Dada a
importância da matéria, transcrevemos adiante o artigo “O Brasil está no
Atoleiro” da revista “The Economist”, edição de 26.02.2015, para a América
Latina:
Em sua
campanha pela reeleição como presidente do Brasil, no ano passado, Dilma
Rousseff pintou um quadro auspicioso da sétima maior economia do mundo. O pleno
emprego, salários em alta e benefícios sociais eram ameaçados somente pelos
perversos planos neoliberais dos seus oponentes. Dois meses depois de ela
iniciar seu novo mandato, os brasileiros descobrem que foram logrados com falsas
perspectivas.
A economia do Brasil está um caos, com problemas muito mais importantes do que o governo admite ou os investidores parecem registrar. A letárgica estagnação na qual o país mergulhou em 2013 vem se transformando numa recessão em grande escala e provavelmente prolongada. Os investimentos, com uma queda de 8% em relação ao ano passado, ainda poderão cair muito mais. O enorme escândalo de corrupção na Petrobrás, a gigante estatal do petróleo, envolveu várias das maiores construtoras do país e paralisou os gastos de capital em algumas áreas da economia, pelo menos até que os promotores e auditores concluam seus trabalhos. O real já perdeu 30% do seu valor em relação ao dólar desde maio de 2013, uma desvalorização necessária, mas que vai se somar à pesada carga dos US$ 40 bilhões de dívida externa de empresas brasileiras cujos prazos para resgate vencem este ano.
Escapar deste lodaçal será difícil mesmo com uma liderança política forte. Dilma Rousseff contudo é fraca. Ela venceu a eleição por uma margem muito estreita. Sua base política está desmoronando. De acordo com o Datafolha, seus índices de aprovação caíram de 42% em dezembro para 23% este mês. Dilma também é prejudicada pela deterioração da economia e pelo escândalo da Petrobrás, ligado a propinas de pelo menos US$ 1 bilhão pagas a políticos do Partido dos Trabalhadores e membros da sua coalizão. Durante grande parte do período a que se refere esse escândalo Dilma Rousseff presidiu o conselho de administração da Petrobrás. Para o Brasil conseguir recuperar alguns benefícios no seu segundo mandato, Dilma precisará encaminhar o país numa direção inteiramente nova.
Levy virá em socorro? Em grande parte, os problemas do Brasil foram provocados pelo próprio país. No seu primeiro mandato Dilma Rousseff adotou um capitalismo estatal tropical que envolveu negligência, contas públicas opacas, uma política industrial que debilitou a competitividade e de intromissão presidencial na política monetária. No ano passado sua campanha pela reeleição viu dobrar o déficit fiscal para 6,75% do PIB.
Dilma pelo menos reconheceu que o Brasil necessita de políticas mais favoráveis às empresas se o objetivo é manter o grau de investimento e o país voltar a crescer. Essa percepção é personificada pelo seu novo ministro das Finanças, Joaquim Levy, economista formado em Chicago e banqueiro, além de ser um dos raros economistas liberais do país. Mas como no passado o Brasil não tentou resolver prontamente as distorções macroeconômicas, Levy está às voltas agora com a armadilha da recessão.
Para estabilizar a dívida pública bruta, ele prometeu um colossal aperto fiscal de quase dois pontos percentuais do PIB este ano, com abolição dos subsídios para eletricidade e o restabelecimento do imposto sobre o combustível. Ambas as medidas ajudaram a empurrar a inflação para 7,4%. Ele também pretende reduzir os empréstimos subsidiados por bancos públicos para beneficiar setores e empresas.
Teoricamente o Brasil compensaria este aperto fiscal com uma política monetária mais frouxa. Mas diante do histórico passado de hiperinflação do país, como também de erros mais recentes - o Banco Central cedeu ao desejo da presidente, ignorou sua meta de inflação e estupidamente reduziu a taxa referencial em 2011-12 - o espaço de manobra hoje é limitado. Com a inflação acima da meta, o Banco Central não pode reduzir sua taxa básica em relação ao seu nível atual de 12,25% sem correr o risco de nova perda de credibilidade e corroer a confiança do investidor. Um aperto fiscal e taxas de juros altas significam mais sofrimento para famílias e empresas brasileiras e um retorno mais lento ao crescimento.
