sábado, 13 de dezembro de 2014

Ações coletivas contra a Petrobrás nos EUA

Transcrevemos abaixo entrevista do Professor de Direito da Universidade de Columbia, John Coffee, à correspondente Isabel De Luca , que está na Coluna de Economia do jornal O Globo, de 11.12.2014 (pg. 32), sobre a perspectiva de ações coletivas contra a Petrobrás nos EUA, implementadas inicialmente pelos escritórios de advocacia Wolf Popper, Rosen Law Firm, Glancy Binkow & Goldberg, Brower Piven , Kahn Swick & Foti e Pomerantz.
Já se prevê que outras bancas de advocacia nos EUA entrem com ações semelhantes e já existem acordos com escritórios de advocacia no Brasil com esse objetivo.
As iniciativas legais nos EUA estão restritas a acionistas que tenham recibos de ações negociados nos EUA (American Depositary Receipt - ADR) .
Essas ações em território americano só são viabilizadas a partir do momento em que se verifique que ocorreram fraudes, o que é o caso da corrupção em várias áreas da Petrobrás.
Para dar andamento a esses processos as fraudes têm de ser comprovadas através de um relatório da SEC (Securities and Exchange Commission) que é o órgão que regula o mercado acionário nos EUA.
Esse relatório tem de ser circunstanciado e apontar a quem, quanto, quando e onde a empresa pagou propinas. A SEC e o Departamento de Justiça trabalham juntos para obter essas informações.
É de suma importância que bancos, fundos de pensão, empresas e acionistas minoritários no Brasil analisem que medidas tomar a respeito do assunto e reavaliem suas aplicações no mercado acionário brasileiro.
Atualmente no Brasil, a Bolsa de Valores não oferece segurança aos investidores e mais parece um cassino operado por mafiosos do que uma bolsa de valores regulamentada e disciplinada onde os investidores podem aplicar seus capitais com segurança .
Temos de considerar que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) não tem se desincumbido a conteto de seu papel regulador do mercado acionário.
Entre suas diversas responsabilidades está a de “proteger os titulares de valores mobiliários contra emissões irregulares e atos ilegais de administradores e acionistas controladores de companhias ou de administradores de carteira de valores mobiliários.”
Ora, como a CVM é uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, como poderia ela ir contra a política do Ministro Guido Mantegua, titular daquela pasta, que forçava a Petrobrás a comprar petróleo no exterior por um preço e vender mais barato no mercado interno a fim de conter a inflação, redundando em prejuízo contínuo para a empresa e para seus acionistas ?
Além da constatação das fraudes que estão sendo apuradas, essa interferência governamental perniciosa em empresas estatais de capital aberto é outro aspecto que vai pesar nas investigações da SEC e do Departamento de Justiça nos EUA.
Ademais a Justiça nos EUA é mais eficiente e rápida do que no Brasil..
Infelizmente, convivemos com uma justiça morosa, burocratizada em excesso, sobrecarregada de processos em todas as áreas e plena de recursos em todas as instâncias , o que acabou transformando o uso do recurso legal em ato corriqueiro quando deveria ser um instrumento de caráter excepcional.
Essa é uma conjuntura em que o aforismo de que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil” se aplica com absoluta precisão.
Consideramos que as investigações desenvolvidas nos EUA pela SEC (Securities and Exchange Commission) e o Departamento de Justiça acrescidas das ações implementadas por renomados escritórios de advocacia em defesa dos interesses de seus clientes, se constituem em uma oportunidade impar para que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e a Justiça sejam forçadas a tomar medidas efetivas para regulamentar e moralizar o mercado acionário a fim de recuperar a confiança dos acionistas no Brasil sob pena de inviabilizar novos investimentos na BOVESPA.
Em relação aos interesses dos aposentados e pensionistas da PREVI julgamos que as diversas associações que nos representam poderiam pressionar a PREVI cobrando iniciativas junto à BOVESPA e à Justiça a fim de salvaguardar o patrimônio de nosso fundo de previdência.
Muito embora, dentro da atual conjuntura, não vislumbremos perspectivas de sucesso a curto prazo em face das razões aventadas.
Finalmente, só nos resta ser otimistas e esperançosos de que, após esse cataclismo que se abate sobre o que já foi a maior empresa brasieira e que se ramifica por outras áreas, a Petrobrás renasça sanada, próspera, respeitada e com suas ações valorizadas no mercado nacional e internacional.
E também que a CVM se renove para agir com autonomia, autoridade, rapidez e eficiência para tornar a Bolsa de Valores uma área respeitada e atraente para investidores nacionais e internacionais quando da aplicação de seus capitais.

