Muitos já me
perguntaram porque abordo assuntos relativos a política e economia
internacionais, já que este blog deveria se focar em assuntos relativos à
interesses dos funcionários da ativa do BB e aposentados e pensionistas da
PREVI.
Respondo que não deixo
de atender a esse objetivo, pois a previdência social, os planos de previdência complementar e os
planos de saúde, se inserem no contexto
da situação financeira do país, e esta,
por sua vez, se coloca dentro do posicionamento do país no ambiente da
globalização financeira e econômica .
As finanças do país
estão começando a se estruturar como retratam as últimas notícias na mídia especializada,
como, por exemplo, a queda da inflação e a baixa dos juros pelo BACEN.
Apesar da crise
econômica em que o Brasil foi lançado por seguidos desgovernos, as indústrias e
empresas brasileiras, inclusive as estatais, estão se modernizando para
enfrentar a competição internacional, e medidas rígidas estão sendo tomadas em
várias áreas para disciplinar os gastos governamentais.
O FMI já fez uma
previsão positiva da economia do Brasil e vê o país próximo de sair da crise.
Idem as agências
internacionais de classificação de risco que estão prestes a voltar a elevar o
nível de classificação do Brasil.
Por outro lado, a Operação
Lava-Jato e outras, estão disciplinando e moralizando as relações
governamentais e de políticos com o mundo corporativo o que, na opinião de
especialistas na área econômica, contribuirá para a entrada de novos investimentos no Brasil
e para a melhora do índice de
Percepção da Corrupção do país, aferido pela ONG Transparência Internacional.
Atualmente, entre 176
países, estamos na 79ª posição,
com 90 pontos.
Na América Latina estamos à frente da Argentina (95ª posição - 36 pontos)
e atrás do Chile (24ª posição – 66 pontos).
Adicionalmente, em
razão dos resultados positivos de várias operações promovidas pelas autoridades,
grandes montantes de capitais desviados estão retornando para os cofres do
país.
Ou seja, medidas adequadas
e corretivas estão sendo tomadas pelo Governo, pelo Poder Judiciário e por outros órgãos públicos para
recolocar o Brasil no caminho do progresso, do equilíbrio financeiro, e para que
o país seja respeitado internacionalmente por uma atuação íntegra, isenta de
desvios e corrupção, em seu relacionamento financeiro e comercial com outros
países.
Estamos apenas no
início dessa virtuosa jornada.
Uma das consequências mais
positivas desse novo rumo, embora seja um dos últimos benefícios dessa mudança
geral do país, é o aumento geral do nível de empregos.
Confesso que tive uma
grande surpresa ao me deparar com um instrumento dessa grandeza, muito bem
estruturado e alicerçado nas mais confiáveis fontes dentro e fora do país, que
aborda uma gama imensa de assuntos referentes a economia, finanças, área
governamental, política nacional e internacional, e diversos outros temas. É
uma fonte valiosíssima para consultas, estudos e pesquisas.
Para satisfazer minha
curiosidade em uma área pela qual tenho
um especial interesse, não pude deixar de observar a posição da atual Rússia
capitalista nesse índice da “Transparency International”. Lá estava a Rússia na
131ª posição, com meros 29 pontos.
Já abordei em vários
artigos aspectos da implosão da ex-URSS e a mutação da Rússia do socialismo
para o capitalismo, na década de 90.
No último artigo, “A
Rússia Atual”, de 11.10.2016, foquei, principalmente, o caminho da
militarização acelerada no presente período do Putinismo.
Arrisco-me neste artigo,
mais uma vez, a ser futurólogo nesse assunto, para afirmar que, da mesma forma
como subitamente aconteceu na década de 90, teremos grandes
surpresas em relação à Rússia muito em breve.
É preciso considerar
nessa abordagem que, embora a Rússia seja um país disfuncional e desestruturado
em vários aspectos, é a nação com o mais vasto território no planeta, conta com
vastos recursos minerais e grandes depósitos de gás e petróleo. Cerca de 60% de
sua renda de comércio externo, provém da exportação de gás e petróleo para
abastecer a Europa Ocidental.