O que torna o ajuste perigoso é a fragilidade política da própria Dilma Rousseff. Oficialmente, ela conquistou uma maioria legislativa confortável, embora reduzida, na eleição de outubro. Mas o PT já vem protestando contra as medidas fiscais de Levy - em parte porque a campanha não estabeleceu as bases para elas. Dilma Rousseff sofreu uma derrota esmagadora em primeiro de fevereiro na eleição para o cargo politicamente poderoso de presidente da Câmara do Congresso. Eduardo Cunha, que venceu o candidato do PT, seguirá a sua própria agenda, e não a dela. O Brasil poderá entrar num período de governo quase parlamentar e esta não será a primeira vez.
O país enfrenta assim seu maior teste desde os anos 90. Os riscos são claros. Recessão e receitas fiscais em queda podem debilitar o ajuste preconizado por Levy. Qualquer recuo poderá levar a uma corrida ao real e um rebaixamento da nota de crédito do país, elevando os custos de financiamento para governo e empresas. E as manifestações em massa de 2013 contra a corrupção e os medíocres serviços públicos se repetirem, Dilma pode estar condenada.
A economia do Brasil está um caos, com problemas muito mais importantes do que o governo admite ou os investidores parecem registrar. A letárgica estagnação na qual o país mergulhou em 2013 vem se transformando numa recessão em grande escala e provavelmente prolongada. Os investimentos, com uma queda de 8% em relação ao ano passado, ainda poderão cair muito mais. O enorme escândalo de corrupção na Petrobrás, a gigante estatal do petróleo, envolveu várias das maiores construtoras do país e paralisou os gastos de capital em algumas áreas da economia, pelo menos até que os promotores e auditores concluam seus trabalhos. O real já perdeu 30% do seu valor em relação ao dólar desde maio de 2013, uma desvalorização necessária, mas que vai se somar à pesada carga dos US$ 40 bilhões de dívida externa de empresas brasileiras cujos prazos para resgate vencem este ano.
Escapar deste lodaçal será difícil mesmo com uma liderança política forte. Dilma Rousseff contudo é fraca. Ela venceu a eleição por uma margem muito estreita. Sua base política está desmoronando. De acordo com o Datafolha, seus índices de aprovação caíram de 42% em dezembro para 23% este mês. Dilma também é prejudicada pela deterioração da economia e pelo escândalo da Petrobrás, ligado a propinas de pelo menos US$ 1 bilhão pagas a políticos do Partido dos Trabalhadores e membros da sua coalizão. Durante grande parte do período a que se refere esse escândalo Dilma Rousseff presidiu o conselho de administração da Petrobrás. Para o Brasil conseguir recuperar alguns benefícios no seu segundo mandato, Dilma precisará encaminhar o país numa direção inteiramente nova.
Levy virá em socorro? Em grande parte, os problemas do Brasil foram provocados pelo próprio país. No seu primeiro mandato Dilma Rousseff adotou um capitalismo estatal tropical que envolveu negligência, contas públicas opacas, uma política industrial que debilitou a competitividade e de intromissão presidencial na política monetária. No ano passado sua campanha pela reeleição viu dobrar o déficit fiscal para 6,75% do PIB.
Dilma pelo menos reconheceu que o Brasil necessita de políticas mais favoráveis às empresas se o objetivo é manter o grau de investimento e o país voltar a crescer. Essa percepção é personificada pelo seu novo ministro das Finanças, Joaquim Levy, economista formado em Chicago e banqueiro, além de ser um dos raros economistas liberais do país. Mas como no passado o Brasil não tentou resolver prontamente as distorções macroeconômicas, Levy está às voltas agora com a armadilha da recessão.
Para estabilizar a dívida pública bruta, ele prometeu um colossal aperto fiscal de quase dois pontos percentuais do PIB este ano, com abolição dos subsídios para eletricidade e o restabelecimento do imposto sobre o combustível. Ambas as medidas ajudaram a empurrar a inflação para 7,4%. Ele também pretende reduzir os empréstimos subsidiados por bancos públicos para beneficiar setores e empresas.
