eram oferecidos. Alardeiam que são
afrodisíacos. Provei alguns com alho e
pimenta mas não senti os tais efeitos tão profusamente propagandeados.
Só não gostei do casulo do bicho da seda. É um tanto gosmento. Provei e
joguei fora.
Não tive coragem de comer aranhas e nem baratas d’água (não são as
baratas domésticas) por mais que umas chinesinhas que as comiam, aos risos, insistissem em me oferecer.
Como era um dia calorento também comi carne de cobra (já havia comido na
Bahia) e lagarto.
Os chineses classificam as carnes em frias ou quentes.
Carnes de répteis são as carnes frias, próprias para serem consumidas no
verão.
Carne de cachorro, por exemplo, é classificada como carne quente própria
para o inverno.
Em muitos restaurantes, um dos petiscos mais pedidos no inverno é espeto de
cachorro. Acompanhado de vinho tinto seco, óbvio.
Para meu espanto, observei pessoas passearem com cachorros de estimação nos
parques. O guia me explicou que essas
pessoas, que são de um extrato mais rico da população, pagam um alto imposto
para terem animais de estimação.
E, quando passeiam, tem que ter
muita atenção com seus cachorros.
Repentinamente, pode surgir um esfomeado que pega o cachorro e o leva
correndo embaixo do braço para,
posteriormente, saboreá-lo como guisado.
Depois dessa visita degustativa ,
fomos visitar o Palácio de Verão,
utilizado como jardim pelos membros da Casa Imperial nos tempos da Dinastia
Qing. Os jardins parecem que não tem fim.
Muito arborizados com aves e pequenos animais. Bordeia um lago. Tem pontes maravilhosas.
De súbito, comecei a sentir
os efeitos da minha “degustação exótica”, que foram
aumentando em um crescendo.
Bem que o guia havia avisado para termos cuidado com aqueles quitutes !!
O guia pediu a um rapaz de
riquixá que me levasse às pressas para o banheiro mais próximo. O rapaz corria como uma
bala.
Cheguei ao banheiro. Havia um
sanitário livre.
Quando entrei, vi uma peça com um
buraco e uma canaleta comprida. Entendi
a finalidade do buraco mas não a da longa
canaleta.
Conhecia a peça ocidental e a
turca, mas era a primeira vez
que me defrontava com um vaso
chinês.
A situação era de absoluta
emergência. Segui meu instinto. Mirei no
buraco e dei um fim àquele suplício.
Na volta, ainda tive de ouvir o guia chinês, com aqueles olhinhos quase
fechados , dizer aos risos, indiscretamente, na frente de todo mundo: “Que bom,
né? Que bom, né? Tá mais leve !! Tá mais leve !! “
No outro dia o grupo foi fazer um passeio de riquixá e visitar um modelo
de vila antiga que era o padrão de moradia urbana até 1978 quando começaram as
reformas e a abertura econômica
promovida por Deng Xiaoping.
Quando chegamos ao local de início do passeio, haviam uns 300 riquixás em linha para atender aos turistas. Primeiro as
fotografias e depois a emocionante corrida de riquixá no meio do tráfego
intenso. Haja coração.
Os condutores dos riquixás corriam a toda velocidade por ruelas estreitas, no meio de
motos, bicicletas, triciclos, carros,
camionetes e caminhões. Uma bagunça só
no meio de muita poeira e barulho. Naquela corrida louca, os riquixás passam colando junto a outros veículos à distância
de um dedo. Frequentemente encostam nos
outros veículos. E não adianta gritar. Aí é que os condutores “capricham” e
correm mais rápido. Tudo muito
excitante. Uma loucura. Quando chegamos ao destino nós estávamos sem fôlego. E eles,
sempre rindo , balançavam as cabeças em agradecimento. Se alguém xingar eles
agradecem mais ainda, pois não falam nossa língua e pensam que estamos
elogiando a performance deles.
Cheguei à conclusão que aquilo tudo era muito bem planejado e encenado e
fazia parte de um script preparado para deixar os turistas bem apavorados.
Ao final do passeio de riquixá, sentíamo-nos como sobreviventes de uma
aventura digna de Indiana Jones.
Fomos visitar uma das tais vilas que atualmente só existem para
mostrar aos turistas como se vivia na
época. São umas 20 casas em cada lado da rua da vila. As casas tinham cômodos
muito pequenos e não haviam banheiros. No
fundo da vila existia um saguão com grande número de vasos sanitários comunitários. Os detritos escoavam para um
grande tonel. No fim do dia, o serviço sanitário da cidade recolhia o tonel em
uma carroça puxada por cavalos. E recolocava outro tonel limpo. Dá para
imaginar como era o aroma reinante na vila.
Em todas as partes da cidade existem clínicas especializadas em massagens
relaxantes ou curativas. Ao se entrar , primeiramente explicamos ao atendente
qual o nosso objetivo ou necessidade, informamos
se temos dores, quedas de energia , carências vitamínicas, disfunções
específicas ou outro problema qualquer.
São feitas perguntas sobre nosso histórico médico e sobre nossa vida funcional,
afetiva e sexual. Só então somos encaminhados a um massagista especializado. Também nos vendem vitaminas e cremes para
massagens.
Esses estabelecimentos gozam de
boa reputação.