Adaí Rosembak
Associado da AAFBB, ANABB, AFABB-RS e ANAPLAB

Entrevista de John Coffee , transcrita no Caderno de Economia do O Globo, em 11.12.2014 (pg.32):

Mercado vê empresa em apuros”

Pergunta: O que devemos esperar dessa onda de ações contra a Petrobrás?
John Coffee: No fim das contas vai haver uma só ação, todas serão consolidadas. Por enquanto, há cinco firmas de advocacia brigando para ter controle desse caso; acredito que surjam mais. No fim, um juiz vai eleger um reclamante líder, baseado em qual tem a maior participação, ou perda, na ação. Se houver um grande fundo de pensão público, ele certamente vai ter mais ações e portanto vai conseguir o controle do litígio. Mas o fato de haver cinco tão rapidamente significa que os advogados estão como tubarões nadando em volta de um corpo. Todos acham que é uma ação convidativa.

Pergunta: Há quem considere essas ações oportunistas...
John Coffee: Sem dúvida há oportunismo em jogo. Por outro lado, esse litígio vai provavelmente seguir a investigação da Securities and Exchange Commission (SEC, que regula o mercado nos EUA).
Os advogados não podem avançar a não ser que possam alegar fatos que apontem uma fraude. Não dá para alegar esses fatos contra a Petrobrás até que haja um relatório da SEC indicando a quem a empresa pagou propinas, quando, onde e quanto. Juntos, o Departamento de Justiça e a SEC podem obter uma boa quantidade de informações.

Pergunta: O que a Petrobrás deve temer mais?
John Coffee: A SEC e o Departamento de Justiça têm jurisdição sobre a Lei de Práticas Corruptas Estrangeiras e como a Petrobrás tem ações negociadas nos EUA, o pagamento de propina ofende essa lei. A maior parte dos casos é resolvida com um acordo que será público, descrevendo ao menos alguns dos fatos. E os advogados dos reclamantes vão incluir esses fatos em seus argumentos e dizer à Corte que há fortes evidências de fraude. Ainda estamos em um estágio embrionário.

Pergunta: O que poderá sair mais caro?
John Coffee: As investigações podem envolver acusações criminais. Para os altos funcionários da Petrobrás, a prioridade é não serem acusados. Já houve casos semelhantes. A Siemens precisou pagar mais de US$ 1 bilhão para chegar a um acordo com a SEC e o Departamento de Justiça. Depois, houve uma enxurrada de ações coletivas.

Pergunta: Quão longe a SEC e o Departamento de Justiça podem ir?
John Coffee: Eles podem barrar indivíduos de serem funcionários ou diretores de uma empresa com papéis negociados no mercado americano. Foi o que aconteceu com Martha Stewart. Ela foi proibida por cinco anos de trabalhar em sua própria empresa.

Pergunta: Haverá mais ações coletivas?
John Coffee: Claro! É uma indústria muito competitiva. Mas a única razão para registrar a essa altura é se você tiver um cliente grande o suficiente para te dar o controle do caso. Fundos de pensão facilmente detêm 1% das ações de uma empresa. Indivíduos, não. Depois que a primeira firma entra com ação coletiva, as outras têm 90 dias para entrar , ou o controle será dado à única pessoa que o fez.

Pergunta: O que de pior pode acontecer com a Petrobrás?
John Coffee: O pior seria uma acusação. Isso só o Departamento de Justiça pode fazer, e raramente faz. Se forem acusados, vão entrar num arquivo criminal que pode envolver amplas sanções e a possibilidade de funcionários serem presos. Mas muitos acordos terminam bem. São acusações sérias, ao menos nos EUA. E os EUA querem um acordo que garanta proteções a investidores e que reduzam a perspectiva de futuras propinas serem pagas. A questão é que tipo de alívio será negociado.

