Este artigo está no “Blog do Adaí Rosembak”.
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Caros Companheiros e Amigos,
Quando somos jovens, queremos mudar o Mundo e
somos revolucionários.
Esquecemos de que, para mudar o Mundo, temos de começar
a mudar a nós mesmos.
Ao envelhecer – ou, mais adequadamente,
amadurecer - descobrimos essa verdade, mas, aí, o tempo voou e não temos mais
energia para darmos andamento aos nossos projetos.
Nessa etapa nos tornamos guias ou conselheiros
dos mais jovens, muito embora, apesar de já estarem voando com as próprias asas,
eles devam estar cometendo os mesmos erros e percorrendo as mesmas trilhas pelas
quais passamos anteriormente.
E, assim, segue a Humanidade. Geração após
geração, civilização após civilização.
Desde meus 16 anos, apoiado, principalmente, pela
herança genética, pelo espírito aventureiro e visão humanista de meu pai,
queria mudar o Mundo.
Era um leitor voraz e, como não podia deixar de
ser, também era um esquerdista sonhador, utopista e, como todo jovem, desejoso de
mudar o Brasil para ser uma sociedade mais desenvolvida e mais justa.
Entrei no BB e, nas férias, fui fazer um curso de
inglês na University of South Florida, em Tampa, Florida – USA, organizado pelo
Curso Yázigi.
A USF é uma universidade moderníssima.
À época da “guerra fria”, além de ser universidade,
a USF também era abrigo atômico (após o fim da URSS não sei se ainda tem essa
função).
Além das aulas de inglês, podíamos participar de atividades
físicas e exercícios militares dentro do campus, promovidos por forças
militares destacadas para tanto.
Os Estados Unidos estavam em um período de
mudanças radicais e turbulências internas de toda ordem.
Haviam conflitos raciais violentos como os “black panthers”, movimentos
de liberação sexual, de protestos contra a guerra, contra o conservadorismo
da sociedade, com hippies nas cidades e “drop-outs” (fugitivos do sistema)
acampados nas áreas rurais e nas regiões montanhosas, aumento desenfreado no uso
de drogas (algumas novas como LSD),
festivais de música como o famoso
Festival de Woodstock, mudanças radicais de costumes, movimentos de liberação
dos gays, conflitos intensos contra e a favor da Guerra do Vietnam, dentro e
fora das universidades.
Nunca, como em qualquer outra época, um país com
a grandeza e o poder dos Estados Unidos, passou por tantas mudanças tão radicais
e profundas ao mesmo tempo.
Como brasileiro, aquilo tudo me assustava e, ao
mesmo tempo, que me maravilhava.
Foi uma experiência e tanto.
Para completar, eu e um amigo cubano que também
estudava na USF alugamos um carro e atravessamos o país até San Francisco, onde
o tio do cubano tinha um posto de gasolina.
Trabalhei no posto por uma semana trocando pneus.
Ganhei uma graninha razoável com o serviço, além de uns bons trocados com
gorjetas. Os Estados Unidos são o país onde se paga gorjeta para tudo.
Isso me ajudou
bastante pois o dinheiro que eu tinha já estava no fim.
A última coisa que se poderia pensar no meio daquela
revolução interna e aparente loucura pela qual passavam os Estados Unidos, era
que os USA estavam no auge da Guerra do Vietnam, com cerca de 500.000 soldados
deslocados para combate no Sudeste Asiático.
Voltei para o Brasil impactado com as mudanças, a
força e a grandeza da democracia, e o império da lei dentro dos Estados Unidos.
Mas estava
consciente de que aquele não era o modelo de sociedade para o Brasil.
No Brasil,
sonhávamos em mudar o país.
Mas não sabíamos como e nem que modelo seguir.
Decidi conhecer o outro lado da moeda e comecei a
me preparar para ir estudar na URSS.
Naquela época, a URSS se apresentava como um
modelo de sociedade mais igualitária e mais avançada.
Comecei a
estudar russo no Brasil, no Curso Berlitz, com o objetivo de cursar economia na
Universidade Patrice Lumumba em Moscou, e conhecer ao vivo uma “sociedade
socialista”.
À época, não se sabia o que ocorria intramuros na
URSS.
Não existia internet, não havia celulares, não
haviam drones e nem satélites espiões e, nada real era divulgado pela imprensa
oficial da URSS.
O esquema de encobertamento do que ocorria nos
porões da URSS era brutal e total.
Mas eu estava decidido em conhecer a Rússia
pessoalmente.