E também existem muitas casas de chá. Uma diversidade imensa de chás
para todos fins e gostos. Os chineses
não tomam leite, o qual só é encontrado nos hotéis que acomodam turistas
estrangeiros.
Os chineses acordam muito cedo
e descem para áreas dos condomínios, parques e áreas verdes para praticar tai chi
chuan, dançar (dançam homens com mulheres, mulheres com mulheres, adultos com
crianças e, esquisito, não riem), jogar
peteca (jogam com as mãos e com os pés e não só com as mãos como se joga no
Brasil), praticar um tipo de jogo com duas raquetes ovaladas para cada jogador
e uma bola (é um jogo muito intenso que requer muita flexibilidade corporal,
boa visão e rapidez).
Todos voltam para suas casas ao
mesmo tempo. É a hora de ir para o trabalho ou para os colégios.
Nos fins de semana, os parques ficam mais cheios e surgem outras
atividades. Senhoras idosas fazem agasalhos de crochê. Crianças brincam e correm.
Homens e mulheres caminham , conversam
, praticam tai chi chuam, fazem
exercícios respiratórios, dançam ou se exercitam em outros esportes. Tentei jogar peteca com as mãos e
com os pés e não acertei uma única vez. É preciso muita agilidade. O mesmo
ocorreu quando um senhor me convidou para jogar com as duas raquetes ovaladas e
a bolinha. A mesma coisa: não acertei uma sequer.
Mas me dei bem na dança. Dancei com senhoras e crianças. Ensinei alguns
passos que aprendi em academias de dança no Rio. Fiz sucesso com o mulherio
chinês.
Também montam mesas para jogar
ping-pong. Os chineses são muito bons nesse esporte e são os campeões mundiais.
Foi com uma disputa de ping-pong em Beijing que se iniciou a abertura
comercial e diplomática com os Estados Unidos durante o Governo Nixon.
Não observei jovens de mãos dadas, se beijando ou se acariciando em público.
Os jovens saem juntos, andam juntos mas para se chegar a um beijo podem
decorrer meses.
A influência do confuncionismo e do taoísmo na vida
do chinês comum é muito forte e norteia todo o comportamento e vida social dos
chineses.
As relações familiares são muito
sólidas e existe muito respeito
pelos mais velhos. As pessoas tem
hábitos muito conservadores.
A competitividade e a dedicação extrema
nos estudos e no trabalho também limitam
muito a vida social e afetiva das
pessoas.
Tive a oportunidade de conversar com um estrangeiro que vive em Beijing
e ele confirmou que é muito difícil, complicado e demorado um relacionamento
com uma pessoa na China. O estilo de vida liberal ocidental é completamente
inaceitável na China.
A relação sexual é considerada um passo
muito sério e normalmente só se realiza com o casamento.
O casamento consagra a relação amorosa entre duas pessoas de sexos
opostos e, na China, a idade ideal para a procriação é aos 25 anos.
Ainda hoje, as famílias procuram seguir a política do “filho único”, imposta
pelo Governo , com a meta de limitar o crescimento populacional .
Os relacionamentos homossexuais são
um tabu na China. É um assunto que passa ao largo de discussões abertas
na vida das pessoas como ocorre no
Ocidente.
Por outro lado, o próprio Confuncionismo não qualifica o homossexualismo
como crime e não se ouve falar de crimes por homofobia.
A prostituição é enquadrada como uma das três depravações que sofrem
campanhas de combate e perseguições sistemáticas por parte da população, do
Governo e da polícia: a prostituição, os jogos de azar e o consumo de drogas.
A próxima cidade que visitamos foi Xian no centro da China .
Da janela do avião , vimos o magnífico aeroporto.
É uma gigantesca estrutura ovalada iluminada com várias cores.
O aeroporto é moderníssimo,
silencioso, tudo imaculadamente limpo e organizado. Todos os controles são feitos
por toque em painéis eletrônicos. No
correr da viagem, iríamos nos defrontar
com vários outros meios de transporte ultra avançados.
Todos os táxis são novíssimos e totalmente equipados. Os motoristas são
solícitos , educados e se vestem de forma elegante.
Os táxis mantém-se em linha e o embarque de passageiros é muito
organizado e rápido.
Não pudemos de deixar de fazer uma comparação com a desorganização, o
tumulto e a barulheira para pegar um táxi no Aeroporto Tom Jobim. Até sentimos
saudades de nossa bagunça.
A distância do aeroporto até o centro da cidade tem uns 30 quilômetros e
conta com uma larga e moderna rodovia
com várias pistas de rolamento. De um lado e do outro da rodovia estavam sendo
construídos condomínios de alto padrão.
A primeira visita em Xian foi a
um teatro de variedades. Os shows eram do mais alto nível. Valeu a pena.
Um dos mais emocionantes foi um espetáculo com bolas. O malabarista
ficava em uma plataforma de madeira e um ajudante ia jogando uma bola atrás da
outra que iam sendo lançadas no ar. O público ficava boquiaberto porque já não
se conseguia acompanhar com o olhar o movimento das bolas no ar. O
malabarista chegou ao espantoso limite de manter 16 bolas em movimento.
Outro sensacional espetáculo foi com 3 moças que jogavam pratos coloridos
umas para as outras. Uma infinidade de pratos voavam pelo palco em um movimento contínuo.