Teoricamente o Brasil compensaria este aperto fiscal com uma política monetária mais frouxa. Mas diante do histórico passado de hiperinflação do país, como também de erros mais recentes - o Banco Central cedeu ao desejo da presidente, ignorou sua meta de inflação e estupidamente reduziu a taxa referencial em 2011-12 - o espaço de manobra hoje é limitado. Com a inflação acima da meta, o Banco Central não pode reduzir sua taxa básica em relação ao seu nível atual de 12,25% sem correr o risco de nova perda de credibilidade e corroer a confiança do investidor. Um aperto fiscal e taxas de juros altas significam mais sofrimento para famílias e empresas brasileiras e um retorno mais lento ao crescimento.
O que torna o ajuste perigoso é a fragilidade política da própria Dilma Rousseff. Oficialmente, ela conquistou uma maioria legislativa confortável, embora reduzida, na eleição de outubro. Mas o PT já vem protestando contra as medidas fiscais de Levy - em parte porque a campanha não estabeleceu as bases para elas. Dilma Rousseff sofreu uma derrota esmagadora em primeiro de fevereiro na eleição para o cargo politicamente poderoso de presidente da Câmara do Congresso. Eduardo Cunha, que venceu o candidato do PT, seguirá a sua própria agenda, e não a dela. O Brasil poderá entrar num período de governo quase parlamentar e esta não será a primeira vez.
O país enfrenta assim seu maior teste desde os anos 90. Os riscos são claros. Recessão e receitas fiscais em queda podem debilitar o ajuste preconizado por Levy. Qualquer recuo poderá levar a uma corrida ao real e um rebaixamento da nota de crédito do país, elevando os custos de financiamento para governo e empresas. E as manifestações em massa de 2013 contra a corrupção e os medíocres serviços públicos se repetirem, Dilma pode estar condenada.
Adaí Rosembak
Associado da
AAFBB, ANABB, AFABB-RS e ANAPLAB
Adaí,
ResponderExcluirNunca pensei que pudéssemos chegar a essa situação.
É o fim da picada.
O que espanta é que ainda tenha gente que defenda o PT.
Será que são cegos fanáticos?
Caro Anônimo,
ExcluirAcredite se quiser mas dois comentaristas disseram que a revista mente e que por trás delas estão as intenções dos países anglo-saxônicos de nos dominar.
E pediram para eu os retirar da lista de e-mails.
Sãos uns fanáticos.
Contra esse tipo de gente não há contra-argumentação.
O melhor mesmo é tirá-los da relação de e-mails.
Um abração
Adaí Rosembak
Prezado (a) Adai, data vênia.
ResponderExcluirEste texto abaixo, não é exatamente uma análise da economia ou da situação politica. Mais parece, antes de tudo e tão somente, a mais pura expressão de um desejo, de um viés ideológico, como o de uma torcida obcecada pelo seu time de futebol. Esta na mesma classe de textos, tipo “Empiricus”, que a partir de 2013 povoou as redes sociais garantindo e ainda garante, com pretensões de argumentos técnicos, que o fim do Brasil está Próximo. Já se passaram quase 2 anos e nada do Brasil acabar. Nem os mais radicais neoliberais que estavam em Davos, recentemente, endossam esta amarga visão de um Brasil em ruínas. Muito pelo contrário, avaliam que é uma crise colada na crise internacional e que, em menos de 2 anos, as coisas se normalizam no Brasil, o que não conseguem projetar para a maioria dos países europeus, onde, de fato, o estado da economia justifica tanto pessimismo. Estes analistas, inclusive o “insuspeito” George Sórus, aconselham ainda a comprar as ações, neste momento, da Petrobrás. O Brasil está péssimo na mídia brasileira e na cabeça dos preconceituosos que não aceitam um Brasil que não seja dirigido pelas elites. Todos são livres escolher e para fazer o que quiserem, conforme seus vieses ideológicos, como pintar o pior cenário para o nosso país, mas é ético e “cientifico” assumir, antes, para que time torcem e que