Como herança da ex-URSS
e da atual corrida armamentista, suas forças armadas contam com um grande número de ogivas nucleares
(cerca de 8.500 em 2013), têm em torno de 12.000 toneladas de armas químicas, dispõem de armamento moderno e potentes forças militares de ataque terrestre, marítimo e aéreo.
Mas a manutenção de seu poderio militar tem um alto preço que afeta
toda a sociedade e se reflete diretamente no empobrecimento da população.
Afora isso, a Rússia
sofre com um alto nível de corrupção, ineficiência administrativa, fuga de capitais, tolhimento da liberdade de expressão e sua base econômica é dominada por um grupo de oligarcas submissos à figura de Vladimir Putin, entre outros fatores.
É sempre importante frisar
que qualquer mudança na Rússia, pelo seu gigantismo, se refletirá em todo o
planeta, inclusive no Brasil. Por essa razão, a mídia internacional deve estar atenta ao que
ocorre na política e na economia daquele país.
Transcrevo adiante duas
notas a respeito desse assunto.
Uma, é a tradução do artigo “Unattainable Utopia: How
Kudrin plans to Reform Russia’s Economy” (Utopia impossível de atingir: Como
Kudrin planeja reformar a Economia Russa),
de autoria de Boris Grozovsky, jornalista especializado em economia,
publicado em 23.01.2017, no insuspeito jornal “The Moscow Times”. Essa nota é
extremamente interessante porque nos lembra, no Brasil, o trio de desatinados e
incompetentes Dilma Rousseff, Guido Mantega e Arno Augustin que, mesmo contra
todas as evidências, insistiram em implementar o mesmo receituário econômico falido,
que acabou por afundar o país.
Outra nota, é a
tradução da reportagem “Russia: Talking war in times of economic crisis”
(Rússia: Falando de guerra em tempos de crise econômica), da jornalista Mariya
Petkova, publicado no site www.aljazeera.com, em 01.01.2017.
Ao final deste artigo,
e ainda abordando a Rússia, faço um breve comentário sobre a obra “O fim do
homem soviético”, de autoria da escritora Svetlana Aleksiévitch, um calhamaço de 594 páginas que, finalmente,
acabei de ler.
Confesso que poucas
vezes em minha vida me deparei com um livro tão chocante. Sua obra baseia-se em entrevistas com pessoas
de diversas áreas e níveis sociais, que passaram pelo
período de transição dos anos 90.
Depois dessa leitura,
minha visão sobre a Rússia mudou inteiramente, e hoje compreendo porque o povo
russo encontrou no putinismo uma saída de sobrevivência.
ADAÍ ROSEMBAK
Associado da ANABB,
AAFBB e ANAPLAB
UTOPIA IMPOSSÍVEL DE
ATINGIR: COMO KUDRIN PLANEJA REFORMAR A ECONOMIA RUSSA, Boris Grozovsky, The
Moscow Times.
“Putin e seus aliados nunca darão aos liberais o direito de
mudar um país que eles consideram como sendo somente deles. ”
O ex-Ministro das
Finanças Alexei Kudrin merece respeito por ser admirado como o maior otimista
da Rússia: ele mais uma vez está criando uma estratégia para o desenvolvimento
do país. Encabeçando um grupo de eeconomistas, criado a mando do presidente
Vladimir Putin, Kudrin está formulando um programa para apoiar a reeleição de
Vladimir Putin em 2018, que visa o desenvolvimento futuro da economia do país.
Ele e seu grupo tem o prazo até abril para completar essa tarefa.
Nesse aspecto, Kudrin é
igual a um velho professor que tenta, pela enésima vez, explicar uma lição básica
para um aluno. O rapaz é viciado em
drogas há muito tempo, anda com uma gangue local, e tem uma longa ficha criminal
por roubos. Entretanto, o professor não vê o estudante como um marginal
incorrigível, mas somente como um jovem de bom comportamento que está tendo um
pequeno problema em uma lição.
Kudrin renunciou ao
cargo no governo em 2011, após um desentendimento sobre gastos militares com o então Presidente Dimitry Medvedev.
