Aceitar e tolerar, e
por que não dizer, até apreciar que nossos semelhantes pensem de forma
diferente do que a nossa, é uma das virtudes mais admiráveis em qualquer ser
humano. Sobre isto, nada melhor do que
repetir a máxima de Voltaire:
“Discordo daquilo que dizes, mas defenderei até a morte o teu
direito de o dizeres”.
Embora Voltaire tenha
usado, com certo exagero, a expressão pleonástica “até a morte”, aceitar a
diversidade de opiniões, é uma qualidade em qualquer sociedade.
Essa é a razão por que
apreciamos as sociedades democráticas, onde você tem a liberdade de expressar
suas opiniões, sem temer e ser molestado por um estado ditatorial e opressor.
Sobre esse aspecto,
lembro Angela Davis, integrante do Partido Comunista Norte-Americano e membro
do grupo Panteras Negras nos anos 70, que, quando foi perguntada por um
jornalista, por que pertencia ao partido comunista no maior país capitalista do
mundo, como os Estados Unidos, respondeu:
“Não conseguiria viver em um país onde não pudesse me expressar
livremente. Por isso, gosto do Estados Unidos, embora seja contra o sistema capitalista.
”
Parei de assistir aos
debates sobre o impeachment, no Canal 540, da Globo News. São gritos, ofensas, xingamentos, desrespeito
a quem está com a palavra, contestações descabidas e por aí vai.
Querem impor na marra e
no grito seus pontos de vista a outros que divergem de sua forma de pensar.
Tem momentos em que o coordenador
do debate é obrigado a suspender as sessões, pois corre-se o risco de os
debatedores chegarem às vias de fato, tal o nível da exaltação de ânimos e
descontrole pessoal.
E chamam isso de “debate
democrático. ”
Contesto essa visão, pois
não considero “democrático” tentar impedir que outra pessoa expresse suas
ideias no tempo que lhe é cedido para sua manifestação.
Quando esses debates
chegavam a esse ponto, desligava a TV ou mudava de canal.
Atualmente, prefiro ver
o resultado das discussões, de forma tranquila, quando leio o jornal no café da
manhã.
Mas muitas pessoas acham
natural que, no calor dos debates, esses excessos possam ocorrer.
Só voltarei a assistir à
votação final sobre o impeachment. Aí vai ser eletrizante. Vai ser uma decisão histórica que vai definir
o futuro de nosso país.
Vai ser uma emoção
comparável a assistir a um final de Copa do Mundo.
Eu aceito, acho
divertido e até salutar que, nos estádios de futebol, as pessoas deem vazão às
suas repressões, às suas mágoas e às suas frustrações. Muito embora, as pessoas
que são mais xingadas, sejam as progenitoras
do juiz, dos bandeirinhas e dos massagistas, que não tem nada a ver com a
partida de futebol que se disputa no gramado. Eu mesmo caio na gargalhada
quando os ofendidos massagistas, que vão socorrer os jogadores, são chamados de
“parteiras”.
Mas o que acho que as
autoridades devem reprimir, é o que está acontecendo em relação a protestos raivosos
visando desestabilizar as pessoas, perturbar suas vidas privadas e sua paz
familiar, e chegar quase que ao ponto da agressão física.
Isso não tem nada a ver
com democracia ou liberdade de expressão.
E aí não faço distinção
de preferências políticas.
Todos esses
manifestantes, seja qual for a causa ou linha política que defendam, cometem o
mesmo abuso.
Como exemplos recentes,
que podem ser acessados pelo Google ou pelo YouTube, cito as manifestações em
frente da residência, em São Paulo, do Presidente em Exercício Michel Temer,
que perturbou a paz de sua esposa Marcela e de seu filho Michel.
Outro caso recente,
foram os apupos, gritos e insultos recebidos pela Senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR),
por parte de um grupo de manifestantes, quando desembarcava no Aeroporto Internacional
de Curitiba. Embora não pactue com suas ideias, e a ache exaltada e até desrespeitosa
com seus pares nos debates sobre o impeachment, reprovo completamente essa
agressão da qual a senadora foi alvo. Foi um vexame a situação pela qual ela
passou.
Em 29.06.2016, quando
desembarcava no Aeroporto de Brasília, a Advogada Janaína Paschoal, que é
defensora do processo de impeachment, sofreu o mesmo tipo de manifestação abusiva
e insultuosa.
Esse tipo de ação não é
admissível sob nenhuma hipótese.
É simplesmente agressão
pessoal. Portanto, é caso de polícia.
Respeito à diversidade
de opiniões e de escolhas é fundamental.
Até nos nossos
relacionamentos pessoais devemos seguir esse princípio.
Existem pessoas que nos
amam como somos, gostam da nossa forma de agir, respeitam nossas excentricidades,
e preferem apreciar nossas virtudes em lugar de nos detestar e nos apoquentar
pelos nossos defeitos.
O melhor a fazer numa
situação como essa, não é agredir ninguém pela forma como pensam. Simplesmente, devemos nos afastar das pessoas
que não tem afinidade e não gostam da gente.
Há muito, a revista
Reader’Digest, publicava uma coluna chamada “Meu Tipo Inesquecível”. Pena que a
revista tenha eliminado essa área. Era um dos pontos altos da revista e falava da
admiração que nutrimos por determinadas pessoas que, de forma geral, são
desprezadas e até detestadas por outras.
