Em complementação ao artigo “Uma
visita ao Império do Centro”, de 05.04.2015,neste blog, reproduzo adiante a admirável nota “Fim de
uma era”, de Paulo Nogueira Batista Júnior, publicada no O Globo, edição de
01.05.2015.
O articulista Paulo Nogueira Batista Jr. expõe, de forma resumida porém
muito objetiva, a atual projeção da
China, da Índia e da Ásia de forma geral, no mundo contemporâneo.
É uma leitura que ,certamente , agradará
aos leitores interessados no tema
China bem como a estudiosos do papel daquele país no cenário internacional.
Adaí Rosembak
Associado da AAFBB, ANABB, AFABB-RS e ANAPLAB
Fim de uma
era
Escrevo da
China, onde estou para apresentar conferência no Instituto de Finanças de
Xangai sobre os BRICS e a governança econômica global. Xangai faz jus à fama que tem. É uma cidade
realmente impressionante, leitor. Deixa Nova York para trás. Manhattan é século
20; Xangai, século 21. A imponência do centro financeiro de Xangai, no distrito
de Pudong, é talvez o sinal mais marcante do poderio crescente da China.
Por suposto,
a China é ainda um país em desenvolvimento – e isso se nota claramente mesmo
naquela que é a sua maior e mais dinâmica cidade. Falta muito para que o país
alcance o nível de desenvolvimento dos EUA ou da Europa.
E, no
entanto, acumulam-se os sinais de que estamos chegando ao fim de uma era: o
dinamismo econômico e o poder político se deslocam mais e mais para esta parte
do mundo. O Ocidente resiste a reconhecê-lo, luta para manter a sua preeminência
e lança mão dos seus inúmeros recursos políticos, econômicos e culturais para
retardar o processo. Mas o eixo do poder global está mudando. Cresce o peso
relativo dos países de economia emergente – e entre estes se destacam os
asiáticos, notadamente a China e a Índia.
China e Índia
são civilizações milenares, mais antigas e mais sofisticadas do que a
civilização ocidental. Da China já se disse que ela é “uma civilização se
fazendo passar por Estado-nação”. Essas duas civilizações milenares sofreram o
impacto devastador do imperialismo ocidental – a Índia no século 18, a China,
no século 19. Toda a sua sofisticação, sutileza e riqueza material e cultural
não as prepararam para a investida dos “bárbaros europeus” – a Inglaterra à
frente. Particularmente depois da Revolução Industrial, abriu-se uma vantagem
tecnológica a militar que deu condições para que a Europa e, depois, os EUA
passassem a dar as cartas em todos os cantos do planeta.
Da ótica de
uma civilização milenar como a China, a era da hegemonia do Ocidente foi um
intervalo relativamente curto – com apogeu entre meados do século 19 e o final
do século 20.
Passou. Foi
um verdadeiro pesadelo – para a China, assim como para boa parte do mundo. Na
história chinesa, os cem anos entre a Guerra do Ópio e o fim da Segunda Guerra
Mundial foram uma longa e humilhante
provação, cujas marcas persistem até hoje. Mas a China sobreviveu à intensa
turbulência e a sua ascensão na segunda metade do século 20 e, sobretudo, nas
décadas recentes pode ser vista como um processo pelo qual o país retomou, com
sucesso, a posição que perdeu em meados do século 19: a de grande potência,
capaz de atuar com orgulho e independência, sem se sujeitar a interferências e
interesses estrangeiros.
Com uma
diferença importante, porém. A China imperial era
introvertida e não atuava além das suas fronteiras e da sua periferia imediata
no Leste da Ásia. A China de hoje, para desespero do Ocidente, em particular
dos EUA, é um ator cada vez mais global
e se faz presente em todos os cantos do planeta.
Paulo
Nogueira Batista Jr. É economista e diretor-executivo pelo Brasil e mais dez
países no Fundo Monetário Internacional, mas expressa os seus pontos de vista
em caráter pessoal.
Gostei muito do artigo de Paulo Nogueira Batista Jr. Estamos, realmente, no início de uma nova era.
ResponderExcluirObrigado.
Caro Arildo Pacello,
ExcluirO depoimento de Paulo Nogueira Batista Júnior é muito esclarecedor.
A propósito leia meu artigo "Uma visita ao Império do Centro".
Sem querer desmerecer o trabalho de Paulo Nogueira Batista Júnior procurei dar uma visão mais ampla sobre o assunto.
Só que ficou quase um livro.
Um abração
Adaí Rosembak