Inicialmente, tentei uma aproximação maior com minha
professora de russo, VERA NEVEROVA, muito embora não houvesse a mesma reciprocidade
por parte dela.
Achei que
a razão fosse a diferença etária (ela tinha cerca de 65 anos e eu beirava os
20), mas estava errado. Havia uma
barreira por parte dela que nunca consegui decifrar.
Em nossas
conversas fora das aulas, eu crivava VERA NEVEROVA com inúmeras perguntas e
dúvidas de toda ordem sobre a vida real, os paradoxos e conflitos na URSS.
VERA NEVEROVA sempre se esquivava de respostas
diretas e objetivas. Era uma pessoa absolutamente discreta, escolhia cada
palavra com cuidado e, raramente, dava uma resposta convincente e conclusiva às
minhas indagações.
Confesso que nunca consegui decifrar com exatidão
que tipo de personalidade era VERA NEVEROVA.
Ela era uma excelente professora de russo, alemão,
espanhol e dominava o português com perfeição. Era educadíssima, cortês e
culta.
Era uma russa autêntica, de compleição sólida,
nariz pontudo e empinado, de risos contidos, gestos medidos e sem
espontaneidade.
Ela era convidada para eventos culturais de toda
ordem, era muito amiga de Otto Maria Carpeaux, austríaco naturalizado
brasileiro, judeu, pessoa de vasta cultura, autor de vários livros, inclusive o
clássico “História da Cultura Ocidental”, poliglota que dominava vários idiomas
e editor do Jornal Correio da Manhã, que encerrou suas atividades logo após a
Revolução de l964.
Ela morava
na Rua Paula Freitas, em Copacabana e, eventualmente, íamos jantar juntos, mas,
apesar de ser uma pessoa educadíssima e agradável, VERA NEVEROVA sempre foi reservada e enigmática.
Às vezes,
ela estava acompanhada de algum estrangeiro, os quais ela nunca me apresentou formalmente
e, dos quais, nunca soube qual era a nacionalidade.
Nesses
momentos, sempre conversávamos sobre assuntos triviais.
Seus olhos brilhavam quando falava da URSS.
Lembro-me de uma oportunidade em que, em um
restaurante, ela enxergou uma pessoa no outro extremo do estabelecimento, que
estava lotado, e me disse em voz baixa que, com certeza, aquela pessoa era
russa. Pedi que ela fosse conversar com a pessoa para confirmar a nacionalidade.
De repente, de forma súbita e séria, aborrecida, e parecendo despertar para a
realidade, ela se calou e se recusou terminantemente a falar com o indivíduo.
Não tocamos mais no assunto.
Mas aquela passagem me deixou chocado e passei a ver VERA NEVEROVA com outros olhos.
Depois da Revolução de 1964, ela parou de dar
aulas, mudou de endereço e eu não a vi mais.
Hoje percebo que VERA NEVEROVA nunca foi minha
amiga. Efetivamente, foi um enigma.
Li muito sobre a criação do “Homem Soviético” e
pouca coisa sobre a formação de agentes da KGB, o serviço secreto da URSS.
Por isso, apesar da convivência com VERA NEVEROVA,
não posso afirmar nada de conclusivo sobre sua formação política ou sua ligação
com qualquer órgão governamental da então URSS.
Acabei não indo estudar na Rússia pois o
consulado, após a Revolução de 1964, parou de dar vistos para estudantes.
Hoje, vejo que não ir para a Rússia foi uma coisa
boa na minha vida pois, com certeza, eu não teria me adaptado à vida naquele
país.
Ademais, eu havia passado pelo chamado “choque
das ideologias”, fenômeno que ocorreu com muitos jovens naquela época, que se
desencantaram com as teorias do “paraíso socialista”.
Nada mais verdadeiro do que a frase “entre a
teoria e a realidade existe um abismo”.
Hoje surgiu uma nova superpotência – a CHINA – uma
civilização de 5000 anos, baseada nos princípios do taoísmo, confuncionismo e
budismo que está sabendo, com sua experiência milenar, extrair o melhor dos
princípios da convivência humana, do dinamismo e da criatividade do capitalismo,
junto com a ajuda e organização de um estado socialista forte, organizado e
poderoso, que visa universalizar e
expandir o progresso, a educação, a saúde , a solidariedade e a felicidade para
todos os extratos da sociedade chinesa e para todo o planeta.