Quando tinha meus 17
anos, e estudava no Curso Satélite, na Rua Acre, no Rio, para entrar no BB, fui
obrigado a morar em uma hospedaria de quinta categoria na Rua do Lavradio, pois
estava sempre na pindaíba. Éramos seis em um quarto com 3 beliches.
Um horror. Saíam discussões,
alguns choravam por problemas familiares e depressão, tinham os que soltavam
pum, outros roncavam, alguns tinham chulé, e outros não tomavam banho. Tinha um português, dono de um botequim, que
andava de camiseta, tamancos, tinha bigode e era torcedor do Vasco.
Monopolizava a única mesa do quarto com suas coisas e só dormia com a janela
aberta, fosse que frio fosse. Outro, era
um rapaz de cor, gordo, e que só dormia de janela fechada. Então, a noite
inteira, era um constante deita e levanta do português e do negão, a fecharem e
abrirem a janela. Até que um dia os dois saíram no braço. Foi uma boa briga.
Mas o caso que mais
chamou minha atenção, foi um cronista esportivo que era alcóolatra. Era quem
classificava como o “Meu tipo Inesquecível”. Bebia uma garrafa inteira de
cachaça de uma vez só e, às vezes, entrava pela segunda garrafa. Tinha só a
metade do pulmão; havia perdido a outra metade pela bebida.
Depois ia dormir.
Quando não dormia, ficava falando sozinho e não deixava ninguém dormir.
Mas, nas vezes em que
estava sóbrio, era uma pessoa admirável. Nesses momentos, era um tipo
espirituoso, culto e divertido, que escrevia suas excelentes crônicas esportivas à mão,
as quais vendia a um jornal da época. Sobrevivia desse dinheiro. Foi abandonado
pela família em razão da bebida.
Um belo dia, bebeu
tanto e perturbou tanto, que o pessoal da hospedaria o amarrou em uma maca, e o
colocou na rua.
Logo após, saí daquela
espelunca e nunca mais o vi.
Nunca consegui esquecer
esse personagem. Que vida atormentada!!
A propósito desse
período um tanto conturbado de minha juventude, acrescento que, além do Curso
Satélite, na Rua Acre, eu cursava, à tarde, o Colégio Amaro Cavalcante, no
Largo do Machado.
Ía de um lugar a outro
a pé, porque a grana era curta.
Para minha absoluta e agradável
surpresa, há alguns dias atrás, fui lembrado pelo Waldir Argento, da AAFBB, que
ele havia estudado comigo, no mesmo colégio. É espantoso que, depois de 57 anos,
o Waldyr Argento tenha se lembrado de nossa convivência no Colégio Amaro Cavalcante!!
Conto esses fatos, para
falar da diversidade humana e do respeito que temos que ter com nossos
semelhantes.
Devemos ser tolerantes
com as pessoas, mas temos de nos afastar daqueles que não nutrem simpatia por
nós, e temos de nos apegar àqueles a quem amamos e que também nos amam.
Tem um ditado que diz: “Só ame quem lhe ama. ”
Parece lógico, parece fácil,
parece simples, mas todos sabem, até pelas experiências da vida, que essa “lógica”,
por vezes, é muito difícil, quando não impossível de ser atingida, e é a base
de nossa felicidade.
Para finalizar, segue
outro pensamento, de Manuelle Leite:
“Coração dos outros é terra que ninguém pisa. ”
Adaí Rosembak
Associado da AAFBB, ANABB,
AFABB-RS e ANAPLAB
Caro Adaí,
ResponderExcluirNesse caso a pergunta que se impõe é:
Até quando, quanto e a que ponto deve o Tolerante tolerar a intolerância do Intolerante?
Uma coisa é respeitar o direito das pessoas manifestarem o seu direito de defender livremente uma tese.
Outra é ser usado por essas mesmas pessoas - em virtude da nossa tolerância e espírito democrático - para que elas consigam, mesmo que/quando minoritariamente, impor o seu pensamento à maioria.
E essas cenas que o amigo está assistindo de intolerância e até de agressividade moral e física, nada mais são do que o resultado que se faz sentir do trabalho das minorias carentes de argumentos válidos, para solapar a paciência, a ética, o respeito e o espírito democrático daqueles que resolveram que pensar é melhor do que entregar seus preguiçosos cérebros ao comando de ideologias dogmáticas e deturpadores da realidade.
E tudo isso insuflado por pseudo lideranças que são capazes de tudo e “fazem qualquer coisa” para não perder eleições. E o limite desse “qualquer” aparecem todas as manhãs nos noticiários, com novas siglas, mas com os mesmo e previsíveis atores.
Para esses indivíduos, quanto mais rasteiro for o ambiente do debate e quanto mais desprovido de inteligência, melhor.
Veja as soluções que eles trazem para os problemas sociais, sempre nivelando por baixo. Perseguir um projeto de excelência, nem pensar.
Chirivino
Caro Chirivino,
ExcluirConcordo plenamente com tudo o que você diz.
Só que eu me coloco na posição da maioria dos senadores que, no dia da votação do impeachment, vão votar a favor da saída de Dilma.
Ou seja, para que vão ficar batendo boca com Gleise Hoffmann, o Lindberg Farias e outros fósseis de outras eras políticas ?
O que importa mesmo é o voto.
Por isso, deixei de assistir a esses debates chatos e irritantes.
Não vou perder meu precioso tempo com esse tipo de coisa.
Mas estarei com os ouvidos atentos e os olhos abertos no dia da votação do impeachment.
Isso é o que importa.
Sejamos objetivos.
Abração
Adaí Rosembak