Há uns dois anos atrás
escrevi um artigo sobre inflação.
Agora, em razão do
recrudescimento da inflação no Brasil e de conversas com várias pessoas que levantam a tese de que um
“pouquinho de inflação” recolocaria a economia do país em ordem , republico o texto com algumas supressões e acréscimos adequando o artigo ao
atual momento que vivemos.
Para começar, sou absolutamente contrário à teoria de que
“um pouquinho de inflação” não causa efeitos nocivos na economia de um país.
Considero que “um pouquinho de inflação” para solucionar problemas
momentâneos em um país que já passou por
um processo de alta inflação , é o mesmo
que oferecer um “pouquinho de cocaína” ou “um trago de cachaça” para um viciado
que acabou de passar por um
tratamento de desintoxicação.
O Brasil está com problemas
sérios que vão exigir medidas drásticas de correção.
Mas temos aspectos e
características positivas que nos ajudarão a vencer esses desafios.
Temos um grande território
com ampla diversidade de recursos naturais.
Não temos guerras nem
atritos sérios com nossos vizinhos.
Pelo contrário, o Brasil sempre procurou manter uma política
de paz, ajuda, cooperação e boa vizinhança com todos os países que nos cercam.
Não temos disputas fronteiriças.
Nossa população é o
resultado de uma miscelânea de raças e etnias. Não temos grupos de etnias
diferenciadas e segregadas dentro do território brasileiro. A política
brasileira é de integração e inclusão do povo como um todo.
Convivemos em harmonia e paz
com uma diversidade imensa de costumes, culturas, religiões e credos sem
qualquer conflito.
Temos o problema seríssimo
de bolsões de pobreza, falta de uma educação abrangente e de alto nível ,
problemas diversificados na área de saúde e alto nível de criminalidade.
Isso sem falar dos conhecidos desafios com os quais nos
defrontamos na área econômica. Mas,
apesar desses obstáculos, conseguimos criar
um parque industrial e tecnológico
forte e diversificado no território
brasileiro.
Não temos radicalismos
religiosos e nem políticos, aqui não ocorrem atos terroristas, não temos
bolsões de população segregada como
ocorrem em países no Oriente Médio, na Índia com os chamados “impuros”,
nos “ghettos” em cidades de países desenvolvidos ou nos
“banlieues” em Paris.
Em nosso país falamos uma
única língua, que é o português , o que não ocorre em muitos países onde se
falam grupos diferenciados de línguas e inúmeros dialetos locais, tornando
difícil o entendimento entre pessoas
de áreas diferenciadas.
Não temos problemas de
secessão em nenhuma área do país como, por exemplo, a ameaça de separação dos catalães e dos
bascos na Espanha, a divisão da Yugoslávia depois da extinção da URSS ou, mais
ameaçador ainda, a hipótese de
esfacelamento da Federação Russa, como o próprio Presidente Putin chegou a comentar.
Somos um país com democracia
estabelecida.
Na América do Sul,
felizmente, ao contrário da Zona do Euro, ainda não estabelecemos
prematuramente uma moeda única no continente antes de cada país estar preparado de per si para esse
importante passo de integração regional.
Temos todas as premissas
para superar nossas limitações e nossos
problemas e para sermos uma nação próspera,
com índole pacífica e com um povo unido.
Por tudo isso, me atrevo a
dizer , em um autêntico e convicto tom
de ufanismo, que somos um país e um povo predestinados à ordem, ao progresso e
à paz.
Para tanto, temos de nos
acautelar contra problemas que possam vir a ameaçar esse caminho de progresso e
desenvolvimento.
E a inflação, apesar de
termos superado um processo de alta inflação que atormentou esta nação por
tantos anos, continua a ser sempre uma ameaça contra a qual temos de estar
alertas.
Temos de considerar,
conforme já foi comentado por tantas personalidades de relevância, que somos um
povo de memória curta.
Ao abordarmos o assunto inflação
com jovens universitários de áreas como economia, administração ou
direito, notamos um desconhecimento
mais aprofundado da matéria. Pior ainda
quando conversamos com jovens de nível educacional mais baixo. Muitos sequer
sabem o que é inflação.
Por essa razão, reproduzo
esta limitada exposição, fruto de um árduo, demorado e elaborado trabalho de pesquisa.
Não tive a pretensão de
fazer uma análise aprofundada de
qualquer aspecto.
Muito pelo contrário.
Procurei sintetizar ao máximo possível a abordagem do tema, apresentando
aspectos interessantes e relevantes do assunto para não tornar a leitura cansativa e entediante.
Em relação aos aposentados e
pensionistas do BB, também temos de
estar atentos.
Com a dificuldade do Governo em aumentar a
carga tributária em contraste com o aumento dos gastos
governamentais, os recursos da PREVI tornam-se um alvo atraente.
Então vamos direto ao
assunto.
No Brasil, o pico da
inflação foi o período de 1986 a 1994, com índices superiores a 1000% ao ano.
De julho de 1965 a junho de
1994 , o índice foi de 1,1 quatrilhão por cento, ou seja, inflação de 16
dígitos em 3 décadas ou, mais precisamente, um IGP-DI de
1.142.332.741.811.850%.
O auge de inflação mensal
foi junho de 1994, com 46,58% ao mês.
O país passou por quatro
reformas monetárias e, a cada uma, cortaram-se três zeros do valor monetário
corrente, ou seja, um descarte de 12 dígitos no período.