Houve um show magnífico de equilíbrio e contorção corporal entre um
rapaz e uma moça.
Várias outras apresentações se sucederam.
A ida ao teatro foi maravilhosa com espetáculos com muito apuro, dedicação, beleza, precisão e equilíbrio, tudo bem
dentro da forma disciplinada e perfeita de fazer as coisas na China.
No outro dia, fizemos o passeio à famosa exposição dos Guerreiros do
Exército de Terracota ou Exército do
Imperador Qui. É uma coleção de esculturas de guerreiros , que são expostas
em grandes galpões e que representam os exércitos de Qui Shi Huang, que foi o
primeiro imperador da China.
Esse exército foi enterrado com o imperador em 210-209 A.C. e foi
descoberto em 1974 por agricultores em Xian, na Província de Shaanxi.
As esculturas dos soldados começam pelo tamanho real de uma pessoa. E
aumentam de altura de acordo com suas
funções, sendo os generais os mais altos.
O número de esculturas nas três áreas onde estão o Exército de
Terracota, sobe a mais de 8.000 soldados, 130 carruagens com 520 cavalos e 150 cavalos
de cavalaria. As escavações não cessam e, além de novas esculturas de
guerreiros, agora estão sendo descobertas outras esculturas não militares.
O que impressiona, além do fabuloso
número de peças, é a extrema perfeição nos mínimos detalhes de cada escultura. São peças de valor
artístico e histórico inestimável, pois revelam em minúcias os armamentos e a
estrutura militar da época e descortinam a história da China antiga.
Essa exposição mostra porque , no passado, a China foi o país mais
avançado do Mundo.
No dia seguinte, fomos a outro
teatro e assistimos a um espetáculo de canto e música tocada com antigos
instrumentos musicais. O espetáculo foi acompanhado por um festival de massas variadas
e deliciosas. Não podemos esquecer que
os chineses ( e não os italianos) são os inventores do macarrão.
O espetáculo de música e canto, foi entusiástica e demoradamente aplaudido pelos chineses.
Os ocidentais também aplaudiram
em reconhecimento à riqueza dos trajes, à pintura dos olhos e rostos dos
personagens e à magnífica apresentação dos
artistas. Os cenários da montagem também eram maravilhosos.
Mas é um espetáculo mais
apreciado pelos chineses e que retrata aspectos da vida social chinesa
que desconhecemos. Não é um espetáculo
fácil de ser apreciado pelos ocidentais.
Xian também conta com monumentos e parques belíssimos.
De Xian seguimos para Shanghai, que é a maior cidade da China, com 19
milhões de habitantes.
Shanghai em sua grandeza, beleza e vida trepidante , é considerada a Paris ou New York da China.
Quanto ao guia que nos recebeu em Shanghai , ele havia residido em Foz
do Iguaçu. Assim, falava português
fluentemente. Era um tipo muito esperto e ativo.
Como todo guia, sempre procurava
faturar um dinheiro extra além do que recebia pelo trabalho de guia.
Dentro do ônibus, fazia o câmbio
de dólares norte-americanos ou euros para a moeda local, o “renminbi” , cuja
unidade básica é o “yuan”. Quando fomos
passear em Beijing vimos que a cotação
nas casas de câmbio era muito mais conveniente.
Outra dica: não façam câmbio com os guias.
Em todas as cidades existem casas
de câmbio.
É importante alertar que em vários lugares encontramos pessoas na rua
vendendo livros de turismo ou souvenirs. São os camelôs locais. Eles aceitam
notas de moedas estrangeiras e nos dão o troco em yuans. Mas, para nossa
surpresa, muitas das notas de yuans não puderam ser utilizadas no comércio local, porque foram consideradas
falsas. Um senhor, que ficou meu amigo ,
me presenteou com uma dessas notas. Eu a guardo até hoje.
Esse é mais um motivo para recorrermos
às casas de câmbio.
Shanghai conta com um comércio
diversificado para todos os
gostos e preços. Tem shoppings de alto luxo, imensos shoppings populares e um
intenso e variado comércio de rua.
Existem bairros inteiros que concentram lojas especializadas em artigos tecnológicos
em todas as áreas. É importante que saibamos exatamente o que desejamos adquirir pois a oferta é tão
diversificada que ficamos totalmente indecisos com a imensa variedade de
produtos à venda.
A cidade conta com excelentes
restaurantes, casas de massagens e de chá em todos os lados. Não vi academias de ginástica como no Brasil.
Os restaurantes são imensos e recebem para o café da manhã, almoço e
jantar. Estão sempre lotados o dia inteiro por grupos de executivos jovens. Nessas horas os chineses
são totalmente descontraídos e a barulheira é infernal. O cardápio é apresentado em fotos e descritos
em chinês e inglês. Os garçons e atendentes são ágeis e solícitos. Eles atendem os turistas em inglês da melhor forma
possível.
Enfim, apesar do gigantismo e da agitação, Shanghai é uma cidade acolhedora, com muito calor
humano e o povo é maravilhoso.
Em termos de flexibilidade de costumes e influência ocidental só é
superada por Hong Kong e Macau.