Pergunta: As ADRs da empresa já caíram 46% em New York.
John Coffee: É uma grande queda, que sugere que o mercado acha que a empresa está em apuros. E o mercado sabe muito.

John Coffee é Professor de Direito da Universidade de Columbia, e é um dos mais respeitados especialistas em regulamentação de títulos e mercado de capitais dos EUA. É autor de livros consagrados e de inúmeros trabalhos em sua área de atuação.

14 comentários:

  1. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Privatizar já não seria a melhor saída? Indenizações gigantescas aos investidores americanos? E nós?( Previ por exemplo). Pre-sal, custo de extração maior que preço de comercialização? Acho que já se foi os bois com a "canga"(expressão do sul).

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    1. Caro Pr. Guima,

      Você está absolutamente certo sobre as indenizações a investidores americanos e brasileiros que investiram em ADRs da Petrobrás na NYSE.
      Quem investiu em ações da Petrobrás no Brasil, pelas razões expostas no artigo, não vai gozar desse privilégio.
      Você também tem razão sobre se não seria melhor privatizar a Petrobrás.
      O custo de extração do petróleo do pré-sal é muito alto e não vejo como esse programa poderá sobreviver à competição do preço externo baixo a não ser que seja alavancado por um preço interno alto dos combustíveis o que vai sacrificar o povo e a indústria no país.
      Você só deixou de apontar um aspecto importantíssimo nesse assunto.
      É fundamental que tenhamos autonomia no ramo da energia e não dependamos do petróleo da Venezuela, da Arábia Saudita, da Rússia ou de qual país for.
      No passado já fomos chantageados pelos países árabes com a elevação do preço do barril do petróleo em razão do eterno conflito árabe-israelense.
      Por isso, penso que devemos pagar um preço por essa autonomia para preservar nossa segurança.
      A Arábia Saudita está forçando a baixa do petróleo (cuja extração para eles é muito barata) para inviabilizar a extração de gás e petróleo do xisto nos EUA. Os EUA já estão prestes a se tornarem os maiores produtores de gás e petróleo do mundo, com a perspectiva de passarem de importadores a exportadores em pouco tempo.
      Isso seria o caos para os membros da OPEP.
      Essa é a razão fundamental da Arábia Saudita não baixar a produção para manter o preço alto do petróleo. No presente momento essa política significa um drama para a Venezuela, Rússia e Irâ , que dependem da renda do petróleo para manter suas economias equilibradas.
      Mas tenha certeza de que por razões estratégicas e econômicas, os EUA não recuarão da exploração de petróleo e gás do xisto. Eles não querem passar novamente pela chantagem de preços pelos países árabes.
      Por todas essas razões acho que, infelizmente, teremos de bancar o dispendioso programa da Petrobrás na extração do pré-sal.
      É o preço que teremos de pagar por nossa autonomia energética e por nossa segurança.
      Essa é a minha visão pessoal do assunto.

      Um abraço

      Adaí Rosembak

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  2. O senhor não acha que seria melhor abandonar essa doidice que é a exploração do pré-sal e comprar petróleo e gás baratos no exterior, o que viria beneficiar a economia no Brasil e não sacrificar ainda mais o povo para sustentar uma empresa corrompida pelo PT?

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    1. Caro Anônimo,

      Como coloquei na resposta ao comentário acima, acho importante termos autonomia na área de energia.
      Não podemos ficar sujeitos aos humores e aos problemas dos países produtores de petróleo.
      No passado já fomos submetidos às chantagens dos países membros da OPEP por causa dos conflitos entre palestinos e israelenses.
      Não queremos e nem devemos passar pela mesma situação desesperadora.
      Isso é um problema até de segurança nacional para o Brasil.
      Por esse motivo o governo americano tem reservas estratégicas intocadas de petróleo para não ficar sujeito às chantagens de outros países como já aconteceu no passado.
      É um preço que temos de pagar pela nossa segurança.
      Ademais, já foi investido tanto dinheiro nessa área que parar tudo vai criar uma baita crise econômica com um tremendo desemprego, fechamento de estaleiros e indústrias e outros prolemas, com reflexos que vão se estender por toda a economia do país.
      Por isso acho que temos de seguir em frente nesse projeto mesmo que, por um tempo, tenhamos de pagar mais caro pelos combustíveis produzidos dentro do país em relação aos preços mais baixos dos combustíveis importados.
      Mas, primeiro é preciso recolocar a Petrobrás nos eixos, criar uma Diretoria atuante de Governança e tapar os buracos da corrupção.
      Creio que essa é a posição mais equilibrada em relação ao assunto.