Para amortecer os efeitos do
impacto da inflação , criou-se a correção monetária que era aplicada em
salários, aplicações financeiras , valores de bens de consumo, etc.
Surgiram as aplicações
baseadas no overnight, que tinham
correção de um dia para o outro.
O mercado imobiliário , no
meio dessa ciranda financeira , passou a trabalhar cotando os valores dos
imóveis em dólares norte-americanos. Só podia ser dessa forma pois, se assim
não o fosse, a partir do estabelecimento do preço fixado inicialmente até o
desembaraço da papelada, emissão de certidões, pagamento de emolumentos e
taxas, pagamento de imposto de transmissão, lavratura de escritura
da compra do imóvel para, só então, ser
efetivado o desembolso do financiamento final , o comprador iria pagar
uma fração do valor real do imóvel.
A classe média até dispunha
de mecanismos de defesa.
Fazia seus gastos e
investia o restante de seus recursos na compra de dólares ou em depósitos
com correção monetária mais juros.
A compra de dólares sempre
foi uma boa opção em épocas de crise mas, principalmente naqueles dias,
corria-se um sério risco pois, frequentemente, surgiam derrames de notas
falsas no mercado.
A correção monetária era uma
ilusão que encobria uma inflação galopante que superava qualquer aplicação
financeira por mais rentável que fosse, mas que viciou toda a sociedade com o
mesmo efeito que a cocaína exerce sobre
um viciado que, gradativamente, vai precisando de doses maiores da
droga para se satisfazer.
Por mais absurdo que pareça,
em razão dessa ciranda financeira, muitos lamentaram a
estabilização monetária advinda com o Plano Real.
Quem mais sofria nesse
processo era o pobre, que recebia seu minguado salário no último dia do mês e que,
quando ia ao supermercado no primeiro dia do mês seguinte, gastava 40% a mais
do que no dia anterior.
Sim, porque durante toda a
noite do último dia do mês, as “remarcadoras” ou “maquininhas”, trabalhavam
ininterruptamente etiquetando as mercadorias com novos preços baseados no novo
índice fornecido pelo Governo. E, por via das dúvidas, os supermercados sempre
aumentavam os preços um pouco acima do índice oficial, realimentando e
incrementando a espiral inflacionária.
Por essa razão, passei a pagar
o salário de minha secretária do lar logo que recebia meus proventos no dia 20.
Dessa forma, ela tinha um aumento de 50% em sua renda, pois ganhava, na
sua caderneta de poupança, a correção de
10 dias até o fim do mês e mais o índice de inflação mensal (em torno de
40%) que sempre era anunciado no fim do
mês e que os supermercados aplicavam de imediato nas mercadorias.
Um dia ela até me agradeceu
pelas lições que eu lhe dei sobre inflação.
A alegria durou pouco pois
as remarcações passaram a ser semanais e, após um tempo, diariamente e a
qualquer hora. Na frente dos clientes, despudoradamente, os empregados
dos supermercados remarcavam os produtos.
Depois de um tempo,
perdeu-se a noção do valor monetário das coisas.
Quanto custava uma caixa de fósforos?
5 , 15 , 50 ou 100 cruzeiros? E um sabonete?
20, 30, 100 ou 300 cruzeiros? Assim, era preciso pesquisar os preços
rapidamente antes que os mesmos fossem aumentados.
A diferença de preços entre
um estabelecimento e outro, poderia ser o dobro, o quádruplo ou até
mais. Se o preço fosse muito baixo, era conveniente comprar todo o estoque
mesmo que não se precisasse de tão grande quantidade da mesma mercadoria.
Depois era o caso de vender o excesso para os vizinhos por um preço maior e
ainda sair ganhando na negociação.
Coitado do comerciante que,
por desmazelo , por excesso de escrúpulos ou por respeito aos seus clientes,
não remarcasse os preços dentro daqueles índices obscenos. Quando fosse
adquirir novos estoques de mercadorias, os preços certamente seriam muito
superiores aos valores pelo qual
havia vendido as mercadorias para seus clientes anteriormente. Levaria
prejuízo pelo pecado de ter sido “escrupuloso ou ético” com sua clientela.
Era preciso estar atento ao
se preencher um cheque, pois a denominação do valor do padrão monetário mudou
tantas vezes, que corríamos o risco de nos confundir e colocar uma
denominação equivocada no cheque, ou seja, trocar cruzeiro por cruzeiro novo,
ou cruzado, ou cruzado novo, ou cruzeiro real, ou real.
As pessoas
passaram a dispender grande parte de sua atenção às suas aplicações
financeiras, em detrimento de suas atividades específicas.
A figura mais importante em
qualquer área era o gerente financeiro, e não os dirigentes ou
especialistas de qualquer outro setor .
A compra de
imóveis sempre foi um refúgio seguro para a aplicação de
capitais. Mas, em razão de leis obsoletas e de medidas protecionistas
demagógicas tomadas pelo Governo para proteger os locatários contra os efeitos
da inflação, alugar imóveis passou a ser um péssimo negócio que desorganizou e
desestimulou os investimentos na área imobiliária.
Essas medidas governamentais
prejudicaram novos locatários que não conseguiam imóveis
para alugar.
Os proprietários preferiam
manter os apartamentos fechados, arcando com despesas de condomínio , IPTU e
outros encargos , do que alugar e ter problemas de difícil solução.
Só depois que se criou a
denúncia vazia e os aluguéis voltaram a ser contratados e reajustados de acordo
com a realidade dos índices
inflacionários, o mercado imobiliário se reorganizou e voltou
a ser um investimento atraente.