A vida noturna é intensa. A cidade conta com teatros, casas de shows,
boites e restaurantes internacionais com
orquestras completas, artistas,
dançarinos e cantores que rivalizam com os melhores no
mundo.
A experiência mais emocionante é
o passeio de barco à noite pelo Rio Yang Tsé .
Não existe nada comparável ao show de beleza, fogos, luzes e cores de Shanghai à noite.
O Rio Yang Tsé fica repleto de grandes barcas e navios iluminados, entupidos de chineses e turistas
de todo o mundo e com imagens de dragões na proa. Fogos de
artifício invadem os céus. Não é demais dizer que os chineses também são os inventores
dos fogos de artifício.
Os arranha-céus de Shanghai ficam com todas as luzes acesas
e feixes de luzes coloridas varrem as fachadas dos prédios.
Em terra firme e nas embarcações, champagnes são estouradas para
comemorar o evento.
Nossa guia chinesa, uma moça jovem, chegava a chorar de orgulho e
alegria e dizia que se lembrava de que o único arranha-céu há poucos anos
atrás era a Torre de Televisão de
Shanghai.
Shanghai também é o mais avançado centro universitário e científico da
China.
A Universidade de Shanghai
rivaliza com as mais importantes no Mundo.
Adiante voltaremos a abordar o assunto educação de forma mais detalhada.
Fomos visitar uma imensa fábrica
de produtos artesanais. Faziam-se pequenos anéis, colares, enfeites, passando por uma grande diversidade de
estatuetas, peças de decoração, objetos para
uso pessoal até estátuas imensas
de Buda. Fabricavam vasos decorativos
gigantescos e estátuas de animais em tamanho real. Eles exportam essas peças para qualquer lugar do
mundo em embalagens especiais.
Tudo cravejado com pequenas pedras coloridas. Havia um número imenso de
operários trabalhando sem parar durante 12 a 14 horas. Seis dias por semana.
Sem interrupções e conversas. Completa concentração.
É assustador. Lembrou-me o filme “Tempos Modernos”, de Charles
Chaplin. Só chinês aguenta aquele ritmo
de trabalho.
Os brasileiros ficariam loucos em uma situação dessas.
A vigilância é total. Chega a ser opressiva. Olheiros e câmeras por toda
parte. Ninguém se atreve a levar uma pequena peça como “lembrança”.
A limpeza é absoluta em todos os lugares.
A respeito dessa obsessão dos chineses com a limpeza, presenciei duas cenas marcantes em Shangai.
Na primeira, um pedaço de plástico voava em meio a uma forte ventania.
Uma mulher corria atrás do pedaço de plástico e o conseguiu pegar no ar. Nunca me esquecerei do seu ar de felicidade e
vitória ao conseguir pegar aquele plástico. Ela era uma catadora de lixo.
A segunda cena foi quando estava
almoçando em um restaurante da rede Outback e, do lado de fora, o temporal e as rajadas de vento estavam
fortíssimas. Ao olhar pela janela observei dois homens da limpeza pública da
cidade a desentupirem os esgotos. Primeiro tiraram a tampa de ferro
pesadíssima e depois deram andamento ao
desentupimento do esgoto no meio daquele
vendaval inclemente. Só pararam quando o
serviço estava concluído. E partiram para desentupir outras áreas do esgoto da
cidade.
Pensei com meus botões se essas situações tivessem ocorrido no Brasil.
Com certeza, a mulher nem olharia para o pedaço de plástico e os homens da
limpeza estariam tomando uma cervejinha até o temporal passar.
Sem qualquer demérito ao nosso
povo e à nossa cultura, aí está explicitada uma das razões para o progresso na
China.
O trânsito é intenso. Os veículos são moderníssimos. As mais luxuosas
marcas europeias e americanas possuem fábricas na China. Além do que existem
montadoras chinesas que competem em condições de igualdade com qualquer marca
internacional.
Hoje a China tem uma frota de carros maior que a dos Estados Unidos.
As rodovias são modernas e seguras. Muitas são ajardinadas de um lado e
do outro. As placas indicativas são em
chinês e inglês.
O controle da poluição ambiental é um objetivo perseguido obsessivamente
pelo governo chinês. Universidades e empresas debruçam-se em pesquisas e
projetos os mais avançados e variados para conter a poluição.
Outro ponto alto em Shanghai foi a viagem no Maglev que é o trem de alta
velocidade de levitação magnética.
É um projeto pioneiro que ainda está em estudos para ser ampliado.
A primeira linha em operação leva até o Aeroporto Internacional de Pudong
em um percurso de 30 quilômetros que é percorrido em apenas 8 minutos.
É uma experiência fantástica mas que chega a dar calafrios pois o trem chega até a 430
quilômetros por hora, muito embora, dentro do trem, não sintamos nenhuma
trepidação.
Existe um projeto de ampliação do Maglev de Shanghai à Cidade de
Hangzhou, a 170 quilômetros de distância.
A malha ferroviária dos chamados trens bala corta toda a China e se
estende até às ex-repúblicas soviéticas. A China tem a maior rede ferroviária
de trens de alta velocidade no Mundo.
No outro dia, seguimos para Hong Kong , uma ilha com 7 milhões de
habitantes e que é uma Região Administrativa
Especial na China.
