domingo, 5 de junho de 2016

TEMPOS DE MUDANÇA

Estava tranquilo tomando uma cervejinha e lendo meu jornal.
Um rapaz na mesa ao lado, que tinha a idade de ser meu filho, sem eu pedir sua opinião, perguntou-me porque eu lia um jornal reacionário como O Globo, que defendia o “Golpe”.
A primeira reação foi de revolta à invasão de minha privacidade.
Não é aceitável que, em um ambiente democrático como o que estamos vivendo, sejamos importunados por patrulhamentos ideológicos. Nunca me atreveria a ter essa atitude com nenhuma pessoa que estivesse lendo sobre qual fosse o assunto de sua preferência.
Mas como fui um esquerdista radical em minha juventude, aceitei sua provocação, pois compreendo a angústia por transformações rápidas e o espírito contestador da juventude.
Normalmente os jovens são os maiores defensores de ideologias extremistas, sejam de que nuance forem, direita, esquerda ou de outras linhas políticas radicais, que propõem mudar o mundo do dia para a noite.
E é natural que assim o seja. Querem transformar o mundo, implantar novos modelos de sociedade, e querem acabar com a desigualdade social e econômica num estalar de dedos. 
Todos querem essas mudanças, só que a maturidade nos leva à compreensão de que elas devem ser processadas de forma gradual e respeitando o princípio da democracia.
O grande perigo para os jovens surge quando, em razão da impetuosidade própria da idade, transpõem a tênue linha que separa o pensamento da ação, e mergulham no mundo negro do terrorismo, como aconteceu com parte da juventude no Brasil após a Revolução de 1964, e hoje ocorre com o radicalismo islâmico.
O idealismo romantizado e infantilizado da esquerda, na sua procura afogueada por uma sociedade mais justa, que Lenin, muito propriamente, chamava de “doença infantil do comunismo”, não tinha nada a ver com a construção do “homo sovieticus”, no período do stalinismo.
Esse foi um processo sanguinário que, para formar um novo tipo de homem e modelar um novo tipo de sociedade tendo como base a ditadura do proletariado, dentro da concepção marxista, sacrificou dezenas de milhões de pessoas.
Somente em expurgos internos na década de 30, no Grande Expurgo de Stálin, na ex-URSS, calcula-se que 25 milhões de pessoas foram assassinadas.
Se contar com os mortos na I e II guerras mundiais, esse número ultrapassa 70 milhões de vidas.
O mais trágico de todo esse processo foi que, depois de tanta mortandade e tanto sangue derramado, a URSS implodiu na década de 90. Até hoje a Rússia, que é a sucessora da ex-URSS, não conseguiu reconstruir um novo sistema capitalista apto a competir e sobreviver em um mundo de economia globalizada.
A propósito, recomendo aos que queiram se aprofundar no assunto, que leiam a excelente obra “O Fim do Homem Soviético”, da autora russa Svetlana Aleksievitch, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 2015.
Embora nunca tenha sido um admirador de Che Guevara (não aprecio assassinos não importa a causa que defendam), existe um pensamento de sua autoria que se encaixa nesse contexto:
“Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética. ”
Mas existe outra máxima de Helder Sena de Sousa, que considero mais realista para os tempos que estamos vivendo:
“ O erro, na juventude, é um aprendizado; na maturidade, é uma preocupação e, na velhice, é uma catástrofe. ”
Fico abismado com o comportamento do segmento de líderes políticos respeitados da esquerda do país, que são pessoas idosas, experientes e de cabelos encanecidos, cujos erros, como bem define Helder Sena, não são mais meros aprendizados da juventude e sim catástrofes da velhice.
Esses políticos, com certeza, já estudaram, leram, e muitos até já vivenciaram as crises que se abateram sobre países que enveredaram por radicalismos ideológicos na condução de seus governos.
Na América do Sul, o exemplo mais claro dessa debacle é a Venezuela.