Transcorreram-se mais de 20
anos e, com a adoção do Plano Real no Governo Itamar Franco, que teve como
implementador o então Ministro da Fazenda
Fernando Henrique Cardoso, que veio a ser eleito presidente do Brasil
justamente pelo seu papel à frente do Plano Real, a inflação foi extirpada.
Adiante, abordaremos a
inflação de forma sucinta, em seus aspectos mais relevantes ao redor do mundo.
Na América Latina, o caso
mais notório foi a Bolívia que, em 1985, teve um índice de inflação de 12.000%
ao ano, causada por uma política demagógica do Governo de Hernan Siles Suazo.
Também tivemos o Peru que, entre julho
de 1990 e agosto de 1990, teve uma hiperinflação diária de 5%, no Governo de
Alan Garcia.
A pior
hiperinflação no Mundo foi registrada na Yugoslavia, de 1993
a 1994, mas, devido às guerras , ao esfacelamento da nação e à
sucessão de diversos padrões monetários criados para acompanhar a
espiral hiperinflacionária, o assunto é muito impreciso, difuso e complexo para ser descrito com precisão. Por
curiosidade, citamos a inflação registrada em janeiro de 1994 – sim, um único
mês - que chegou à taxa de 313.000.000.000 %.
Sobre o assunto,
recomendamos a leitura de “Yugoslavia's Hyperinflation, 1993-1994: a Social
History”, de James Lyon.
Também citamos
a hiperinflação na Hungria, entre Agosto de 1945 e Julho de 1946,
considerado o segundo pior exemplo no Mundo, mas um dos menos conhecidos
e pesquisados , por uma inexplicável carência de testemunhos e informações.
Entre Agosto de 1945 e Julho
de 1946, o nível geral de preços subiu a uma taxa de 19.000% por
mês, ou 19% por dia .
Em julho de 1946 , a
taxa de hiperinflação chegou a 207% ao dia.
Finalmente, em 01.08.1946,
conseguiu-se sanar a hiperinflação.
O “pengô” , a moeda da época
na Hungria, foi substituído pelo “forint” e, pasmem, 1
“forint” passou a valer 400 octilhões de “pengôs”, ou seja, 29 zeros depois do
4.
Em símbolos
numéricos é:
400.000.000.000.000.000.000.000.000.000
pengôs = 1 forint
A cotação do dólar americano
passou a ser 11,74 forint.
Mas daremos mais atenção à
hiperinflação na Alemanha, de 1919 a abril de 1923, que foi a
que recebeu maior cobertura noticiosa na história, e a que foi mais analisada e pesquisada pelos mais
relevantes centros de pesquisas econômicas e as mais importantes
universidades do Mundo.
Não temos a mais remota
intenção de, nesta limitada abordagem, fazer um relato minucioso
sobre qualquer aspecto específico da hiperinflação na
Alemanha.
O assunto é muito vasto para
ser descrito e, para tanto, seria necessário um livro, ou melhor, uma coleção
de livros.
Nos limitaremos a
apresentar os aspectos mais chocantes e surpreendentes e, basicamente,
seus efeitos na vida do cidadão comum da Alemanha naquela época.
O gigantismo da
economia alemã , o seu vigor e sua influência na Europa e no Mundo
, como o é ainda hoje, os vários fatores que desencadearam o processo inflacionário,
tais como o gasto astronômico com o esforço de guerra na Primeira Guerra
Mundial ,as cláusulas abusivas do Tratado de Versalhes , a ocupação do Vale do
Ruhr pela França e os gastos no pós-guerra para recuperar a Alemanha, foram as
razões determinantes para os mais apurados estudos sobre a hiperinflação alemã, e suas consequências sobre praticamente
todas as áreas de atividades humanas.
A inflação alemã
começou durante a Primeira Guerra Mundial, quando a Alemanha investiu
a astronômica cifra de 160 bilhões
de marcos no financiamento da guerra.
A única forma de levantar
essa colossal soma foi adotar medidas completamente fora dos padrões
ortodoxos conhecidos até então.
O Banco Central Alemão
(Reichsbank) , em 31.07.1914, por sua
própria iniciativa , aprovou uma medida provisória que suspendeu o lastro ouro
para emissão de papel-moeda, face ao esforço para
cobrir os gastos de guerra.
Em 04.08.1914, foi
confirmada por lei, a suspensão da conversão de papel-moeda em ouro.
Sem a convertibilidade
em ouro, a emissão de marcos perdeu qualquer barreira que freasse seu
crescimento.
Para que se tenha uma
avaliação da grandiosidade do que era 160 bilhões de marcos para financiar a
guerra, estima-se que, em 1913, haviam
13 bilhões de marcos em circulação na Alemanha e, no fim da Primeira Guerra
Mundial, em 1918, esse volume chegou a 60 bilhões de marcos.
Mas, durante o período de
guerra, esse aumento na emissão de papel-moeda não foi suficiente para cobrir
os gastos governamentais.
A forma a que o governo
recorreu foi obter empréstimos junto à população.
O Governo Alemão
lançou bonds (títulos) do Governo Alemão no mercado.
Os alemães compraram esses
títulos na certeza de ser um
investimento seguro, confiantes na vitória da Alemanha a curto prazo.
O débito do Tesouro Alemão
passou de 5 para 156 bilhões de marcos.
Isso ainda não era
suficiente e o Governo, apesar dos alertas em contrário,
incrementou a política de emissão de papel moeda.
A pujante produção
industrial e agrícola da Alemanha entrou em descompasso com a expansão
monetária.