Nada é perfeito e, hoje, da ex-superpotência URSS,
restou a CEI-Comunidade de Estados Independentes, que inclui a RÚSSIA, um país que
se encontra enfraquecido e com um povo humilhado, revoltado e amargurado, envolvido
em uma série de problemas internos e externos, de difícil solução e, em meio a
uma guerra estúpida e sanguinária, sem qualquer razão plausível para ser iniciada,
e sem qualquer perspectiva fácil e rápida para ser encerrada.
A situação da RÚSSIA é um perigo para toda a
humanidade pois, a despeito de sua caótica situação econômica e financeira, o
país tem, em seu poder, mais de 6000 bombas atômicas.
Essa é a maior concentração de armas nucleares do
planeta.
É fundamental que os dirigentes e autoridades de
todo o Mundo empenhem o melhor de seus esforços e o máximo de diplomacia para
evitar que se desencadeie um cataclisma nuclear que pode aniquilar toda a
humanidade.
Li uma vez um conto que procura mostrar um lado perigoso
da natureza russa.
Aí segue:
Um cidadão alemão chega à beira de um profundo
abismo, olha, se assusta e recua.
Um cidadão inglês chega à beira do mesmo abismo, olha,
se assusta e recua.
Um cidadão russo chega à beira do abismo, olha,
fica fascinado e ... pula no abismo.
Uma outra passagem – está verídica – fala de uma
entrevista de Lenin a um jornalista, quando este lhe pergunta o que ele, Lenin (Vladimir
Ylyich Ulianov), sentiu quando foi confirmada a vitória da Revolução Russa de
Outubro de 1917.
A resposta de Lenin foi bem reveladora do
espírito mercurial russo:
- VERTIGEM!!
Em outro episódio recente, o falecido economista
Mário Henrique Simonsen fez uma análise muito objetiva e aprofundada sobre a Revolução
Russa.
Ele disse que a Revolução Russa ocorreu no país
errado e na hora errada, mas que Karl Marx estaria satisfeito porque parte de suas
teorias teriam sido confirmadas com a Revolução Russa de 1917.
De fato, as afirmações de Karl Marx, entre elas a
de que um movimento socialista bem-sucedido só ocorreria em um país de
capitalismo avançado estavam corretas. Em 1917, quando ocorreu a Revolução, a Rússia
era um país agrícola atrasado.
Essa é a real razão do fim da URSS e da crise que
a Rússia passa atualmente.
Karl Marx (05.05.1818/14.03.1883), apesar de sua
genialidade, não poderia ir mais além em suas previsões e projeções s a partir
do Século XIX até o Século XXI.
Boa Leitura.
Atenciosamente
ADAÍ
ROSEMBAK
Associado da AAFBB e ANABB
P. S. :Aproveito o ensejo para transcrever adiante
o artigo “Nome da Desgraça”, de autoria do Escritor PAULO LACERDA, que me foi
encaminhado pelo blogueiro, também escritor e ex-colega de BB, JOÃO CARLOS PEREIRA LAGO NETO:
O NOME DA DESGRAÇA
É injusto, a esta altura do balanço trágico da
invasão da Ucrânia, pela Rússia --- com milhares de mortos, feridos, milhões de
deslocados e exilados e destruição de lares, de cidades inteiras e de fontes de
água e energia elétrica ---, avaliar VLADIMIR PUTIN, um comunista implacável,
cruel e ambicioso, como o “Nome da Desgraça” no mundo civilizado?
Nesta
nossa etapa contemporânea, há registro de personagem --- responsável, comprovadamente,
pelo assassinato de centenas de pessoas ---, alcunhado de “Nome da Morte”.
Tanto mais
graves, porém, são os atos criminosos de VLADIMIR PUTIN--- já condenado pelo
TPI por crimes de guerra e ou contra a humanidade e responsável por essa
inventada guerra e suas funestas consequências.
Não bastasse tamanha desgraça, VLADIMIR PUTIN, do
seu trono de poder absoluto, planejou maliciosamente o bombardeamento de
depósitos ucranianos de grãos destinados à exportação, com propósito insano de
provocar catástrofe humanitária, inimaginável, sob qualquer aspecto, muito
menos para sobrepor interesse em disputa de poder entre países hegemônicos.
E, como que em um êxtase de insensibilidade
humana, segue dia após dia com ataques e ou ameaças de ataques a navios
graneleiros que cruzam o Mar Negro e na região de Odessa, bombardeando diversos
armazéns de grãos na Ucrânia, ameaçando de fome populações mais vulneráveis.
Então, VLADIMIR PUTINn é ou não o “Nome da
Desgraça”?
Paulo Lacerda (Rio).