apito, apitam. Não tem problema se torcem para o fim do Brasil atual, voltado para redistribuir e incluir um pouco do “bolo” para os pobres e excluídos. Mas que assumam que, a maioria das suas análises estão lastreada numa espécie de ódio, conforme disse hoje, na Folha, o outro insuspeito Bresser Pereira, antigo ministro de FHC, por aqueles que hoje dirigem o país e que não se guiam apenas pelos interesses e cartilha dos ricos. Quanto à corrupção, que é endêmica e epidêmica, e vem desde 1.500, todos querem o seu fim. Só que para ser moralizante, todos sem exceção tem que ser punidos e ir para a cadeia se for preciso. Não apenas alguns. Punição seletiva, judiciário seletivo, delação seletivo é também corrupção do estado de direito. No caso da Petrobrás, sabe-se que desde de bem antes de 2003, já haviam estes esquemas. No caso do mensalão, desde os tempos de Azeredo em Minas, em 1998. Isto é, mais rigor ético para tudo e todos, sem exceção e sem seletividade. Rigor, inclusive para os pequenos corruptores das “pequenas” corrupções do dia a dia, daqueles que estão entre ou próximos a nós, quando não somos nós os que sonegam impostos, que inventam despesas médicas, que corrompem o guarda da esquina, que não respeitam os sinais de transito, que furam a fila, que não pagam corretamente o salário da sua funcionária doméstica, do cocô do cachorro que você não recolhe na calçada, dos que querem levar vantagem em tudo etc. etc.
Que cada um Pense, antes, na sua pequena corrupção. A soma de todas elas tem muita haver com a totalidade da grande corrupção que grassa pelo pais e pela grave crise ética que permeia todos os níveis da administração publica, seja federal, estadual, municipal e até aquela que campeia no seu quarteirão e dentro de suas casas. Onde tudo começa.
abs
Luigipaiva
Luigi Paiva,
ResponderExcluirEu tenho certeza de que o Brasil vai sair dessa encalacrada situação.
Mas vai pagar um alto preço.
A Petrobrás vai ser completamente reestruturada e renascerá completamente diferente da Petrobrás de hoje.
Mais enxuta, mais ágil, íntegra e lucrativa.
E a reboque da Petrobrás o lado corrupto de nossa sociedade, e aí incluo povo e governo, será extirpado de nossas instituições e da mentalidade de nosso povo.
Você foi muito feliz em tudo que colocou no seu comentário.A corrupção e a falta de caráter passa pelos desvios dos milionários, dos funcionários governamentais, do cocô do cachorro que não é recolhido da calçada, dos que furam fila, dos marginais e dos milicianos.
Enfim, será uma faxina geral.
Não vai ser um processo indolor. Muito pelo contrário.
Passaremos por uma barreira de choque para essa depuração.
Muitos cairão.
Espero estar vivo até lá.
Independente dos matizes ideológicos, rezemos para tudo dar certo.
E esperemos que a manchete do "The Economist" seja definitiva parecida com a manchete de 12.11.2009.
Em lugar de "Brazil takes off" leremos "Brazil took off definitely"
Um abração
Adaí Rosembak
Resposta perfeita pois o texto analisado lembrou-me muito uma das frases célebres do teatrólogo Nelson Rodrigues, que dizia que o brasileiro tinha complexo de vira lata. Vamos combater a corrupção sim, mas não somente a partir de 2003. Vamos mais fundo e com mais seriedade e menos ódio. Abr. Júlio Alt
ResponderExcluirJulio Cesar Alt,
ExcluirAnteriormente o "The Economist" já tinha estampado uma manchete enaltecendo a política econômica do Brasil (veja a manchete "Brasil takes off", de 12.11.2009).
Por isso penso que a revista, respeitada no mundo inteiro por sua isenção, foi fundo, foi séria e não destilou ódio.
Infelizmente, ela retratou o estado deplorável em que nos encontramos.
No meu entender, temos de enfrentar o problema de frente e não fugir da realidade.
Pagaremos um alto preço por esse ajuste que afetará toda a sociedade brasileira.
Um abração
Adaí Rosembak