Estava criado o mecanismo
básico da inflação - volume de dinheiro cada vez maior sem o
crescimento correspondente na oferta de bens.
Apesar da derrota da
Alemanha, ao contrário do que previa o povo alemão, o Governo não estava falido
, mas o crédito estava restrito e a inflação continuava em seu curso
ascendente.
A depreciação
monetária, em seu início, estimulou a economia.
Com o preço baixo do marco
em relação às outras moedas, as exportações alemãs dispararam.
Em um ano, o crescimento
industrial subiu 20%.
Em 1922, o desemprego caiu a
1% e os salários aumentaram.
A inflação era
considerada a tábua de salvação da economia.
Em sentido contrário, os USA
e a Inglaterra conseguiram estabilizar suas moedas , embora ao custo do
desemprego de um quinto de sua massa de trabalhadores.
A política econômica alemã
de incremento à inflação, em pouco tempo se revelaria
equivocada.
O aumento do déficit
orçamentário e os crescentes pagamentos de juros limitaram cada vez mais
a economia do Estado.
Paralelamente, a
gigantesca reparação de guerra a que a Alemanha foi submetida era um peso
excessivo para o país suportar.
O Tratado de Versalhes,
firmado em 20.01.1920, que estipulou as duras condições de reparação de
guerra, foi classificado por muitos como
uma irracionalidade e falta de sensibilidade,
pois inviabilizava a reestruturação e o soerguimento da
Alemanha.
Entre algumas das cláusulas leoninas do Tratado de
Versalhes, estava o desmembramento e a anexação de diversas partes
do território alemão para várias das nações vencedoras.
A postura absolutamente
intransigente e rígida da França em todas as discussões e tratativas, foi
classificada pelos historiadores como uma vingança pela sua derrota na Guerra
Franco-Prussiana (ou Guerra Franco-Germânica) de 1870-1871.
O Congresso dos USA, na
época, não concordou com diversas cláusulas e, sensatamente,
recusou-se a ratificar o Tratado de Versalhes.
O economista inglês John
Maynard Keynes, denunciou o Tratado de Versalhes como ruinoso para a Alemanha e
para a prosperidade global. Ele classificou o Tratado de Versalhes como uma
tentativa de destruir a Alemanha pelo revanchismo francês.
Em 1921, os aliados
impingiram à Alemanha o pagamento de 6.600.000.000 de libras
esterlinas como reparação de guerra, uma quantia descomunal que a
Alemanha se propôs a pagar com dinheiro e fornecimento de bens.
Como mais um castigo
adicional, que extrapolava os já duríssimos termos do Tratado de Versalhes, os
aliados não aceitaram o pagamento da reparação de
guerra com a moeda alemã corrente na época, o Papiermark, sob a alegação de que o marco estava extremamente
enfraquecido em razão da Alemanha haver financiado seu esforço de guerra
através de fundos emprestados.
O país foi forçado a vender
grandes somas de marcos em troca de divisas estrangeiras que eram aceitas como
pagamento de reparação de guerra.
Essa política
governamental de comprar divisas estrangeiras a qualquer preço, para cumprir
com seus compromissos, disparou o processo de inflação.
Finalmente, para piorar a já
calamitosa situação da Alemanha, como o Governo Alemão colocou objeções aos
severos termos do Tratado de Versalhes, alegando que o pagamento de 132
bilhões de marcos excedia a capacidade de pagamento da Alemanha, os
aliados deram um limite de seis dias para o Governo Alemão aceitar as condições
impostas ou a região industrial do Vale do Ruhr seria ocupada. A Alemanha não
pôde pagar e, em janeiro de 1923 , a França e a Bélgica invadiram a
Alemanha e ocupou a região industrial do Vale do Ruhr com uma força militar de
100.000 soldados, tomando controle das minas e da indústria pesada
alemã.
Esse foi o golpe de
misericórdia que acabou por asfixiar o
esforço de recuperação da economia
alemã.
Além de ser impedida
de ganhar divisas pela exportação de carvão, a Alemanha foi forçada a obter seu
combustível no exterior, pagando em
divisas estrangeiras.
A partir daí a inflação
tomou velocidade cada vez maior e foi, nesse exato momento, que entrou em
um processo de hiperinflação.
De 1914 a 1921, a Alemanha
já sofria do que os economistas chamam “alta inflação” , ou seja, quando
o índice vai até 50% ao mês.
Somente para comparação,
relembramos que o auge da inflação no Brasil foi junho de 1994, quando o índice
foi de 46,58 % ao mês.
A partir de 1921, o processo
de hiperinflação instalou-se e começou a acelerar. A partir
de agosto de 1922 a novembro de
1923, ela chegou a 322% ao mês.
Em média, os preços
quadruplicavam a cada mês, durante os 16 meses de hiperinflação.
O auge da hiperinflação foi
em outubro de 1923 , quando o índice chegou a 41% ao dia.
Em 16.11.1923, a cotação do
dólar americano chegou à cifra de quatro trilhões e duzentos bilhões de
marcos.
O Reichsbank continuava a
imprimir mais e mais papel-moeda mas não deu conta da demanda.
Em 17.07.1923, foi
aprovada uma lei que permitia a impressão privada de dinheiro como uma
medida de emergência.
Essa lei autorizava que,
daquela data em diante, vários estados da Alemanha, distritos administrativos, condados, cidades, estradas de ferro, bancos
e grandes grupos privados, imprimissem suas próprias moedas.