Por isso, o que tenho dificuldade de aceitar nesse processo pelo qual estamos passando, é a incapacidade desses líderes da esquerda no país e, ressalto, não só do PT, de não enxergarem ou, o que é pior, não quererem ver a realidade que foi a catástrofe dos governos do PT, principalmente dos dois últimos governos de Dilma Rousseff.
Será que não leem sobre o desemprego, que chega a 12 milhões de pessoas em razão da crise econômica que o país passa, e que foi causado pela política do PT?   Será que é por desfrutarem de benesses e de cargos bem remunerados, em razão de serem políticos e, portanto, não sentirem na pele o peso de suas decisões equivocadas?
Porque não aceitam a votação da meta fiscal de R$ 170 bilhões para cobrir o buraco no orçamento causado por governo do PT?
Será que é porque ainda impera no PT o princípio marxista de “quanto pior melhor”, para atingirem seus objetivos?
Porque não reconhecem o mar de corrupção e caos administrativo durante os governos do PT, que arrasaram a Petrobrás, o sistema de energia do país e tantas outras áreas?
A Previdência social está quebrada. Idem a Educação e a Saúde.
Em vez de transformarem o país em um paraíso dos “trabalhadores”, criaram um estado falido, corrupto, desorganizado, pesado e ineficiente.
Hoje o Brasil é um país sem competitividade, que perdeu a atratividade de investimentos, que foi rebaixado por todas as agências internacionais de classificação de riscos, e que está na lanterna do crescimento em comparação com 31 outros países, atrás até da Rússia e da Grécia. 
Na América do Sul, só conseguimos ganhar da Venezuela em termos de desorganização econômica e social. 
Acusam o impeachment de Dilma Rousseff de ser um “golpe” tramado pelas elites.
Essa pecha não tem cabimento, pois foi com o apoio de grandes empreiteiras e de grupos financeiros, através de um sistema de corrupção colossal, nunca antes visto na história do país, que o PT conseguiu apoio para o partido e para sua base parlamentar no Congresso, para apoiar seus projetos políticos. Essa é a verdadeira “elite” que apoiou os governos do PT.
Para que não se pense que sou um fanático de direita porque só leria O Globo, como quis insinuar o jovem que me criticou pela minha opção de jornal, declaro que, para procurar entender a linha de pensamento dos líderes atuais da esquerda no país, vasculho constantemente sites da esquerda e do PT, blogs de petistas “chapa branca”,  analisei a “Resolução Sobre Conjuntura”, de 17.05.2016, elaborado pelo Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, e sou um leitor assíduo da revista Carta Capital, que é reconhecidamente uma revista de esquerda.
Após ler todos esses veículos de informação da esquerda, cada vez mais me pergunto se “a ficha ainda não caiu” para esses políticos e essa parcela da população, ainda iludida pela ideia falida de um socialismo tipo bolivariano, e pela ilusão de tirar o povo da miséria ao criar um universo de benefícios sociais, apoiado em pedaladas fiscais, ao invés de incrementar investimentos, promover o desenvolvimento, criar empregos e gerar riqueza.
Perdoem-me pela objetividade, mas isso parece coisa de burros. O burro, ao contrário do cavalo, quando empaca, não tem cristão que o faça andar. Quando morei na roça, os matutos tinham dois métodos bem eficazes para desempacarem um burro:  um era enfiar pimenta vermelha amassada no traseiro do animal; o outro era dar uma boa varada nos testículos do burro.
Longe de mim querer insinuar que, para mudar a cabeça de um comuna empedernido, que parece que perdeu a capacidade de raciocinar, eu esteja sugerindo que usemos algum dos métodos usados com os burros.  Mas, cá entre nós, discretamente, às vezes dá vontade de usar.