Quando chegamos, alguns membros do grupo queriam ir de imediato à filial da Apple , que é uma das maiores do
mundo e com preços muito atraentes. O guia fez tudo para nos levar para outras
lojas de eletrônicos, onde receberia comissão pelas compras. Por nossa própria
conta, fomos para a Apple que não paga comissões para guias.
Em relação aos guias,
consideramos legítimo que ganhem comissões sobre compras efetuadas
pelos turistas como ocorre em qualquer
lugar do mundo. Mas não concordamos com
o fato de nosso guia não ter nos acompanhado até a Apple. Registramos
essa queixa na agência de turismo.
A Apple tem um serviço excelente. Todos os funcionários e atendentes, além de conhecerem profundamente os produtos
que vendem, falam um inglês perfeito e
alguns dominam fluentemente outras
línguas. Chegamos à conclusão de que,
para se ter sucesso profissional na China, é fundamental que se tenha, no
mínimo, o domínio perfeito do idioma inglês.
Além da imperdível visita à
Apple, tivemos a oportunidade de
conhecer o fabuloso centro comercial da cidade, que tem shoppings e centros
comerciais que oferecem de tudo a preços baixíssimos. Uma festa para as
mulheres.
Para os homens, existem as famosas alfaiatarias com ternos de modelo inglês e a
preços bem convidativos. É uma herança da colonização britânica de Hong Kong. É
recomendável , logo ao chegar, dirigir-se a uma dessas alfaiatarias. Escolhe-se o tecido e o modelo (eles tem vários catálogos com todos os detalhes),
tiram-se todas as medidas (são muito cuidadosos e minuciosos nesse aspecto),
combina-se o preço, dá-se um adiantamento e, após algumas poucas horas, o terno
está pronto. Infalivelmente ficam perfeitos.
Ainda no que se refere a interesse dos homens, existem ruas inteiras que
concentram lojas especializadas em artigos eletrônicos e de informática.
Voltemos ao foco mais importante
relacionado às mulheres.
Compras, compras e compras !!
Se nos espantamos com os preços atraentes nos Estados Unidos na China os
preços são muito mais baixos.
O mesmo ocorre com vestuário, bolsas, sapatos, jóias ,
acessórios de toda ordem, cremes e produtos de beleza.
Existem shoppings imensos para a classe média onde as mulheres ficam deslumbradas com a
diversidade de ofertas a preços baixos.
Outra coisa importante a considerar é a diversidade de falsificações de
artigos. Existem falsificações grosseiras e muito baratas que não são
recomendáveis.
Mas existem falsificações de alto padrão cujos preços são mais altos.
Para felicidade do time feminino, havia uma lojista de São Paulo no grupo, que era uma especialista nessa área. Ela
própria – pasmem – comprou umas 20 bolsas em uma dessas lojas. Disse que as venderia
no Brasil por, pelo menos, dez vezes mais do que o preço que tinha pago.
Existem alguns shoppings para a classe alta onde encontramos filiais das mais luxuosas marcas internacionais. Uma bolsa
feminina autêntica em uma dessas lojas pode custar milhares de dólares. Já uma
bolsa de bom padrão de falsificação em um shopping de classe média fica em
torno de US$ 70.00 a US$ 110.00.
Sempre é bom salientar que, quando estão trabalhando, os chineses são objetivos, sérios e compenetrados.
Nas lojas, os vendedores restringem-se a atender os clientes de forma simpática, rápida e eficiente e sempre centrando o foco
no que o cliente deseja. Assim, não é recomendável
pedir informações ou conversar sobre assuntos que não estejam estritamente ligados
ao que se pretende comprar. A resposta pode ser o silêncio, um sonoro “no” ou um virar de costas.
Não se deve considerar esse
comportamento como uma atitude ofensiva;
é uma questão cultural. Eles estão ali para trabalhar, atender bem e vender.
Os guardas são educados, solícitos
e sempre procuram ajudar os turistas.
Em Hong Kong não se pode deixar de visitar o Victoria Peak, ou
simplesmente The Peak, que é o ponto
mais alto da cidade. Conta com uma excelente estrutura de serviços de trem, boas lojas, quiosques, excelentes e amplos restaurantes e paradas para observação e fotos.
Lá de cima temos uma visão do
tamanho da cidade e de seu modernismo com uma infinidade de arranha-céus.
Poder-se-ia fazer uma comparação com o alto do Corcovado.
Pode-se chegar lá pelo Peak Train , por carro ou ônibus.
Tudo muito organizado e limpo. Estacionamento amplo.
Outro lugar sensacional é a Avenida das Estrelas ou Star Avenue, que
começou como um tributo à indústria cinematográfica de Hong Kong e a Bruce Lee.
O lugar é repleto de bons restaurantes que nos oferecem uma vista privilegiada da
Baia de Hong Kong e do Victoria Peak.
Existem vários outros lugares muito interessantes a serem visitados em
Hong Kong.
É importante citar o amplo uso do Octopus Card, que permite o uso amplo
no transporte público, como metrô, tram, trem , ferry, ônibus e peak train. Com
ele não se precisa entrar em filas, pode-se fazer compras no Seven Eleven ,
restaurantes seletos e o que não usar é reembolsado.
Os chineses são muito orgulhosos de seu país e sempre fazem questão de
ressaltar a todos os estrangeiros como a China “era” há pouco tempo atrás e
como ela “é “ hoje.