Como resultado
dessa lei, um total de 5.849
localidades , instituições governamentais e grupos empresariais emitiram
um total de 70.000 diferentes tipos de notas de papel-moeda.
Somente o grupo Deutsche
Reichsbahn em Berlim e suas filiais regionais, emitiram 256 padrões de
papel-moeda.
A hiperinflação ganhou ainda
mais impulso e mergulhou em uma espiral incontrolável.
De súbito, o marco despencou
em queda livre, cada vez mais rápido, até chegar a números fantásticos de um
milionésimo, bilionésimo, trilionésimo de seu valor original.
Toda a confiança no marco
sumiu à medida que os preços subiam mais e mais rápido, ultrapassando a
capacidade das prensas de emitir papel-moeda.
No auge da hiperinflação,
300 fábricas de papel-moeda estavam trabalhando a toda carga e 150 companhias
impressoras operavam as prensas dia e noite para atender à demanda de dinheiro.
A miséria e a fome grassavam
por todo o território alemão.
Milhões de famintos e
doentes vagavam sem destino pelas ruas.
As doenças de pulmão, o
raquitismo e a tuberculose tornaram-se epidêmicas, principalmente na
população jovem. Os idosos faleciam rapidamente.
Greves , passeatas e conflitos de rua com a polícia passaram a ser
uma rotina.
A opinião pública culpava os
franceses pela sua desgraça e miséria.
Apartamentos eram sublocados
para se conseguir renda extra e as
calçadas das ruas ficavam amontoadas por pessoas sem teto.
Os comerciantes se recusavam
a atender franceses e os alemães cruzavam a rua para evitar se encontrarem com
franceses.
Uma das consequências
da perda da confiança no marco foi a venda rápida dos títulos do Governo
Alemão que, anteriormente, tinham sido tão disputados e valorizados pela população durante a guerra.
Tinham virado papéis sem
valor.
Os empregados vinham para as
empresas e fábricas com grandes sacolas para, no fim do dia, guardarem o
dinheiro do pagamento e o gastarem de imediato antes que a cotação
da moeda mudasse.
Depois, os trabalhadores
passaram a ser pagos duas vezes ao dia, e tinham um intervalo no meio do
dia para fazer suas compras.
Logo após, passaram a ser
pagos três vezes por dia e suas mulheres vinham às portas das fábricas pegar o
dinheiro e saiam correndo para fazer as compras.
Muitas empresas, a pedido
dos empregados, passaram a fazer o pagamento não em dinheiro mas em bens de
consumo.
Os profissionais liberais,
como médicos, dentistas e outros, não aceitavam o pagamento em dinheiro mas sim
em salsichas, ovos, manteiga, pão, carvão , roupas , joias, ou o
que fosse.
Dada a rapidez de mudança de
preços , as lojas não colocavam mais os preços nas vitrines.
Quando do falecimento de
pessoas, a cremação tornou-se extremamente cara devido ao preço do carvão;
optou-se pelo enterro convencional em caixões.
Até nessa área foram enxergadas
formas de cortar custos. Os caixões passaram a ser fabricados mais
baixos, de tal forma que o nariz do defunto encostava na tampa do
caixão. Esses caixões eram chamados, ironicamente, de “espremedores de
narizes”.
Depois de um tempo, as cotações
do marco passaram a ser informadas de hora em hora.
Registros espantosos surgiam
.
Uma pessoa foi tomar um
café, cujo preço era 5.000 marcos e, depois de ler o jornal, pediu outro café.
Foi cobrada em 14.000 marcos.
O garçom explicou que, entre
o intervalo de um café e outro, o preço do café havia aumentado . Se o cliente
tivesse pedido os dois cafés ao mesmo tempo, a conta teria sido 10.000 marcos.
De manhã, podia-se
pagar 50.000 marcos por um jornal e, à
tarde, 100.000.
Um casal foi ao teatro
e, ao levar o dinheiro, o valor dos tickets já tinha triplicado de
preço e a importância não cobria sequer o valor da condução de retorno para
casa.
Uma família vendeu sua casa
para emigrar para a América. Ao chegar ao Porto de Hamburgo, eles não puderam
viajar pois o dinheiro não era mais suficiente para pagar a viagem e sequer
para pagar o retorno à cidade de onde tinham vindo.
Uma pessoa tinha uma conta
em um banco com saldo de 60.000 marcos. Pouco tempo depois, recebeu uma carta
do banco comunicando o encerramento da conta por ser antieconômico manter
uma conta com saldo tão baixo e
juntavam uma nota de 1.000.000 de marcos para encerrar a
conta ao cliente. Explicavam que o banco não dispunha mais de
notas com valor tão baixo como 60.000 marcos. De fato, pois à época, já eram
impressas notas de 500.000.000 de marcos.
Um carteiro,
indiscretamente, contou que interceptou cartas contendo notas de moedas
estrangeiras. Com poucas notas comprou duas casas e um piano. O restante do
dinheiro ele doou para uma igreja para se penitenciar do pecado.
As pessoas compravam duas
garrafas de cerveja de cada vez porque o seu preço poderia subir antes que ela
viesse a se descongelar.
Pagavam-se
milhões de marcos para uma pessoa guardar o lugar na fila dos
supermercados.
Logo após as portas dos
supermercados abrirem, as prateleiras se esvaziavam e os supermercados
não conseguiam repor as mercadorias com
velocidade suficiente para acompanhar a procura desenfreada.
Nos bondes, pagava-se a
passagem com milhões de marcos.