Apesar da discordância abissal de concepções políticas e ideológicas, quando converso com esquerdistas radicais, sinto um prazer extraordinário nos diálogos com jovens, que me levam a recordar meus tempos de adolescente, quando andava com livros de marxismo embaixo do braço, me julgava o “dono da verdade”, e tentava impor minhas teses contrárias aos “vermes capitalistas” e aos “imperialistas ianques”.
Mas quando ouço essa baboseira de respeitáveis senhores de pele já enrugada e cabelos brancos, confesso que até tenho dó.
Nesta altura da situação política, a melhor coisa que pode acontecer para a esquerda, é a perpetuação do Governo Temer no poder até as próximas eleições em 2018.
Se após 180 dias, o impeachment não for aprovado no Senado, e a presidente afastada Dilma Rousseff voltar ao Planalto, seu governo ficará completamente inviabilizado por falta de apoio no Congresso.
Nesse caso, o Brasil mergulhará de vez no buraco. Além de vir a ser uma catástrofe para o Brasil, será a desmoralização completa do PT, com a perda de todas as esperanças de voltar ao poder em 2018 pelo voto.
O que está acontecendo com a esquerda no país é, parafraseando um dito popular, que “ela ainda não caiu na real. ”
A “Resolução sobre Conjuntura” do Diretório Nacional do PT, de 17.05.2016, mais parece uma obra de ficção, tal o nível de dogmatismo radical, falta de visão política e irrealismo em relação ao que está acontecendo no Brasil.
As análises expostas na revista Carta Capital, repetem os mesmos discursos falidos de uma esquerda desfocada da realidade.
Reafirmam conceitos e teses superadas e inviáveis, e voltam a insistir em factóides, tal como o de que o impeachment é “golpe”, quando de fato foi um processo que seguiu um ordenamento jurídico ditado pelo STF, e que foi votado por ambas as Casas no Congresso. O mesmo ocorre quando repetem que a Presidente Dilma não cometeu crimes. Seus crimes foram caracterizados pelas pedaladas fiscais, e por outras irregularidades que ainda estão sendo apuradas.
Isso tudo é uma constatação de que o PT e as demais forças de esquerda ainda estão tontas depois do nocaute político.
Pelo visto, lamentavelmente, ainda demorará muito até essas forças se reorganizarem, amadurecerem sua visão política sobre o novo rumo revolucionário que o país tomou, e se reestruturarem para exercerem seu vital papel de oposição, para o equilíbrio de forças dentro do Congresso Nacional.
Reitero o que já escrevi em notas anteriores. 
A oposição e o contraditório são fundamentais dentro do Congresso, para que cheguemos a soluções equilibradas e viáveis para o bem do Brasil.
Unanimidade só existe em ditaduras.
Não é por outra razão que Nicolás Maduro declarou, em 17.05.2016, que a Assembleia Nacional sumirá em breve na Venezuela.
As forças dessa nova oposição, não necessariamente só do PT, mas englobando matizes de diversas correntes políticas, contam com quadros de altíssimo valor.
Como exemplos, entre muitos outros, cito o Senador Cristovam Buarque (PPS-DF), Senadora Ana Amélia (PP-RS), Paulo Bauer (PSDB-SC), Paulo Paim (PT-RS), Magno Malta (PR-ES), Marta Suplicy (PMDB-SP), Fernando Haddad (PT-SP) e Tarso Jeressaite (PSDB-CE).
Muitos poderão perguntar: “Mas que oposição seria essa?  Você misturou tudo. Parece uma salada russa. ”
É isso mesmo. O que importa é que sejam pessoas sérias, experientes e que não sejam investigadas por nada. Seria o time dos sonhos.
Além disso, torcemos para que surjam novos líderes políticos desapegados de radicalismos políticos, e com uma visão arejada voltada para o futuro, em prol do progresso do Brasil e do bem-estar do povo.
Quanto mais cedo essas forças de oposição se reestruturarem melhor será para o país.
ADAÍ  ROSEMBAK
Associado da AAFBB, ANABB, AFABB-RS e ANAPLAB
P.S.: Acessem o Blog “MUNDOEMMUTACAO.BLOGSPOT.COM”, administrado por este articulista e leiam o artigo “O IMPÉRIO DA JUSTIÇA”, que aborda de forma realista o papel do Poder Judiciário na atual conjuntura por que passa o Brasil.

