Caros
Companheiros,
Li no jornal O Globo um artigo que
focou o desejo de parte dos cariocas de se mudarem para cidades menores, mais
tranquilas e seguras, se tivessem condições para tanto.
Esse, certamente, também é o sonho de
moradores que moram nas periferias e comunidades de outras megalópoles no Brasil,
que sofrem os efeitos da poluição sonora e ambiental, do excesso de veículos
que criam congestionamentos constantes, do desemprego, da educação deficiente,
da falta de assistência de saúde e de carências de toda ordem.
As pessoas mais pobres são as maiores
vítimas da violência pois, além de sofrerem diariamente os efeitos de tiroteios
entre quadrilhas pelas disputas de territórios e de choques entre bandidos e
forças policiais, ainda são submetidas à extorsão por parte de grupos de
criminosos e de milícias fortemente armadas.
Tudo isso leva a população mais
carente a ter uma existência miserável
e tensa, que leva as pessoas a terem sérios problemas de ordem emocional causados pela insegurança e medo.
A vida é uma aventura única que deve
ser usufruída plenamente de forma digna e prazerosa.
É isso que as massas desassistidas
desejam para si e seus familiares.
A ânsia de alcançar esse ideal de vida
está levando famílias inteiras a abandonarem suas moradias e seus pertences
para entrarem em um êxodo
desesperado à procura de uma vida mais
digna, produtiva e segura.
Esses fluxos migratórios de grandes
megalópoles para cidades médias e pequenas já ocorreram e continuam ocorrendo
em outros países.
No Brasil, os processos de
interiorização e gentrificação tendem a se expandir cada vez mais.
Em relação a esse assunto, li a manifestação
de uma moradora de uma comunidade da zona sul do Rio, que falava do crescente
processo de gentrificação naquela localidade.
Ela dizia que aquela área estava
completamente descaracterizada pela compra de imóveis por estrangeiros, que
pagam preços razoáveis por aquelas moradias simples mas com vista deslumbrante
para o mar, para, logo após, as demolirem e erguerem pousadas luxuosas para
serem ocupadas por turistas de alto poder aquisitivo.
Esse é um ótimo negócio para os
moradores dessas áreas, pois a venda de suas casas rende o suficiente para
comprarem bons imóveis em outras cidades e ainda sobra dinheiro para montarem
algum negócio.
Ou seja, é uma negociação de
ganha-ganha, tanto para o vendedor como para o comprador.
Será que, em futuro próximo, poderemos
contar com novas localidades sofisticadas, no estilo da Costa Amalfitana, na
Itália, nas áreas montanhosas que margeiam a costa oceânica do Rio?
Pensar e sonhar são devaneios e
permissividades da imaginação.
Um exemplo clássico do processo de
gentrificação na Cidade Maravilhosa é a Cruzada São Sebastião, situada no
Leblon, o bairro mais nobre do Rio.
Há tempos que a Cruzada São Sebastião
vem mudando sua imagem.
Até há pouco tempo, era uma área degradada,
afetada pela criminalidade e pelo tráfico de drogas.
Agora um apartamento na Cruzada São
Sebastião é valorizadíssimo.
Muitos moradores daquele conjunto habitacional
estão vendendo a bom preço seus apartamentos ao tempo que fazem boas transações
imobiliárias e se estabelecem em outras localidades, enquanto pessoas de maior
poder aquisitivo compram suas unidades na Cruzada.
Esse processo também ocorre em outras megalópoles
no exterior.
Em New York, por exemplo, vários bairros
miseráveis e perigosos, em pouco tempo, foram transformados pelo processo de
gentrificação em áreas valorizadíssimas.
A gentrificação é uma perspectiva a
ser analisada e implementada pelas autoridades para a transformação das grandes
cidades superpovoadas no Brasil.
O Rio de Janeiro, em particular, que
conta com áreas belíssimas que foram ocupadas por comunidades carentes, é o
exemplo mais promissor para o incentivo à política de gentrificação.
Seguidas administrações municipais que
pregavam uma agenda demagógica de falso igualitarismo social para obter votos
das populações mais oprimidas, provocaram e incentivaram a ocupação desregrada
dos espaços livres da cidade.
No momento, partes da Cidade do Rio de
Janeiro ainda são áreas degradadas, perigosas, com alto nível de desemprego e de
onde grandes empresas se afastaram em razão da desorganização e da
violência.
Mas essa situação vai mudar.
