O neurologista e escritor inglês Oliver Sacks , ao saber que estava com
câncer em estado terminal, declarou que tinha de viver o restante de sua vida
da maneira mais rica, profunda e produtiva que conseguisse.
Sua declaração repercutiu pelo mundo e se tornou um exemplo de sabedoria,
altruísmo e de devoção e respeito aos seus semelhantes.
Em seu lugar, muitos teriam preferido gozar o resto de suas vidas de
forma devassa. Outros teriam mergulhado nas drogas, ou passariam a seguir rituais
fervorosos de religiosidade.
Essa manifestação de Oliver Sacks me levou a refletir por que a
proximidade tão iminente da morte despertou nele o desejo de manifestar ao
mundo esse seu traço de viver com tanto vigor e intensidade.
Sim, porque essa já era sua forma de viver. Pessoas como Oliver Sacks
sempre vivem suas vidas da forma mais rica, profunda e produtiva independentemente
de qualquer circunstância.
Mas porque estou divagando sobre esse assunto?
Não estou na iminência da morte como Oliver Sacks mas sua mensagem me
atingiu de forma tão impactante e intensa
que decidi repensar minha vida e
passar a viver o restante de minha existência da maneira mais rica, profunda e
produtiva que conseguir.
Essa é uma decisão que desejo dividir com meus amigos e companheiros.
Passarei a cuidar melhor de minha saúde, entrarei em uma dieta, farei
mais exercícios físicos e recomeçarei a praticar dança de salão, que foi um dos
grandes prazeres de minha vida e que abandonei há uns 20 anos.
Talvez não me dedique com tanto afinco ao blog. Ou, quem sabe se, pelo
contrário, essas atividades lúdicas não me darão mais disposição e inspiração
para me aprimorar como blogueiro?
A vida é um sopro e o nosso maior compromisso deve ser vive-la em
plenitude e felicidade.
Todos nós já ouvimos falar de pessoas que, após sobreviverem a situações
de extrema penúria e sofrimento, deram guinadas radicais em suas existências e conseguiram
se libertar de condições infelizes que atormentavam suas existências.
Muitas tomaram coragem para romper com relacionamentos pessoais fracassados,
outras fugiram do ambiente estressante, violento e de poluição sonora e
ambiental das grandes metrópoles e se mudaram para cidades pequenas, tranquilas,
prazerosas e saudáveis.
Alguns abandonaram empregos aos quais estavam presos apenas por uma
questão de sobrevivência, mas onde se sentiam infelizes, oprimidos e frustrados
e passaram a se dedicar a outras atividades que resgataram sua paz de espírito,
sua autoestima e sua realização pessoal.
Enfim, essas pessoas acordaram para o real sentido da vida.
Por isso intitulei esta nota como “Tempo de
Acordar”.
Este acordar implica em impedir que uma situação constrangedora,
opressora e castradora se apodere de nossas vidas e comprometa nossa felicidade.
É preciso reagir, é preciso encontrar uma saída, é preciso mudar essa realidade
deletéria.
Ninguém vai fazer isso por nós.
Não adianta se lamentar, se amargurar e nem culpar quem quer que seja, porque essas situações foram
consequências de nossas opções de vida, são problemas que nós próprios criamos
e dos quais cabe inteiramente a nós se libertar.
Muitos dos aposentados e pensionistas que se encontram em uma situação
financeira tormentosa, podem analisar seus gostos, suas habilidades, suas preferências
e suas características pessoais e aplicar esses traços em alguma atividade
produtiva que os auxiliem em sua reestruturação financeira.
Conheço pessoas que tem o pendor para a culinária e que, nestes momentos
de crise, passaram a fornecer refeições para fora ou montaram restaurantes
caseiros muito bem frequentados em suas próprias residências. Outros que
gostavam de fotografia tornaram-se fotógrafos profissionais. O mesmo ocorre com
várias pessoas que curtem marcenaria, costura, música, consertos de
equipamentos eletrônicos, etc. Muitos passaram a dar aulas de informática e outros
a dar aulas de línguas estrangeiras.
Existem muitas mulheres que trabalham em suas horas vagas como
manicures, cabeleireiras, cuidadoras de crianças ou de idosos. Outras costuram
e consertam roupas. Muitos são professores bem-sucedidos em várias
especialidades. Outros são advogados e corretores.