As manifestações contra o regime são raras e, em sua maior parte, são
promovidas por minorias étnicas.
A população chinesa tem uma maioria de 98% da etnia han.
Os 2% restantes estão distribuídos em 55 etnias. A maioria dessas etnias
se integraram ao estilo de vida chinês.
Mas existem etnias como os tibetanos e os mulçumanos uighures que resistem
a se integrar ao estilo de vida, às leis
chinesas e pedem a separação da China.
Nesses casos, a China adota uma política astuta. Eles concederam incentivos de toda
ordem aos chineses da etnia han para habitarem as regiões longínquas de
tibetanos e uighures. Com isso, milhões de chineses da etnia han se mudaram para essas áreas e a maioria da população local passou a ser da etnia han.
Por outro lado, o governo central chinês pune com severidade qualquer
crime cometido contra os chineses da
etnia han que passaram a habitar esses territórios.
Esse choque de etnias é inevitável pois, com a habilidade e o ritmo de trabalho
intenso dos chineses da etnia han, eles
passaram a dominar as atividades produtivas e o comércio locais.
Analisando esse aspecto da composição étnica da população chinesa
pode-se inferir que, nesse aspecto, a
China não tem os problemas dos Estados
Unidos, que criaram o programa de Ação Afirmativa desde o Governo Kennedy para elevar o nível
de vida da população de negros naquele
país e, também no Brasil, com o Programa
de Cotas, para proteger negros, índios e pobres.
O que efetivamente conta na China são o mérito, a dedicação e a capacidade
de cada um.
A competição é tão acirrada que,
na visão brasileira, pode ser considerada desumana e
inaceitável. Muitos estudantes se
dedicam aos estudos de maneira intensa e chegam a apelar para recursos extremos para
se energizarem como, por exemplo, estudarem com sondas nas veias por onde
continuamente é injetado soro. Estudar aos sábados e domingos em aulas intensivas
de reforço é uma rotina.
A disciplina e a atenção dos alunos é total. Todas as salas de aula tem
uma bandeira da China em cima do quadro negro. As aulas são dadas em ritmo
intenso, em silêncio, com concentração e
sem interrupções. Não existem
brincadeiras nas salas de aula. Os professores são muito dedicados , bem preparados
e bem remunerados. São admirados e muito respeitados pelos estudantes. Qualquer
desrespeito ou desobediência a um professor é motivo de punição severa.
Como se vê, muito diferente daqui, onde muitos professores são agredidos
e marginais tumultuam e interrompem as aulas.
Os 9 anos de ensino compulsório na China são gratuitos. Mas os pais
pagam o uniforme, o transporte e a alimentação. Os 3 anos de ensino médio são
pagos, até nas escolas públicas.
A dedicação extrema aos estudos é
uma tradição entranhada na cultura das famílias chinesas. As famílias
se privam de tudo para que seus filhos estudem nos melhores colégios e nas
melhores universidades e sejam os mais bem classificados. As famílias sempre
incentivam e cobram resultados de seus filhos. Os que não vencem nessa
competição desenfreada passam por sérios
problemas de ordem psicológica, como depressão e até suicídio.
Existem denúncias que o Governo investiga e procura coibir, de corrupção
de professores para que coloquem alunos nos melhores lugares nas salas de aula
ou para que deem melhor assistência a determinados alunos.
Os que vencem almejam objetivos
mais elevados, como concluírem com sucesso seus cursos nas melhores universidades chinesas ,
fazerem cursos de mestrado ou
doutorado na China ou em universidades
renomadas nos Estados Unidos.
Para chegar lá eles precisam ter destaque relevante no Gao Kao, o duro
exame nacional de admissão universitária. A nota obtida no Gao Kao é que
determinará o nível da universidade em que eles estudarão.
Essa é a razão da dedicação extrema aos estudos. A maioria desses jovens
nessa competição desenfreada , saem
pouco e não vão a baladas.
Além dos horários nos colégios abrangerem períodos pela manhã e à tarde,
os estudantes ainda tem de dedicar uma média de quatro horas para estudar em
casa.
Muitos jovens dedicam-se tanto aos estudos que passam muito tempo sem
namorar. Dão prioridade absoluta aos estudos. Mesmo quando se apaixonam,
retardam a concretização de seus relacionamentos até concluírem seus estudos.
Por esse motivo, em 2010, Shangai
tirou o primeiro lugar em todas as áreas analisadas (matemática, ciências e
leitura) no Teste de Pisa, o mais importante e respeitado teste internacional
de qualidade educacional.
Promovido pela OCDE (o clube dos países desenvolvidos), esse teste
avalia o conhecimento de jovens de 15 anos de idade.
O Teste de Pisa foi iniciado em 2000 em 32 países (o Brasil ficou em
último lugar).
A China hoje conta hoje com algumas universidades que rivalizam com as
melhores universidades norte-americanas e o Governo continua a investir cada
vez mais no ensino universitário e nos
centros científicos e de alta tecnologia na China.
As áreas de pesquisa militar, aeronáutica, espacial, robótica,
nanotecnologia, medicina, controle da poluição, urbanismo e outras são
priorizadas pelo governo chinês.