Preferia-se andar de táxi do
que de ônibus, pois no táxi o pagamento da viagem era pago no final do
percurso.
Caminhões transportavam
dinheiro do Reichsbank para outros bancos, sem proteção adequada,
como se fossem caminhões de lixo.
Pequenas empresas
transportavam em carrinhos de mão, às pressas pela rua, o dinheiro do pagamento
de seus empregados.
Encontravam-se cédulas de
100.000 marcos na sarjeta. Chegou a um ponto em que notas de dinheiro entupiam bueiros de rua.
Mendigos usavam as notas
achadas na rua para fazer fogueiras para se aquecer no inverno.
As donas de casa passaram a
usar notas de marcos em seus fogões e lareiras, pois o preço do carvão superava
de muito o valor das cédulas.
Em lugar de cobrir as
paredes com papel de parede ou de usar palha nos colchões usavam-se notas de
dinheiro.
Um cadarço de sapato custava
mais do que, anteriormente, custava o próprio sapato, ou mais
precisamente, o que custava a própria sapataria com todo seu estoque de
sapatos.
O conserto de um
encanamento, custava o mesmo do que antes custava a casa inteira.
Um carrinho de mão valia
mais que o valor do que custava toda a fábrica.
O escambo passou a ser a
modalidade comum de negociação.
O que importava era a
aquisição de bens materiais, pois isso é que tinha valor. Adquiriam-se, o mais
rápido possível, mercadorias de toda ordem: comida, joias, objetos de
arte, estatuetas, quadros, porcelanas, roupas, sapatos, casacos de pele ou de
tecido, livros, móveis, etc. Tudo era
“matéria”.
Os preços perderam todo o
controle. Perdeu-se a noção do valor de qualquer coisa. Era o absoluto caos
financeiro.
Em Outubro de 1923, 3 ovos
ou uma bisnaga, custavam 600.000.000 de marcos.
Um mês depois, uma bisnaga
estava sendo vendida a 80.000.000.000 de marcos !
Poucos dias depois, essa
mesma bisnaga custava 500.000.000.000 de marcos !!
Não se roubava mais
dinheiro, se roubavam bens.
Um homem encheu um carrinho
de mão com pacotes de marcos e foi à
padaria comprar um pão. Entrou na padaria para ver quais pães estavam à venda e
os respectivos preços. Quando voltou para pegar o dinheiro, os pacotes de
dinheiro encontravam-se no chão mas o carrinho tinha sido levado.
Lojas, padarias, armazéns,
perfumarias, magazines, e todo tipo de estabelecimento comercial eram alvos de
constantes assaltos, principalmente à noite. Os ladrões levavam o máximo
de mercadorias mas abandonavam o
dinheiro que ficava espalhado pelo chão.
O escritor alemão Ernst
Erich Noth, contava que seu avô acumulara dinheiro durante toda a vida para
financiar seus estudos. Após a morte de seu avô, Ernst Erich Noth recebeu como
herança 8.000 marcos depositados em um banco. Quando seus pais sacaram o
dinheiro no banco só conseguiram comprar um pão, 500 gramas de margarina e 60
gramas de café.
Os que dispunham de
moeda estrangeira eram os grandes oportunistas e aproveitadores.
Tripudiavam sobre a miséria
que os cercava.
Desfilavam em carros
luxuosos com motoristas uniformizados, trajando roupas finas e caras ,com joias
valiosas, fumando charutos da melhor procedência e, com uma única nota de US$
100.00, compravam fileiras de casas.
Os miseráveis os xingavam e
esticavam os dedos e punhos cerrados em sua direção.
Era um tempo de absurdos.
Repentinamente, grandes
fortunas tradicionais foram à bancarrota e surgiram espertalhões e golpistas
que, do dia para a noite, se tornaram os novos ricaços.
Não se respeitava qualquer
regra, norma moral ou lei.
Acima de todos os
afortunados , pairava, majestosamente, a figura de Hugo Dieter Stinnes.
Um gênio das finanças e dos
negócios, era neto de um modesto empresário em Mulheim e filho de um já
proeminente industrial, também chamado Hugo.
Hugo Dieter Stinnes teve uma
sólida formação no mundo dos negócios , cursou as melhores escolas de
finanças , e se especializou na área de mineração.
Em 1890, ele herdou de seu
pai uma mina de carvão e outras empresas na área de finanças.
Com apurado faro
empresarial, ampliou seus interesses em diversas ramos, como mineração,
siderurgia, empresas de navegação e de transportes, e
destacou-se , sobretudo, na imprensa, onde criou um gigantesco grupo ,
que abrangia grande parte dos mais importantes jornais da Alemanha.
A partir de 1920, usou do
poder de seu império de informação para atacar contínua e furiosamente o
Tratado de Versalhes.
Com isso conquistou a
simpatia do povo alemão.
Entrou na política, foi
eleito para o Reichstag, passou a ser um formador de opinião e criou um partido político, o DVP- Partido
do Povo Alemão.
Com seu refinado instinto
financeiro, vislumbrou com muita antecedência o surgimento da
hiperinflação e seus efeitos na economia alemã.
Confiante
nessa visão e com o apoio dos inúmeros amigos e aliados que contava no Governo e no Reichstag , a
par de sua influência na imprensa, adquiriu, com o aval do Governo Alemão, colossais
quantidades de divisas estrangeiras, para pagar a prazo em parcelas
fixas em marcos alemães.