      Um abraço

      Adaí Rosembak

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  3. Se o problema é na Petrobrás, porque a Vale tá custando 16 pilas?
    (comentário encontrado em um blog de especuladores em 12/12/2014)

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    1. Caro Anônimo,

      Você fez uma observação bem interessante.
      Essa notícia sobre a baixa nas ações da Vale foi repassada ao mercado como sendo resultado da baixa no crescimento econômico da China que, por isso, teve reflexos na importação de minérios da Vale.
      Não li nada mais relevante sobre o assunto.
      Mas do jeito que as coisas estão, é bem possível que daqui a pouco estoure mais uma bomba tipo mensalão ou petrolão.
      Temos de ficar atentos.

      Um abraço

      Adaí Rosembak

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    2. Caro Adaí,
      Se você observar o gráfico da Vale de longo prazo há 6 anos atrás ele mostrava só um lado da montanha... eu falava para uns caras na ultima corretora que trabalhei, se voce tem um lado da montanha fatalmente no futuro tera o outro lado. NÃO DEU OUTRA...Mas as pessoas são céticas, só acreditam quando acontecem...Tenho um amigo que foi meu cliente, e tem já ha muito tempo eu calculo 400.000 Vale5... Falei isso para ele, quase perdi o amigo... Olha o preju...(comentário retirado de um blog de especuladores em 04/12/2014)

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    3. Caro Anônimo,

      Lamento que você não coloque seu nome.
      É muito interessante sua análise. Eu já calculava pela sua mensagem inicial que você tinha um conhecimento mais aprofundado da área.
      Agora constatei porque eu estava certo.
      Como operador de corretora, certamente você tem um conhecimento bem aprofundado da área e tem informações de cocheira que são extremamente valiosas para os investidores.
      De meu lado, estou perdendo dinheiro pois apliquei um bom tutu em um fundo de ações da Petrobrás do BB.
      Mas quem poderia imaginar que tudo isso viria a acontecer ?
      Agora com a queda do preço internacional do petróleo alguns já dizem que as ações da Petrobrás vão despencar mais ainda.
      Como não tenho saída vou esperar para ver como tudo isso vai ficar.

      Um abraço

      Adaí Rosembak

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    4. Caro Adaí Rosembak,

      Colei equivocadamente minha resposta abaixo. Perdoe-me...

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  4. Em 12/14/2014 10:28 AM, Ebenezer Nascimento escreveu:
    Caro Adaí,

    Grato pelo envio do artigo e por seus comentários. Servirão de subsídio à minha já prevista abordagem do assunto na AAPBB.

    Cordialmente

    Ebenézer

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    1. Caro Ebenezer Nascimento,

      Tem muita coisa interessante sendo publicada a respeito.
      No blog do Carvalho tem uma nota bem interessante sobre o assunto e com dados bem atualizados.
      Independente disso, leia outras recentes notas minhas a respeito da Petrobrás.
      Espero que todas essas informações sirvam como subsídios às suas bem elaboradas, objetivas e abrangentes análises.
      Estou no aguardo de seu trabalho.

      Um abração

      Adaí Rosembak

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    2. Caro Adaí Rosembak,

      Nunca trabalhei em corretora de valores. Tampouco trabalhei no sistema financeiro. Sou apenas um TRADER aposentado que se dedica a observar os mercados, mormente a Bolsa brasileira. Entretanto, COLEI os comentários acima pois acredito que tais observações estão em sintonia com o modelo de interpretação da Bolsa brasileira que desenvolvemos. Vou descobrir seu e-mail e me apresentar. Segue abaixo uma pílula do nosso trabalho:

      https://drive.google.com/file/d/0B9XGyMFsJ0D8bGhpNzNZeXo0Z0lUWmxqekQxc3JIZDd5VnpB/view

      Um abraço

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    3. Caro Anônimo,

      Não precisa ter trabalho para procurar meu e-mail.
      Aí vai:

      adbak@uol.com.br

      Bom Proveito

      Adaí Rosembak

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