Naquele período, isso parecia mais um pretexto do que uma razão real para sua
saída.
Mas o que de fato
aconteceu, é que Kudrin enxergou, com muita antecipação, para onde as coisas
estavam indo. Gastos com a defesa, segurança nacional, e outros gastos com
segurança interna, em 2011, tinham atingido 2,78 trilhões de rublos (US$ 46.9
bilhões), ou 25,4% do total de 10,93 trilhões de rublos, que era o total de
gastos governamentais. A militarização da Rússia estava em plena escalada.
Mas isso foi apenas o
começo. Tal gasto atingiu em 2014-2016 um aumento insustentável.
O Ministério
das Finanças tem provavelmente tentado cortar custos em algumas áreas, mas os
gastos para as áreas de segurança em 2016 foram projetados para atingir 5,7
trilhões de rublos – um aumento de 34,2%, extremamente alto para um orçamento
totalizando 16,64 trilhões de rublos.
O pêndulo atingiu sua
mais ampla abertura.
Ao demonstrar suas
capacidades militares, a Rússia fez o mundo inteiro temer cada movimento seu.
Agora, o líder russo
tem de demonstrar não sua força, mas seu preparo para atingir seus objetivos e
sua determinação em se modernizar.
É por isso que eles
chamaram Kudrin de volta.
Sua última tentativa de
implementar um novo plano de desenvolvimento econômico foi há cinco anos atrás.
Aquele projeto foi
chamado Estratégia 2020.
Entretanto, autoridades
governamentais pinçaram somente as partes que eles gostaram do sólido trabalho
e deram início a uma estratégia oposta - abocanhando a Crimeia e entrando na
Região de Donbass, na Ucrânia, refreando liberdades políticas, e entrando em
confronto com o Ocidente.
Kudrin e seus
associados estão muito conscientes da situação econômica na Rússia. Em um recente artigo, eles escreveram que um
dos principais obstáculos para o desenvolvimento da Rússia, é que, na falta de visão do futuro, os russos se focam somente no imediatismo da
situação.
Isso provém da visão da
era soviética, quando o planejamento de longo prazo era muito popular, mas no
fim sempre era desacreditado. Até que o povo russo “olhe para o futuro” de
novo, eles nunca tomarão ações concretas.
A atual miopia da
Rússia leva ela a entrar em aventuras impulsivas como a Crimeia e o Donbass,
satisfazendo desejos imediatos, mas reduzindo o desenvolvimento a longo prazo.
Falando no Fórum de
Gaidar em Moscou, em janeiro, Kudrin explicou que o atraso tecnológico e o
desenvolvimento lento da Rússia são consequências desse raciocínio limitado, e
que o governo é responsável nesse aspecto.
Ele argumentou que ao subsidiar a
inovação, o governo em lugar de acelerar, inibe o desenvolvimento.
Mas é impossível
formular uma meta de longo prazo enquanto o governo divulga uma barragem de
propaganda contrária infindável e silencia a oposição.
Que discussão viável
pode ter andamento, se as autoridades intitulam de extremismo quando alguém
expressa a opinião de que a anexação da Crimeia foi um desastre político?
A cela de uma prisão
não é o melhor lugar de onde extrair as melhores ideias para o futuro.
Em um estado policial,
as vidas dos cidadãos repousam não em suas próprias mãos ou mesmo nas mãos da
lei, mas nas mãos da polícia e de seus comandantes. Afirma-se que eles representam
a melhor visão de Moscou e devem saber o que é o melhor para a sociedade.
Mas tal visão se adapta
perfeitamente aos líderes autoritários: isso dá a eles carta branca e os libera
de qualquer responsabilidade.
Como resultado, todos
os planos liberais de Alexei Kudrin, mais uma vez, resultarão em nada mais do que
uma inatingível utopia.
Os autores dessas
mudanças afirmam que isso melhorará a atuação do
estado. Talvez – embora não para servir às necessidades do povo, mas em o
controlar.