O Rio de Janeiro tem uma capacidade extraordinária
de reagir contra suas mazelas e se reinventar.
O Rio de Janeiro continua a ser o
tambor político do país.
Tudo que ocorre no Rio de Janeiro se
reflete em todo o Brasil.
Dedico ao Rio de Janeiro, essa bela cidade
afligida por tantos problemas, mas tão amada,
tão trepidante, tão apaixonante e envolvente, tão idolatrada e cantada em prosa
e verso, o belíssimo poema do poeta e
dramaturgo bengali Rabindranath Tagore, sobre a flor de lótus, a mais bela e
perfumada de todas as flores, que desabrocha no meio da lama e do lodo, da
mesma forma que a Cidade Maravilhosa consegue ser cada vez mais maravilhosa em meio ao caos.
ADAÍ ROSEMBAK
Associado da AAFBB, ANABB e ANAPLAB
A
FLOR DE LÓTUS
“ No
dia em que a flor de lótus desabrochou, a minha mente vagava, e eu não percebi.
Minha
cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente
agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei
do meu sonho sentindo o doce rastro
De um
perfume no vento sul.
Essa
vaga doçura fez meu coração doer de saudade.
Pareceu-me
ser o sopro ardente do verão, procurando completar-se.
Eu não
sabia que a flor estava tão perto de mim.
Que ela
era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha
desabrochado no fundo do meu coração. ”
Rabindranath
Tagore
Amigo,
ResponderExcluirGostei muito de sua análise. Você apresentou saídas para resolver o caos do Rio de Janeiro. Depois de Sérgio Cabral, Eike Batista e tantos outros na cadeia, acho que a corrupção vai ter uma queda.
Vai ser a hora de agir para reconstruir a cidade. Suas ideias poderão ser bem aproveitadas.
Também gostei muito do poema.
Nunca tinha ouvido falar desse poeta.
Caro Anônimo,
ExcluirGrato ao reconhecimento do artigo.
Os dois processos, tanto o de gentrificação quanto o de interiorização já modificaram completamente o tecido social de outros países.
Os Estados Unidos são o exemplo mais flagrante do êxito desses dois processos.
Penso realmente que a interiorização e a gentrificação, entre outros ajustes, vai recolocar o Rio nos eixos.
Quanto ao poeta, ele é muito conhecido no oriente mas nem tanto no Brasil.
Abração
Adaí Rosembak
Adaí,
ResponderExcluirEm que pese a situação calamitosa da segurança pública no Rio de Janeiro, mudar para localidades menores em busca de tranquilidade é um ledo engano, pois levando em conta as devidas proporções, o índice de criminalidade em todos os municípios do país é o mesmo.
É só observar que nas entrevistas dadas pelos responsáveis pela segurança pública eles sempre dizem que a criminalidade encontra-se dentro da normalidade.
Normalidade para quem? Para mim, normalidade é não haver crime algum!
Caro José Roberto Eiras Henriques,
ExcluirVou começar a responder pelo fim de seu comentário.
Dizer que criminalidade tem nível de normalidade é um total absurdo.
Concordo absolutamente quando você diz que normalidade é não haver crime algum.
Muito embora esse desejo seja uma utopia. Onde não existe crime? Mesmo nos países nórdicos, que são os mais avançados, exite criminalidade embora em nível muito baixo.
Quando falei em gentrificação e interiorização, me referi à solução de outros aspectos negativos do sufocamento das grandes metrópoles.
Acho efetivamente que a interiorização vai esvaziar comunidades apinhadas de miseráveis. Se, pelo menos parte desse povo encontrar emprego, casa e condições melhores no interior, o nível de criminalidade tende a cair.
De qualquer modo medidas cada vez mais duras tem de ser tomadas para melhorar essa situação.
Do jeito que está é que não pode ficar.
Abração
Adaí Rosembak
Caro Senhor,
ResponderExcluirAcabo de ler que na Cruzada São Sebastião, que o senhor tanto exalta como modelo de gentrificação, teve um tiroteio que matou gente. O senhor ainda defende essa área?
Caro Anônimo,
ResponderExcluirDefendo sim. O processo de gentrificação não acontece em um piscar de olhos. Demora. Mas na atual situação em que nos encontramos, tiroteios podem acontecer em qualquer lugar. Estamos vivendo dias de mudanças radicais e isso coloca seres humanos em choque.
Não podemos valorizar problemas pontuais.
Adaí Rosembak