Com a morte do marido, uma vizinha minha que sempre gostou de cachorros,
montou um pequeno canil em casa. Conheço
muitos dançarinos que, nestes momentos bicudos, se tornaram dançarinos
profissionais (os chamados dançarinos de aluguel) e passaram a usufruir de um
bom rendimento extra.
Enfim, é um número imenso de atividades de toda ordem que podem
propiciar uma boa renda complementar até que as pessoas normalizem suas situações
financeiras.
Muitas dessas funções podem ser exercidas em horas vagas e em suas
próprias residências.
Também existem muitas maneiras de fazer economia.
Logo após a guerra, os franceses passaram a cortar os cabelos de seus
membros familiares em casa, que é um hábito que muitas famílias francesas
mantêm até hoje. Comer fora? Nem pensar. É um prazer que só voltou a imperar na
França quando do retorno ao tempo das vacas gordas no pós-guerra. O uso de bicicleta na Europa é muito difundido
o que faz com que muitas pessoas se desfaçam de seus carros em momentos de
crise. Os europeus, de forma geral, costuram e consertam suas roupas,
poupando-as até o ponto de terem de comprar roupas novas.
Tive uma amiga francesa que me disse que os brasileiros não economizam
porque nunca passaram por guerras. Respondi
que fazíamos economia sim, mas não ao ponto de sermos sovinas como os franceses.
E que, ao contrário dos franceses, teríamos vergonha e não orgulho de ter
passado por guerras.
Ironicamente, acho que uma das poucas atividades que dá muito trabalho,
traz despesas e, às vezes, ainda causa problemas, é a de blogueiro.
Como blogueiro, eventualmente arrumo desafetos por divergências de
pontos de vista, mas, por outro lado, faço muitos amigos e luto por causas
nobres que podem reverter em benefício de toda a categoria de aposentados.
Já me chamaram de puxa-saco, lambe botas, baba ovo e cronista social; já
alcunharam este blog de ‘’blog de m...”, ”blog inútil’’ , etc.
Fico até satisfeito com esses “elogios”. É sinal que estou colocando o
dedo na ferida.
Acho que qualquer pessoa precisa de elogios, incentivos e ajuda em suas
atividades.
Por isso considero que o mínimo que posso fazer é usar este blog de
forma positiva, apoiar as associações e elogiar companheiros que atuam em diversas
frentes para defender de forma incansável, destemida e determinada nossos
interesses e nossas causas.
Sobre esse aspecto, transcrevo adiante dois artigos aparentemente
contraditórios do filósofo e educador Mário Sérgio Cortella, “Adulação” e “Reconhecimento”,
nos quais ele aborda com perspicácia aspectos controvertidos da “arte” de apoiar
e elogiar pessoas:
Adulação
Quando
colocamos um livro no mercado, quando fazemos um projeto e deixamos que ele
seja desenvolvido pelas pessoas, quando estamos em alguma atividade de gestão
pública ou privada, quando formamos filhos e filhas, enfrentamos um grande
perigo, que é a adulação. E é um perigo para o adulado. Porque a pessoa que
adula, a que faz um elogio exagerado, me impede de ter uma visão crítica sobre
o que estou pensando. Ela faz com que haja uma redução da capacidade de
correção de rota.
Como ninguém
é capaz de fazer tudo certo, o tempo todo, de todos os modos, o adulador é um
inimigo muito poderoso.
O pensador
Tácito dizia que os aduladores são o pior tipo de inimigo. Porque eles reduzem
a capacidade de rever, de reinventar, de refazer.
O adulador,
ao dizer que aquilo que eu fiz, escrevi, cantei, mostrei é o melhor, aquele que
fica o tempo todo me bajulando, prejudica a minha capacidade de reinterpretar,
de melhorar, de me elevar a um patamar superior.
Ainda que
todo afago no ego seja gostoso e todo elogio quando merecido nos faça bem, é
preciso distinguir o que é elogio do que é adulação, aquilo que nos deixa de
olhos vendados.
Reconhecimento
Quem não
gosta, como estudante, como profissional, como irmão, como filho, da ideia de
reconhecimento? Quem não gosta de ser lembrado, elogiado e afagado naquilo que
faz? O reconhecimento é uma das formas de incentivo e quem lida com pessoas
sabe o quanto isso é importante. A própria palavra “reconhecimento” significa
conhecer de novo. Eu sou aquilo que
faço. E quando alguém acha positivo aquilo que faço, isso me anima, me dá vitalidade,
me faz crescer.
Há pessoas,
porém, que acham que, se ficarem elogiando, vão enfraquecer a outra pessoa.