Em 2014, a China foi o país que recebeu mais investimentos estrangeiros
no Mundo, com US$ 128 bilhôes, superando os Estados Unidos, que recebeu US$ 86
bilhões. E ainda é preciso considerar
que Hong Kong, que também é uma Região Administrativa Especial da China, recebeu US$ 111 bilhões.
Uma das explicações para esse sucesso é o alto nível de preparo e de
dedicação dos técnicos e operários
chineses.
Mas tudo tem um preço.
Em conversas esparsas com estrangeiros me foi dito que as leis trabalhistas chinesas tem alguma
semelhança com as leis na Europa e nos Estados Unidos.
Existe – no papel – limite de horas de trabalho, férias e alguns benefícios.
Mas não há qualquer fiscalização oficial sobre o cumprimento dessas
regras.
O que de fato existe é um capitalismo selvagem levado ao extremo. Os
operários chineses trabalham uma média de 12 horas por dia, 6 dias por semana. E, muitas
vezes, também trabalham nos domingos.
Vivem satisfeitos com essas condições duras de trabalho e com o pouco
que ganham porque essa é a opção que lhes é oferecida e que é suficiente para sobreviverem de forma digna.
A maioria desses trabalhadores é proveniente do interior da China.
Quando se destacam, são promovidos dentro das empresas privadas e
estatais e órgãos do Governo, recebem incentivos para estudar e cursar
universidades , passam a desfrutar de outras regalias , a terem uma menor carga
horária de trabalho e a ocupar espaços
mais elevados na escala social.
Os que não se adaptam à dureza desse regime são descartados e voltam
para suas vilas e cidades no interior da China. Existem centenas de milhões de pretendentes para ocuparem suas
posições.
Mas apesar dessa realidade foram consolidadas algumas conquistas sociais
e de assistência de saúde nos últimos anos.
Hoje existe um salário mínimo que varia de região para região mas que
atende às despesas para sustentar uma família.
Na área urbana, os funcionários públicos e de entidades estatais recebem assistência
médica do Estado.
Os demais trabalhadores tem plano de saúde que garante assistência
médica básica e somente pagam uma parte pequena das consultas.
Desde 2003 o Governo implementou um sistema cooperativo médico rural. O
sistema tem tido êxito.
Na área urbana, Os funcionários públicos e de entidades estatais se aposentam à custa
do Estado. Os homens com 60 anos e as mulheres com 55 anos. Os empregados de
empresas privadas podem se aposentar mais cedo, aos 50 anos , dependendo das condições do seguro para
aposentadoria.
Nas zonas rurais está sendo implementado um sistema de seguros para
aposentadoria de idosos com a ajuda do
Estado.
De Hong Kong fomos para Macau.
Até 1999, Macau foi uma colônia portuguesa e hoje é uma Região Administrativa
Especial da China. Macau conta com 608.000 habitantes. Atualmente Macau tem a
maior densidade populacional do mundo com 23.200 habitantes por km2 e seu
território tem 26,2 quilômetros quadrados.
O distância de Hong Kong a Macau é de 65 quilômetros que pode ser feita por avião ,
barca ou até por via terrestre, em um percurso mais longo.
Preferimos a barca para apreciar o mar.
No embarque entramos em uma barca quase que inteiramente ocupada por
turistas.
Em outro ponto de embarque havia muito
barulho.
Era uma barca completamente cheia de chineses. Nesses momentos os chineses se reúnem em
grandes grupos, todos muito juntos uns dos outros, todos riem e falam alto sem parar. Parecem um bando de
gralhas.
Esse comportamento dá a impressão de ser uma forma de descontração para se
compensarem pelas muitas horas de trabalho duro em que permanecem calados e
isolados. Gostaria de ter embarcado
naquela barca para sentir aquela vibração e alegria.
Na área de desembarque os avisos para os passageiros são escritos em
chinês, inglês e português.
Para os brasileiros é um passeio interessante porque existem muitos
estabelecimentos com avisos nas três línguas, inclusive restaurantes.
Frequentemente encontramos portugueses que nos atendem com especial cortesia
e atenção.
Pode-se tomar qualquer dos vários ônibus que levam aos hotéis-cassino.
A vida noturna em Macau é intensa.
Os cassinos fucionam todo o tempo e contam com restaurantes, shows,
lojas e atividades diversas.
Atualmente o cassino Venetian Macao é considerado o maior cassino do
mundo. É dividido em várias áreas.
No período em que chegamos
estavam sendo erguidos 18 grandes cassinos hotel de nível internacional.
Macau é um paradoxo e uma exceção em relação ao regime e às imposições
legais que imperam no restante da China.
Macau é o único local em toda a China em que o jogo de azar é liberado.
As receitas com a jogatina
chegaram a US$ 45 bilhões em 2013 ,
20% a mais do que em 2012. No mesmo período Las Vegas faturou US$ 6
bilhões.
Calcula-se que em 2017, o faturamento em Macau atinja US$ 77 bilhões.
É uma cifra impressionante se considerarmos que, em 2002, Macau faturou
US$ 3 bilhões.
Os cassinos em Macau ganham sete vezes mais do que em Las Vegas.
Os empregos em cassinos pagam 30 a 40% a mais do que em outras
atividades e empregam um quarto da força de trabalho.