Eles proclamam que isso
pede reformas do sistema judicial. Claro, mas os políticos e os dirigentes de
empresas estatais sabem perfeitamente bem que mesmo que eles violem a lei, as
cortes judiciais irão certamente atender a qualquer decisão que eles solicitem.
Eles dizem que o plano
implementará iniciativas individuais e reduzirá a regulação governamental da
economia e da sociedade. Certamente, mas o estado reterá a maioria dos mais
rentáveis negócios para si mesmo ao ocupar os altos comandos da economia –
incluindo óleo, gás, e defesa – enquanto continuarão a reduzir seus
compromissos em setores não rentáveis como saúde pública e educação.
Eles dizem que o plano
mudará a autoridade da centralização federal para as diversas regiões e
promoverão o desenvolvimento regional.
Sim, mas Moscou
continuará a reter o controle financeiro e político enquanto as regiões terão
de arcar com a manutenção da estabilidade social.
Assim é como a
estratégia liberal de Kudrin para o desenvolvimento econômico realmente parece, porque
ele encontrará implementação não no vácuo, mas no apoio que fica ao critério do
poder central da Rússia de Putin.
Putin e seus apoiadores
nunca darão aos liberais o direito de mudar um país que eles julgam pertencer
somente a eles. No máximo, eles cederão
aos liberais o controle sobre a parte dos negócios não rentáveis enquanto reterão
“o controle principal” das partes rentáveis. Quando se entra em acordo para
contratar um trabalho, sempre é importante esclarecer exatamente qual
tarefa seus empregadores querem que você cumpra, e o quanto de autoridade eles
lhe darão para cumprir a tarefa.
RÚSSIA: FALANDO DE
GUERRA EM TEMPOS DE CRISE ECONÔMICA, Mariya Petkova, www.aljazeera.com
“A retórica da guerra tem ajudado o Governo Russo a controlar
a crise relacionada com o descontentamento, mas pode levar ao efeito oposto. ”
Quando as sanções
atingiram a Rússia em 2014 e Moscou respondeu com um boicote comercial, Irina
achou engraçado o povo começar a reclamar sobre o desaparecimento da variedade
de queijos importados das lojas.
Irina, uma pesquisadora
de educação de 32 anos, que pediu que somente seu primeiro nome fosse citado,
diz que ela não sentiu o efeito das sanções em sua vida diária, nem nas suas
escolhas de queijos.
No mesmo ano, quando os
preços do petróleo tiveram uma queda dramática, o rublo entrou em colapso e a
crise econômica atingiu a Rússia com força total.
Sendo uma integrante privilegiada da
classe média de Moscou, Irina não sentiu os fortes efeitos da crise, muito
embora ela tenha limitado suas viagens ao exterior e tenha reduzido seus gastos
com artigos de luxo.
Por mais que os
prognósticos para a economia russa estejam sendo pessimistas, Irina diz que ela
não está ansiosa sobre a segurança financeira de seu futuro. O que ela acha ameaçador e perigoso é a crescente mudança agressiva da política governamental que tem acompanhado a
crise.
“Eu fiquei chocada de
ver as notícias sobre a extensão da militarização ... é como eles estarem tentando preparar o país para a
guerra. ” Ela diz. “Eu acho esse aspecto da crise o mais amedrontador. ”
A agressiva retórica do
Governo e da mídia estatal intensificou-se com o Ocidente quando do choque da
Ucrânia com a Rússia, enquanto ao mesmo tempo, a economia russa entrou em
recessão.
Eliot Borenstein,
Professor de Estudos Russos e Eslávicos da Universidade de New York, explicou o
fenômeno. “Em muitos aspectos, as sanções americanas e europeias foram um
presente para Vladimir Putin, a partir do momento em que elas permitiram o
desvio do foco de críticas na economia
para centrarem a atenção nos inimigos da
Rússia,” ele disse à Al Jazeera, em uma entrevista telefônica.
“Entretanto, isso
introduziu a percepção de que lidar adequadamente com dificuldades econômicas é
um assunto relativo a patriotismo. ”
O apelo governamental
aos sentimentos patrióticos dos russos parece ter sido efetivo para conter a
insatisfação geral entre a população.