12 comentários:

  1. Ô Adai, até achei interessante todo comentário que escreveu a respeito da esquerda e das participações de jovens, adultos e idosos, segundos suas peculiaridades. Mas algo me chocou quando você diz que a melhor coisa que acontecerá à esquerda e a permanência do Temer até às eleições de 2018 - pode até ser o melhor para a esquerda, mas jamais será o melhor para o Brasil e para o povo brasileiro - afinal o Temer esteve com o PT o tempo todo e tem conhecimento de tudo que estava acontecendo e nada fez para abortar e, agora, já começa batendo palmas para a aprovação do aumento para os 3 poderes que vai consumir os bilhões de nossos recursos inexistente para a Educação e Saúde.

    É apenas um detalhe. Abrs.

    Pedrito

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    1. Pedrito Fabis,

      Tenho admiração por você.
      Você é uma pessoa muito participativa e aguerrida na defesa de nossos interesses.
      Vamos à resposta às suas colocações.
      O Temer sempre esteve ao lado da Dilma, afinal ele era o representante da base de apoio do PT no Governo. Ele era o Vice-Presidente.
      Mas a Dilma é que era a Presidente. Ela é que mandava. E mandava mal. Como era (ainda é) uma anti-política, agressiva, mal-educada e despreparada para o exercício do cargo - como agora a esquerda reconhece - sempre o deixou de lado.
      Pior, o desprezava.
      Agiu por sua própria conta e risco. O Temer não podia fazer nada. Afinal de contas ela era (ainda é) a presidente.
      Quanto a esse aumento para os 3 poderes, cabe frisar que foi concedido pela Dilma como uma forma de fritar o Temer. Ele não tinha outra saída. Teve de engolir essa pílula para não entrar em guerra com o Judiciário e o resto das categorias que foram agraciadas com o aumento.
      Coisas da política.
      Concordo com você que também é dinheiro que poderia ir para a Educação e Saúde. Mais uma coisinha para acrescentar à folha corrida de Dilma Rousseff.
      Mas tenho fé que sairemos desse buraco em que ela nos colocou.
      Dilma NUNCA MAIS !!! Vamos ver se o Senado não vai nos pegar uma armadilha quando da votação final do impeachment.

      Abração

      Adaí Rosembak

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  2. Querido Adaí, como você pode escrever tanta coisa contra o partido e o governo que tirou tantos
    R$ milhões da pobreza. Muito bem escrito. Dá-lhes pimenta moída e mão de pilão. Sou José Citeli do blog Caos e Ordem.

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    1. Caro José Citeli,

      Não sei a sua idade.
      Mas qual é a lógica de criar mais de 50 milhões de dependente de "bolsas! de toda a ordem e não lhes dar emprego ? O comunismo russo, bolivariano, ou qual seja ele, é muito bonitinho na teoria mas na prática é isso aí.
      Quebraram a URSS, a Venezuela com a maior reserva petrolífera do planeta está a beira de uma guerra civil, o Brasil está falido, e está tudo certo?
      Pense e se achar que depois ainda continua certo siga em frente em direção ao abismo.
      Fiquei curioso com o seu blog. Vou acessar.

      Abraços

      Adaí Rosembak

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  3. Olá Adaí, com grande surpresa e alegria encontrei o nome do PEDRITO FÁBIS aqui no seu blog. Há mais de 50 anos convivi com o Pedrito na cidade de Pirajuí. Parece que reside em Campinas, eu resido em Limeira, gostaria muito de restabelecer contato. Meu telefone é
    19-3442-2405, ou 19-99738-7762.

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    1. Caro Anônimo,

      O Pedrito Alves é uma pessoa muito ativa na defesa de nossas causas.
      Ele sempre manda comentários para os artigos que lanço neste blog.
      Não tenho o e-mail nem telefones dele.
      Mas certamente ele lerá seu comentário e telefonará para você.
      Depois me comunique se ele entrou em contato com você.
      Ficarei muito feliz em ter ajudado nesse reencontro de antigos colegas.

      Um abração

      Adaí Rosembak

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  4. Boa noite Adai.
    Desde que citada a fonte, você permite a inclusão de seu comentário no meu Facebook?
    Obrigado

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    1. Caro Anônimo,

      A partir do momento em que publiquei essa nota ela está liberada para reprodução. è importante que você cite a fonte.

      Abração

      Adaí Rosembak

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  5. Fico muito grato por sua atenção. Certamente vou te manter informado sobre nosso reencontro. abração

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    1. O.K.
      Ficarei feliz que você reencontrou o Pedrito Fábis.

      Abração

      Adaí Rosembak

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  6. Meu querido Adaí, consegui o telefone do Pedrito e já batemos um bom papo. Agora falta encontrá-lo pessoalmente em Campinas, que dista apenas 50 km. de Limeira, onde estou residindo. abração

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    1. Caro Anônimo,

      Ótimo. Quando tiver o telefone do Pedrito Alves me informe.
      Terei muito prazer em conversar com ele.

      Abração

      Adaí Rosembak

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