Com as divisas estrangeiras,
adquiriu o mais rápido possível e sem regatear, grandes empresas, conglomerados
industriais inteiros , bancos e grupos financeiros. Investiu suas divisas em
todas as áreas, desde energia, mineração, siderurgia, armamentos,
comunicações, construção, transportes terrestres, aviação, estradas de
ferro, estaleiros e empresas de navegação, imensas áreas para agricultura
e plantação de florestas, etc.
Enfim, adquiriu rapidamente
tudo que encontrava disponível para venda em toda a Alemanha.
Pouco tempo depois,
dispendeu um irrisório valor em marcos
alemães para pagar as divisas , pois o marco alemão tinha virado
pó.
Dessa
forma, seu império econômico e industrial cresceu em níveis inimagináveis.
Sua influência e seu poder ,
na Alemanha e no exterior, se ampliou de forma extraordinária.
A fortuna desse magnata foi
dimensionada, à época, em um quarto de toda a Alemanha.
Passou a ser classificado de
“O Rei da Inflação”.
Em 1923, a revista americana
Time, o chamou de “O Novo Kaiser (imperador) da Alemanha”, para descrever o
alcance de sua influência política e sua imensa fortuna.
Quando faleceu em
10.04.1924, aos 54 anos, em razão de uma operação na bexiga, entre outros
vultosos investimentos , seu império econômico abrangia 4.500 companhias
e 3.000 fábricas.
Junto à desintegração
do marco, ruíram todos os valores mais
nobres e respeitados pelo povo alemão : a disciplina, a ordem pública, a
limpeza e conservação do patrimônio público, o respeito à lei, o respeito ao
próximo, a organização, os valores morais, a dedicação
extrema ao trabalho árduo, o asseio e a disciplina pessoais, a devoção
religiosa luterana , os valores
morais, o fervor patriótico, o
incremento e a valorização da cultura e das artes, a dedicação aos
estudos e a pesquisas em todas as áreas, o alto nível educacional, e
tantos outros nobres valores que são característicos do
povo alemão.
Perdeu-se o respeito ao hino
nacional, à bandeira e a todos os outros
símbolos nacionais.
A Alemanha e seu povo eram
ridicularizados no exterior e o povo passou a ter vergonha de si mesmo.
A Alemanha estava à beira da
desintegração e seu povo mergulhado no desespero, na desorganização social e
prestes a entrar em um processo de loucura coletiva.
Viviam-se momentos de
absoluto desvario e devassidão.
Não havia freio e respeito
em relação a mais nada.
A criminalidade disparou.
Vivia-se um dia após o
outro, em uma esbórnia sem limites, em uma excitação e
euforia contínuas e descontroladas, como se cada dia fosse o último da
vida.
O consumo de drogas, as mais
perigosas, perdeu o controle. O consumo de bebidas alcoólicas subiu a
níveis alarmantes. As doenças venéreas se alastraram de forma
assustadora.
As orgias e bacanais
coletivos tornaram-se corriqueiros e aconteciam todas as noites,
misturando homens e mulheres de todas as idades,
travestis, lésbicas, e todo tipo de pervertidos, degradados e
degenerados, que se trocavam e transavam de todas as formas sem qualquer
controle ou prevenção.
Muitos desses concorridos bacanais
eram feitos à noite, ao ar livre, em
cemitérios.
Tudo isso misturado
com drogas pesadas, bebidas e música estridente.
Os mais absurdos e
abusivos excessos, taras e perversões , superavam de longe o que se
conhecia das bacanais dos tempos de Sodoma e Gomorra, de Calígula e de
Nero.
Moças e rapazes , de todas
as classes , se exibiam e se ofereciam nas ruas, à noite ou ao dia, para
qualquer orgia ou prática sexual, por mais abjeta e estranha que fosse, com
quem fosse, e com quantos fossem. Muitas vezes nem era por dinheiro, mas sim
por pura devassidão num caminho de autodestruição.
As moças se
vangloriavam do detalhamento de suas
experiências , as mais depravadas e bizarras , quer
fossem imaginárias ou reais. Quanto mais chocantes fossem os
relatos, mais impactantes os efeitos.
Os princípios de vida que
balizavam o comportamento da população naquele período de desvario eram: “uma prostituta na família é
melhor que um filho morto; roubar é preferível a passar fome; não passar frio é
mais importante que conservar a honra”.
Berlim passou a ser a cidade
da perversão, da perdição, do crime e do
vício.
Mas essa era uma imagem
absolutamente falsa e distorcida da Alemanha e de seu povo.
Vivía-se um período de absoluto descontrole, loucura e
infelicidade, completamente avesso e estranho à formação, ao
espírito e ao caráter alemão .
Por baixo de toda aquela
degradação desenfreada, o povo alemão
ansiava, ardorosamente, desesperadamente e rapidamente, pelo retorno às
suas origens, à ordem e à disciplina, que eram as bases da alma e da vida dos
alemães.
A Alemanha estava em uma
situação desesperadora.
Os fazendeiros recusavam-se
a receber o pagamento de suas colheitas em forma de papel-moeda.
A colheita de 1923
permanecia estocada nos silos das fazendas enquanto os supermercados nas
cidades estavam vazios.
A fome começou a se alastrar
e o Governo previu uma guerra civil.
O Governo ameaçou intervir
para resolver a questão.
Em 09.11.1923, o líder do
Partido Nazista, Adolf Hitler, tentou tomar o poder em Munique e, dali, marchar
sobre Berlim.
O tempo corria e as
autoridades tinham de tomar providências urgentes.