Muitos russos têm se
preparado para uma longa recessão econômica. Apesar disso, existem alguns, como
Irina, que não estão propensos a aceitar as consequências da política militarista
do Kremlin.
Contornando uma crise econômica.
Quando o preço do
petróleo entrou em queda no fim de 2014, o rublo russo perdeu 60% de seu valor
frente ao dólar. O valor da produção per
capita caiu de US$ 15,000.00 para US$ 9,000.00 e a economia encolheu 4% ano a
ano.
Cortes de gastos foram
feitos e as taxas de pobreza aumentaram. Em 2015, a proporção de famílias
pobres com uma renda suficiente somente para alimentação aumentou de 22 para
39%, de acordo com um estudo do Centro Russo de Pesquisas de Opinião Pública, enquanto a classe média
encolheu 16% de acordo com a área de Pesquisa do Consumidor, do Sberbank.
O padrão de vida se
deteriorou muito significativamente para os russos pobres ao redor dos grandes
centros econômicos.
Em 19 de Dezembro de
2016, ocorreu um incidente em Irkutsk, uma cidade siberiana, em que mais de 70
pessoas morreram após beber uma loção de banho com 90% de etanol, o que
demonstrou o desespero que grande parte do povo enfrenta. As vítimas – a
maioria pobres e sem-teto - beberam a
substância porque uma garrafa custava somente 30 rublos (50 cents), seis vezes
mais barata do que uma garrafa de vodka.
A mídia local comentou
que a crise econômica, juntamente com uma alta taxa de alcoolismo, induziu
muitos russos a consumirem álcool produzido ilegalmente e outros produtos com álcool. Durante os dois últimos
anos, o aumento da pobreza na Região de Irkutsk tem aumentado, atingindo mais
que 21% da população, enquanto que o real valor dos salários tem caído mais que
10%.
Boris Grozovsky, um
jornalista russo na área de finanças, disse à Al Jazeera que ele pensa que a
crise econômica gradualmente também afetará a saúde pública e a educação.
Em 2015, a Rússia
testemunhou o que a mídia local disse que foi a primeira greve de professores
em 15 anos, após o pagamento dos salários terem atrasado na Região de Zabaykalsky; médicos e professores de jardim
de infância também se juntaram ao protesto.
Médicos tem reclamado
que o real valor de seus salários tem caído, e que a falta de financiamento do
serviço de saúde pode levar a um sério déficit de pessoal especializado na
área.
Grozovsky diz que,
apesar da Rússia estar em uma longa recessão, o padrão de vida não cairá aos
níveis de 1990, quando o rendimento per capita foi de US$ 1,500.00 - US$
3,000.00.
“O que está nos
esperando é uma situação de estagnação. Enquanto outros países se desenvolvem,
nós ficaremos para trás,” ele explicou.
O Primeiro Ministro da
Rússia Dmitry Medvedev tem se dedicado a apresentações públicas para
reassegurar ao público, com discursos, as formas de solucionar a crise. Em setembro ele publicou um artigo mostrando
a visão para reformar a economia russa “para fazer a Rússia atrativa para
negócios”.
Após o orçamento do
estado em 2017 ter sido votado, ele apareceu em canais da TV estatal,
assegurando que haveria dinheiro
suficiente para cobrir benefícios sociais e que era esperado crescimento da
economia para o próximo ano. Essas propagandas da mídia também incluíram
reportagens com uma positiva visão da crise, focando, por exemplo, na baixa
inflação e nos gastos em consumo durante a temporada de férias.
Mas Marina Krasilnikova, uma socióloga do
Centro de Pesquisa Levada em Moscou, diz que os russos têm aceitado a crise
econômica e tem ajustado suas expectativas e seus hábitos de consumo.
De acordo com o Centro
Nielsen de Confiança do Consumo Global, 73% dos russos que atenderam à sua
pesquisa, disseram que eles tiveram de cortar suas despesas, e 82% declararam
que este não é um período adequado para gastar dinheiro.