Isto é uma tolice. O reconhecimento faz com que a pessoa se sinta bem e ganhe
força. No entanto, Aristóteles, grande pensador grego do século IV a.C., tem
uma frase clássica: “O reconhecimento envelhece depressa”. Porque a nossa
necessidade de animação, de nos conhecermos como pessoas que têm importância,
que têm valor também para outras pessoas, é frequente no dia a dia.
Não se pode
reconhecer de maneira falsa. Não se pode apenas fingir um elogio para que a
outra pessoa se sinta bem, porque isso é cinismo. Mas é preciso reconhecer de
maneira contínua para que a pessoa saiba a importância que tem e, sobretudo,
para que siga melhorando.
Os artigos de Mário Sérgio Cortella nos colocam em uma encruzilhada. É muito tênue a linha que separa a adulação
do reconhecimento. Muitas vezes já me perguntei se fui adulador quando me referi
elogiosamente a uma pessoa. E outras
tantas vezes já me arrependi de não ter elogiado alguém sobre seu valor pessoal
ou sobre algum feito de relevância de sua autoria.
O jeito é publicar o que nossa consciência aponta, mesmo que sejamos mal
interpretados.
Como norma geral procuro ser pródigo em meus elogios e extremamente
limitado em minhas críticas.
Porque poupar elogios bem colocados a pessoas que lutam de forma
bem-sucedida pelos nossos interesses?
E porque massacrar ainda mais alguém que cometeu um erro do qual se arrependeu
e que está de consciência pesada?
Voltando ao título desta nota “Momento de Acordar”, temos de sempre e
reiteradamente, lembrar aos aposentados e pensionistas do BB que, apesar de
todas as limitações e problemas impostos pela idade, a defesa de nossos
interesses é um problema vital de sobrevivência nosso, de nossos familiares e
de todos os companheiros aposentados.
Se não nos juntarmos às associações e aos grupos organizados na rede e apoiarmos
seus dirigentes, com quem contaremos para combater tantas ameaças que pairam
sobre nossas cabeças?
Com mais ninguém !!!
As associações têm sites, tem jornais, tem boletins informativos, tem
revistas. Se não pudermos sair de casa
por motivos vários, podemos fazer consultas, esclarecer dúvidas e mandar nossas
sugestões, críticas, avaliações e reclamações para as associações por meio de
telefonemas, cartas (podem ser escritas a mão ou em máquina de escrever) e
mensagens por e-mail. Todo esse material
é meticulosamente analisado pelos diversos departamentos técnicos dessas
entidades que avaliarão a viabilidade de
implementação dessas colaborações.
Como aposentado, também com limitações, lembro a todos os companheiros
que a história é repleta de exemplos de atrocidades humanas de toda ordem em
que os que não tiveram forças para acompanhar o passo de seus grupos foram os
primeiros a serem dizimados.
Estamos longe dessa situação, portanto vamos acordar e partir para a
luta.
O que não podemos, sob nenhuma hipótese, é nos mantermos alienados ao
que ocorre à nossa volta.
Depois não adianta se lamentar porque será tarde.
É importante que os companheiros mais idosos participem dos almoços
promovidos pela AAFBB no centro da cidade. São oportunidades ímpares para
reencontrarem antigos companheiros e se inteirarem das novidades sobre assuntos
vitais de nosso interesse.
Quando necessitarmos de informações também podemos acessar diversos espaços
dos sites das associações.
O site da AAFBB conta, entre outras, com as colunas “Antenado” e “Notícias”
que são excelentes fontes de referência. O site da ANABB tem as colunas “CASSI
em debate” e “Notícias”. A ANABB também conta com o espaço “Vídeos ANABB” em
que são colecionados vídeos muito esclarecedores sobre os assuntos de interesse
dos aposentados e pensionistas da PREVI.
Também podemos acessar os sites de diversas outras associações de
funcionários que nos prestam informações relevantes.
Esta conclamação aos funcionários aposentados e pensionistas para que
sejam mais participativos em relação aos seus próprios interesses é um recado que
já transmitimos várias vezes neste veículo e que sempre tornaremos a reprisar
até que ele penetre na consciência de cada aposentado como se fosse por um
processo de osmose.
Esperamos que essa mensagem frutifique para a mobilização dos
funcionários aposentados e das pensionistas para a
defesa de seus interesses e para a felicidade, saúde e bem-estar de seus
familiares.
Adaí Rosembak - Associado da
AAFBB, ANABB, AFABB-RS e ANAPLAB