E isso ocorreu, com uma
engenhosa operação financeira, promovida pelas autoridades alemãs, para
restaurar o valor do marco.
Em 13.08.1923, Gustav
Stresemann foi nomeado Ministro da Economia , em meio ao caos da hiperinflação.
Em 26.09.1923, ele suspendeu
sete artigos da Constituição Alemã e declarou o Estado de Emergência.
Essa medida criou uma
situação comparável a uma ditadura militar.
Em 15.10.1923, foi criado o
Rentenbank, com poderes de tomar todas as medidas para criar e disciplinar a
emissão de uma nova moeda, com valor equivalente ao marco com lastro ouro de
antes da guerra, chamado “gold mark”.
Esse plano foi elaborado
por Hjalmar Schacht, então Diretor do Darmstadt & National Bank com o
apoio do Ministro das Finanças, Hans Luther.
Em 12.11.1923, o Ministro
das Finanças Hans Luther, nomeou Hjalmar Schacht como
Secretário da Moeda do Reich.
Em 15.11.1923, a impressão
de papel-moeda antigo cessou.
Em 16.11.1923, os primeiros
marcos com padrão ouro com a cotação de antes da guerra começaram a
surgir.
Em 20.11.1923, cada novo
marco, “rentenmark”, passou a valer um trilhão de marcos antigos.
Em 22.12.1923, Hjalmar
Schacht, foi nomeado presidente vitalício do Reichsbank, cargo que ocupou até
02.04.1930.
A hiperinflação tinha sido
contida e a Alemanha tinha retornado ao sistema monetário de padrão ouro.
Mas, o Rentenbank não
tinha barras de ouro em seus cofres, mas somente títulos de crédito na
forma de hipotecas de propriedades e títulos da indústria alemã.
Assim, a moeda tinha o
valor do padrão ouro mas não era conversível.
Mas isso não importava.
O que valia era que a
hiperinflação tinha cessado e a confiança na moeda tinha sido restabelecida.
Os fazendeiros aceitaram o
novo marco, os silos foram esvaziados e os supermercados foram reabastecidos
rapidamente.
A crise havia sido resolvida e o fantasma da guerra civil
desaparecera.
A hiperinflação estava morta
!!!
Em Agosto de 1924, um
novo marco foi colocado em circulação, na cotação de 1 marco novo para 1 marco
antigo.
Foi criado um Banco Central
independente que fiscalizava e disciplinava a emissão de papel-moeda.
Foi iniciada uma reforma
fiscal pelo Governo que, entre outras medidas, tinha como meta reduzir
drasticamente a emissão de papel moeda e ajustar as despesas do Governo dentro
do limite do Orçamento.
Foram entabuladas
conversações de alto nível, bem sucedidas e que, através de vários acordos,
modificaram as Cláusulas do Tratado de Versalhes e as condições de
pagamento das reparações de guerra
Hjalmar Schacht, que foi o
homem que tirou a Alemanha do caos, trabalhava de forma disciplinada e
obsessiva , em condições extremamente simplórias.
O pomposo “Gabinete de Trabalho
do Secretário da Moeda do Reich” era uma pequena sala nos fundos do
Ministério das Finanças , com uma janela com vista para o quintal. Essa
sala tinha sido usada durante muito tempo como depósito de roupas sujas. Era um
tanto sombria, com pintura velha e tinha um fedor acre de roupas de chão
sujas e velhas, que impregnava o ambiente.
O mais simples funcionário
de qualquer repartição pública se sentiria incomodado e se recusaria a
trabalhar em um lugar insalubre como aquele.
Hjalmar Schacht dispunha
de uma mesa, uma cadeira e um telefone,
E como trabalhava Hjalmar
Schacht ?
Chegava muito cedo no
trabalho e saía tarde, quando pegava o último trem que ia para o subúrbio.
Comia frugalmente ali mesmo.
Fumava muito. Não
recebia e nem mandava cartas. Telefonava intensamente todo o tempo ,
trocando ideias com banqueiros, ministros de economia, economistas,
financistas, e todos os que o pudessem ajudar sobre tudo o que
se relacionava com moeda e finanças.
Não recebia ninguém.
E continuava a fumar !
O fedor acre de roupas sujas e velhas se
misturava ao cheiro de nicotina o que
contaminava todo o ambiente .
Mas Hjalmar Schacht não se
importava com isso e continuava a trabalhar de forma frenética. Era incansável.
Sua única companhia
era sua secretária, Fraulein Steffeck.
Foi esse homem
simples, sem vaidades e trabalhador compulsivo que tirou o país do
caos da hiperinflação e que deu nova vida à Alemanha.
Mas, foi durante aquela
magnífica operação financeira e
econômica de Hjalmar Schacht que tirou a Alemanha do caos, que nasceu o ovo da serpente.
Haviam sido criadas as condições para a ascensão do nazismo.
Paradoxalmente, Hjalmar
Schacht que tirou a Alemanha do abismo, foi nomeado por Adolf Hitler como
Ministro da Economia do III Reich onde permaneceu de 1934 a 1937.
Por essa razão , foi preso e
julgado no Tribunal de Nuremberg.
Mas foi inocentado de
acusações sobre atentado aos direitos humanos, desrespeito à vida ou atos de
guerra.
Muito certamente, nossos
brilhantes economistas se apoiaram em
muitas das teorias e ideias em que Hjalmar Schacht se baseou
e nas ações tomadas por esse economista genial , para criar o Plano Real.
Adaí Rosembak
Associado da AAFBB, ANABB,
AFABB-RS e ANAPLAB