Retórica Agressiva
Enquanto o Governo tem
procurado aliviar os temores da sociedade, por outro lado ele também tem
deixado claro que a defesa é uma prioridade e que está reservando uma parcela
considerável do orçamento para assegurar a modernização das forças armadas.
No orçamento de 2017, o
Governo alocou US$ 43 bilhões, 4,7% do Produto Nacional Bruto da Rússia, ao
setor de defesa – o que muitos analistas chamam de “gasto recorde” para um país
que, até o momento, não está em guerra.
Vladimir Putin,
pessoalmente, tem falado repetidamente sobre a importância das forças armadas.
No último dezembro, ele
alertou que a Rússia é atualmente mais forte que qualquer “potencial agressor”,
mas que isso é somente uma parte do esforço na “modernização das forças armadas
e da frota ou na sua preparação para que isso ocorra”.
Este tipo de retórica
alarmista não é somente efetivo para justificar o aumento do orçamento da
defesa para o público, mas é também uma forma de desviar a atenção da crise
econômica.
Krasilnikova diz que “a
ideia de que a Rússia é um grande país que tem muitos inimigos é bastante
popular” e isso tem mitigado a insatisfação o povo com o atual estado de
problemas na economia.
Essa retórica tem sido
constantemente usada nos canais da TV estatal, tal como a “Russia 1”.
“A Rússia possui um
poder militar suficiente para destruir os Estados Unidos no mínimo 10 vezes.
Nós somos o único país que representa um desafio existencial para eles,”
afirmou o Membro do Parlamento Vyacheslav Nikonov, em um dos mais populares
programas políticos na Rússia 1, “A Tarde com Vladimir Solovyov”. O apresentador do programa é conhecido por
sua linguagem beligerante e suas entrevistas pessoais com Vladimir Putin.
Alegando que os Estados
Unidos financiam políticos liberais na Rússia, Nikonov também afirmou que após
a introdução de uma lei para atingir diretamente a influência de “agentes
estrangeiros”, o financiamento para esses agentes cresceu 10 vezes.
Novos programas também
oferecem retórica similar.
Russia 1 apresentou
seguidas reportagens no meio de dezembro sobre a situação em Aleppo, cobrindo
extensivamente as bem-sucedidas operações do exército russo naquela área,
enfatizando a ausência do envolvimento militar do Ocidente mesmo que fosse para oferecer socorro e,
também, a indiferença da mídia ocidental ou a deliberada esquiva de noticiar o
sucesso russo.
Ansiedade Crescente
De acordo com Vlad
Strukov, Professor associado em Filmes e Cultura Digital na Leeds University,
enquanto linguagem antagônica não é nada de novo na mídia russa, sua
intensidade tem crescido significativamente nos últimos anos.
“Há cinco ou dez anos atrás,
poderiam haver discussões sobre o desafio da NATO - North Atlantic Treaty Organization (OTAN - Organização
do Tratado do Atântico Norte), mas isso era considerado um tipo de desafio
distante.
Agora é como
se a guerra estivesse prestes a acontecer.
A propaganda oficial diz que a OTAN está planejando ação militar, ” ele disse à Al Jazeera.
Esta intensa retórica
de preparo militar para a guerra tem inevitavelmente afetado o espírito da
população em geral.
Um recente estudo mostra
que 48% dos russos pensam que a piora das relações com o Ocidente é devida à crise
na Síria, e pode desencadear a Terceira Guerra Mundial.
O assassinato do
embaixador russo em Ankara em 19 de dezembro, chocou a sociedade russa, e
enquanto a mídia estatal cobria a “heroica” morte de Andrey Karlov, haviam
outros que achavam isso revoltante e inaceitável.
“O surgimento de
protestos anti-Rússia no Oriente Médio após a tomada de Aleppo, que foi o
motivo que levou ao assassinato do Embaixador Andrei Karlov, mostra que,
enquanto a Rússia estava retomando sua influência na região, isso também fez a
Rússia tomar dos Estados Unidos o papel de principal inimigo imperialista”,
escreveu Vladimir Frolov, um analista político russo.