Acresça-se a isso os empregos ligados a cassinos, como a rede hoteleira,
restaurantes, casas de espetáculos e
comércio em geral. Dessa forma, metade da população ativa na cidade está ligada
ao jogo.
O desemprego tem a taxa irrisória de 1,8%.
Macau já é considerada mais rica que a Suiça.
Mas isso tem o seu lado negativo.
Cresce a prostituição, o crime organizado e a lavagem de dinheiro. Esses
assuntos são manchetes diárias na mídia.
A população local reclama da poluição crescente do ar causada pelos
ônibus que servem aos cassinos e que atendem aos 29 milhões de pessoas que
visitam a cidade.
Protestam contra o encarecimento dos imóveis, a perda de áreas verdes e
a deterioração geral na qualidade de vida, o crescimento da criminalidade, a
falta de perspectiva de estudos e de aperfeiçoamento profissional para os jovens e outros problemas.
Mas os empresários do setor de cassinos veem perspectivas ilimitadas para o crescimento de
seus negócios e investem cada vez mais.
As autoridades de Macau e do Governo Chinês não parecem dispostos a
interferir nesse crescimento desenfreado que tem um déficit crescente de mão de
obra especializada. A carência de especialistas na área de “TI – Tecnologia de
Informação” é cada vez maior.
Os empresários locais trazem
técnicos e executivos de outros lugares e estão investindo pesado
na formação e treinamento de pessoas para
o trabalho nos cassinos e para o atendimento na ampla rede de hotéis.
Certamente as autoridades analisam esse assunto de forma muito objetiva pois a
renda de impostos em Macau é colossal.
É preciso considerar que os jogos de azar, a prostituição e a
criminalidade ficam circunscritas àquela área específica que tem 1/2302% da
população total da China, o que facilita o trabalho e o controle da polícia e não permite que essas atividades
ilícitas se espalhem por outras áreas do território chinês. Por outro lado, se as autoridades chinesas adotassem
uma política inflexível , a renda da jogatina e a rede hoteleira em constante
expansão iria para outros países.
Ademais, muita gente vai a Macau com outros objetivos que não jogar.
Eles vão se hospedar nos hotéis para se divertir, descansar e aproveitar de
suas atrações, como belíssimos shows,
bares, piscinas e excelentes
restaurantes com cardápios internacionais. Pode-se passear em Macau em triciclos e
apreciar as construções, monumentos e
igrejas do tempo da colonização portuguesa.
O Macau Grand Prix realizado no Autódromo
de Macau é um dos mais concorridos do mundo.
São por essas razões que os hotéis estão sempre lotados.
Voltamos para Hong Kong e de lá
retornamos ao Rio com escala em Paris.
Essa viagem foi uma experiência inesquecível.
Mas a China é um universo muito mais amplo e diversificado do que foi
apresentado nesta limitada nota. Por
isso muitos a chamam, de forma metafórica,
de Planeta China.
Acima de tudo, essa viagem nos deixou profundamente reflexivos por
compararmos o que vimos com a situação atual de nosso país.
Como dissemos no início desta exposição, não há como fazer confrontações
entre a China e o Brasil.
São universos diametralmente distintos.
A China é uma civilização de mais de 5000 anos com uma população chinesa
quase que integralmente da etnia han e que
conta com 1.400.000.000 de habitantes. Tem uma base cultural, religiosa e
filosófica baseada no Confuncionismo, no Taoísmo e no Budismo.
Tem várias divisões na língua chinesa além de contar com uma infinidade
de dialetos o que torna a integração, educação e comunicação de seu povo um processo bem complexo.
No atual despertar da China, ela tem tido vários atritos militares e tem feito várias ameaças a países que a
cercam em razão de disputas territoriais
com fundamentos históricos.
O Brasil é um país jovem com uma população miscigenada
de povos e raças provenientes de todos os lugares do mundo e com uma
mistura heterogênea de costumes, religiões e culturas.
Temos a vantagem da língua
portuguesa ser o único idioma falado em todo o território nacional.
E, o que consideramos de suma importância, temos um amplo e rico
território e não temos disputas fronteiriças com os
países que nos cercam. Muito pelo contrário, temos uma relação pacífica e
harmoniosa com todos eles.
Ou seja, temos todas as condições
para sermos uma potência de primeira linha com progresso e paz.
Mas somos obrigados a aceitar e compreender que, na presente quadra,
nosso povo, nossas instituições e cada um de nós, estamos mergulhados em uma crise moral sem paralelo em nossa história.
Crise essa que compromete nossa paz, nossa felicidade , nossas famílias,
a saúde e a educação de nosso povo, nosso
sucesso econômico e a nossa sobrevivência como nação.
Não temos outra alternativa que não seja olharmos para dentro de nós mesmos para
fazermos uma mudança radical em nossas vidas, em nosso comportamento pessoal e
no relacionamento com nossos semelhantes para assim, mudarmos o país como um todo.
Ou saímos desse abismo moral em que nos encontramos e nos reestruturamos como
indivíduos e como nação , ou desapareceremos como já ocorreu com tantas outras civilizações ao
longo da história.
Nesse fundamental aspecto, a China é um exemplo a ser seguido.
Adaí Rosembak
Sócio da AAFBB, ANABB, AFABB-RS e ANAPLAB