Ele frisou que essa
mudança nos acontecimentos foi negativa para a Rússia e que isso poderia desencadear
mais ataques terroristas.
Mesmo antes do
assassinato, o entusiasmo geral da população russa pela intervenção militar no
Oriente Médio tinha começado a esfriar.
A operação militar na
Síria tem custado quase US$ 1 bilhão por ano e comenta-se secretamente sobre um
crescente aumento de mortos e feridos entre militares russos e mercenários.
Em outubro de 2015, uma
pesquisa do Centro Levada, apontou que 72% dos entrevistados apoiavam bombardeios
aéreos na Síria; em outubro de 2016, aquele nível de aprovação caiu para 52%.
Para Irina, a promoção
da política de guerra do governo, é mais preocupante que a situação da
economia.
“Eu gostaria de ver
menos desse inflamado militarismo. Eu
gostaria de ver um caminho de volta desse armamentismo a favor de um
desenvolvimento pacífico, ” ela diz.
Fonte: Al Jazeera
COMENTÁRIOS SOBRE O
LIVRO “O FIM DO HOMEM SOVIÉTICO”, DE SVETLANA ALEKSIÉVITCH.
Sobre a formação da
URSS:
“Devemos arrastar conosco 90 milhões dos cem que povoam a
Rússia Soviética. Com os demais é impossível falar: é preciso destruí-los.” (Zinóviev, 1918).
“Moscou está literalmente morrendo de fome.” (professor Kuznetsov a Trótski).
“Isso não é fome. Quando Tito tomou Jerusalém, as mães judias
comeram seus próprios filhos. Quando eu fizer suas mães comerem os próprios
filhos, aí você pode vir e dizer: “Estamos morrendo de fome.” (Trótski, 1919).
Sobre o fim da URSS e a
ida da Rússia do socialismo para o capitalismo:
“A Rússia mudou, e odiou a si mesma por ter mudado.”
Comentários
introdutórios sobre o livro “O Fim do Homem Soviético”, de Svetlana
Aleksiévitch.
Acostumado a uma cultura de guerras, revoluções e grandes
reviravoltas políticas, o povo russo assistiu com espanto ao imprevisto
silêncio que acompanhou a queda do Império Soviético e a passagem ao
capitalismo. A população se dividia entre os que apostavam em um horizonte de
democracia e os que viam com desolação a derrocada da ideologia que por anos
dirigira suas vidas.
Em O Fim do Homem Soviético, Svetlana Aleksiévitch olha para
esse cenário interessada na vida das pessoas afetadas pela súbita imposição de
um capitalismo selvagem e imaturo: “Não faço perguntas sobre o socialismo, mas
sobre o amor, o ciúme, a infância, a velhice”.
Entre 1991 e 2012, a autora entrevistou centenas de pessoas.
Mestre na arte da conversação, ela procurou, na intimidade das cozinhas russas,
as vozes daqueles que acreditaram, dos que foram céticos, dos que insistiram em
lutar por um ideal de democracia. Em cada uma das personagens está um pouco da
história russa – a mãe cuja filha morreu em um atentado; a antiga funcionária
do Partido Comunista que coleciona as carteiras abandonadas dos ex-filiados; o
velho militante que passou dez anos em um campo; mãe e filha que acabaram nas
ruas depois de perder o apartamento para golpistas; o caso de amor entre uma
dona de casa que abandona a família para viver com um homem condenado à prisão
perpétua.
Nesse caleidoscópio, há muito sobre o papel da ideologia
soviética para a manutenção da URSS – ideologia que funcionou por décadas como
a cola que fazia o império soviético permanecer em pé, derramada em cada mínimo
detalhe da vida cotidiana.
Svetlana Aleksiévitch
nasceu na Ucrânia, em 1948. Jornalista e escritora, refinou ao longo de sua
obra uma escrita única, desenvolvida a partir da observação da realidade e
ostentando as melhores qualidades narrativas da tradição da literatura em
língua russa. Em 2015, recebeu o prêmio Nobel de Literatura. Dela, a Companhia
das Letras publicou “Vozes de Tchernóbil” e “A guerra não tem rosto de mulher.”